SERGIO BARRA
Elevar os juros ajuda a conter a inflação? O tema virou questão crucial para o bom desempenho da economia brasileira ante a crise inflacionária global. A pressão inflacionária provocada pelo aquecimento da economia e o conseqüente aumento de consumo são apontados como justificativas de uma alta da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada no final da primeira quinzena de abril.
Para quem defende o aumento dos juros, a grita se intensificou depois que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que baliza a meta de inflação, atingiu 4,73% em 12 meses, o maior em dois anos. A meta do governo estabelece 4,5%. Especialistas afirmam que o governo precisa "esfriar" o ritmo de expansão da economia como única arma para barrar o fantasma da alta de preços.
Agora, se existe um assunto capaz de tirar o sono do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é a possibilidade de um retorno da inflação. Para exorcizar esse fantasma, Nosso Guia aceita até ingerir remédios amargos, condenados pela maioria dos economistas que o acompanharam ao longo da carreira e hoje ocupam postos-chave no governo. Foi o caso do aumento da taxa básica de juros, a Selic, que o Copom voltou a aplicar na semana passada, depois de deixar o medicamento dois anos na prateleira. A dose reforçada, de 0,5 ponto porcentual, levou os juros básicos da economia a 11,75% ao ano, uma das maiores taxas do mundo.
No Brasil de verdade, a oposição está diante de uma montanha de obstáculos. Quem apanha todo dia, nos discursos no Congresso e nas notícias, é o governo (é assim desde sempre), mas quem vive uma crise profunda, de identidade inclusive, é a oposição. Fora do poder há cinco anos, PSDB e DEM viram aliados aderir a Lula, perderam as bases eleitorais no Nordeste e precisam defender, nas eleições municipais, as grandes cidades do Sul e do Sudeste que estão sob seu comando.
Recentemente, oito cardeais do PSDB e do DEM reuniram-se em São Paulo, para discutir os rumos da oposição. Do que transpirou do encontro, falaram tanto mal do governo quanto uns dos outros. Segundo o relato oficial, concluíram que o PT é o adversário a ser derrotado nas eleições de 2010. Agora, é bom avisar, porque nem parece. Os dois únicos políticos da oposição em condições de levar a tarefa adiante - José Serra e Aécio Neves - não estavam na reunião. Isso dá a medida da distância entre intenção e realidade.
O mundo da oposição tem-se resumido à Corte, onde sustenta contra o governo uma guerra de desgaste na trincheira do Senado. Graças à contribuição de muitos erros do Planalto e da agremiação partidária do Nosso Guia, vem obtendo relativo sucesso nesse terreno. Chegou a impor uma grande derrota a Lula em dezembro, na votação que acabou com a cobrança da CPMF.
Será que a vida seria mais fácil para a oposição se o Brasil fosse como uma imensa Portelinha. Ricardo Amaral comenta em sua coluna na revista Época: "Na favela da televisão, ninguém deve nada ao governo, nem mesmo a ONG da Condessa. Os pobres pedem favores ao manda-chuva Juvenal Antena, e não se fala em Bolsa-Família. O cuca Bernardinho montou seu restaurante sem a ajuda do crédito consignado ou de bancos oficiais. A universidade particular de dona Branca recebe dinheiro de beneméritos e não dá bolsas do ProUni. Lá bandido é bandido e deputado é mocinho". Na favela que a Vênus Platinada exibe, não existem os obstáculos que o PSDB e DEM não conseguem transpor na vida real.
Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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