Por Tobias Buck, do "Financial Times"
Os líderes encarregados de dirigir o assalto israelense a Gaza travam uma batalha em duas frentes. Uma delas fica ao sul do país, onde caças fustigam Gaza. A outra percorre o gabinete israelense, onde eles tentam extrair a máxima vantagem política do conflito antes da eleição geral de 10 de fevereiro.
As disputas internas são exacerbadas pela química péssima entre o premiê, Ehud Olmert, o ministro da Defesa, Ehud Barak, e a ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni.
Barak, líder do Partido Trabalhista, de centro-esquerda, e Livni, líder do partido centrista Kadima, disputam a preferência de quase o mesmo grupo de eleitores na eleição.
Suas desavenças giram em torno de como pôr fim ao conflito. "Temos duas posições. Uma delas pede a "dissuasão pura" -ou seja, que devemos golpear o Hamas até atingirmos um número suficiente de alvos, e então devemos parar e avisar o Hamas que, se ele não parar de disparar foguetes, vamos retornar e golpeá-lo ainda mais duro", explicou um alto funcionário israelense.
Segundo ele, "a segunda ideia é não pararmos até algum tipo de acordo que conte com apoio internacional e garanta monitoramento ou outras garantias para reduzir os ataques do Hamas". "Tzipi Livni é a favor da dissuasão pura. Ehud Barak defende a abordagem internacional", acrescentou.
O premiê, que vai se afastar do poder após a eleição para combater acusações de corrupção, pode não ter nada a ganhar em termos eleitorais. Mas nutre pouco afeto por seus dois ministros mais importantes, que o pressionaram pela renúncia.
Shlomo Avineri, professor de ciência política na Universidade Hebraica, acredita que as disputas vão ser vistas como de monta menor, comparadas às manobras políticas quando os canhões silenciarem. "Qualquer sucesso na guerra -seja o que for que isso significa- vai fortalecer o Kadima e os trabalhistas, e tanto Barak quando Livni vão tentar garantir que esse sucesso seja atribuído a eles."
Se a guerra for vista como fracasso, porém, os dois competirão para eximir-se de culpa, prevê Avineri. Isso deixaria o ex-premiê Byniamin Netanyahu, líder do partido Likud, de direita, como o grande vencedor político da guerra contra Gaza.
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Artigo disponível na “Folha de S.Paulo”
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