domingo, 27 de abril de 2008

Bebê morre após ir a três hospitais


No AMAZÔNIA:

Duas crianças, uma de 11 anos e outra de 29 dias, sofreram com o drama da falta de leito em hospitais de Belém e Marituba. A primeira, um menino de 11 anos, passou quatro horas dentro de uma ambulância até conseguir receber atendimento no Hospital Universitário João de Barros Barreto; a outra, de 29 dias de vida, morreu em uma clínica particular depois de peregrinar por três hospitais públicos, sem receber atendimento.
Depois de passar mais de cinco horas com a neta no colo, tentando fazer com que ela recebesse atendimento na Santa Casa e nos dois hospitais de pronto-socorro de Belém, a diarista Nazaré do Socorro Santos dos Anjos, moradora do bairro do Jurunas, teve que se conformar com o pior. A menina, que completava ontem 29 dias de vida, morreu sem receber nenhum atendimento médico, depois de horas de agonia e de muito protesto na porta dos hospitais.
A via-crúcis da recém-nascida Joele Vitória Souza dos Anjos começou na manhã do sábado quando a mãe da criança, a adolescente J. S., de 16 anos, tentou dar de mamar à filha e percebeu que ela não se mexia. Assustada, a adolescente alertou a família, e decidiu levar a criança ao Hospital Santa Casa de Misericórdia, onde o bebê nasceu no fim do mês de março. 'Nós fomos de ônibus daqui do Jurunas para a Santa Casa, com a minha neta no colo. No Hospital, antes de examinar, a enfermeira perguntou há quantos dias ela tinha nascido, como se isso importasse alguma coisa. Ela se recusou a internar a menina porque ela tinha 29 dias de vida, um a mais do que o máximo de dias permitidos para a internação, e nos encaminhou para o Pronto-Socorro da 14' conta, indignada, a avó.
A família decidiu ir até o outro hospital, mas ouviu a segunda recusa. 'Eles nem sequer examinaram a Joele. Alegaram que não tinham como atender, que estava tudo lotado e que lá dentro tinha gente com catapora e que a menina podia ser contaminada'. No PSM do Guamá, a família ouviu, pela terceira vez, o não, e as mesmas desculpas.
'Fiz um escândalo lá na frente. Minha neta estava morrendo e eles não deixaram nem a gente entrar. Eu fiquei desesperada. Uma mãe, na frente do PSM do Guamá falou pra gente tentar ir na Clínica Pediátrica do Pará (CPP), mas quando nós chegamos lá, a Joele já estava morta', lamenta a avó.
A médica que atendeu a menina Joele na clínica especializada em pediatria, no centro de Belém, Sandra Reis, informou que o estado da criança quando os pais a trouxeram, por volta de 13h30, era muito grave. 'Ela já chegou em parada cárdio-respiratória e sem pulsação. Na mesma hora tentamos reanimá-la, colocando oxigênio, mas vinte minutos depois constatamos o óbito. Já não dava pra fazer nada, era um bebê prematuro e muito frágil, filho de uma mãe adolescente, que tinha passado mais de 10 dias na incubadora da Santa Casa', relatou a médica.
A família registrou o falecimento da menina Joele na Seccional da Cremação ainda no início da tarde. No registro, consta a reclamação da omissão do atendimento dos três hospitais para onde a criança foi levada antes de falecer. 'Se a Joele fosse atendida na Santa Casa logo cedo, ela com certeza estaria viva. Ela morreu por conta da demora. Quando conseguimos que uma médica examinasse, não dava mais tempo de salvar' lamenta a avó. Por volta de 17h o corpo da menina foi removido por uma equipe do Instituto Médico legal. A reportagem do jornal Amazônia tentou entrar em contato com a direção do hospital Santa Casa de Misericórdia por telefone, mas até o fechamento desta edição, ninguém atendeu.

Peregrinação a quatro hospitais até ser internado
A família do menino Rianon Faria Junior, de 11 anos, também sofreu, na manhã de sábado, para conseguir que ele recebesse atendimento. Rianon começou a passar mal na noite de sexta-feira, depois de uma semana sentindo dores no pé. No último domingo (20), o menino se machucou em um prego enferrujado no quintal de casa, mas não foi levado a um médico porque a família acreditou que o ferimento não era grave. 'Quando nós acordamos no sábado, ele me chamou, dizendo que não estava conseguindo sentir a perna machucada, e que estava com muita dor na coluna. Eu fiquei muito preocupada, e decidimos levar ele ao hospital de Marituba. Lá, os médicos constataram que ele estava com tétano e nos encaminharam para o PSM do Guamá', contou a mãe do menino, Alaíde Pereira Oliveira.
Rianon foi trazido na ambulância da prefeitura de Marituba, mas não conseguiu passar do portão do PSM do Guamá. Segundo a família, o funcionário que fica na portaria do hospital alegou que não havia leito disponível para atender o garoto. 'Eles nos mandaram para o PSM da 14, onde também não conseguimos atendimento'. Por último, o menino foi encaminhado para Hospital Universitário João de Barros Barreto, onde Rianon foi internado. Segindo a mãe dela, a internação só aconteceu depois que ela ameaçou chamar a imprensa.

Um comentário:

Renato disse...

Lamentável!
Enquanto isso todos há mais de um mes, se chocam com a morte da menina Isabella em São Paulo.
Diariamente, quantos brasileirinhos morrem nas filas dos hospitais, morrem de fome ou de doenças de causas evitáveis como essas duas?
E, ninguém se choca.