sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Polícia diz que nada pode fazer diante de ação repentina

No AMAZÔNIA:

A figura do 'assaltante de comportamento repentino' é a mais recente desculpa do governo estadual para explicar a onda de violência que avança sobre a Região Metropolitana de Belém. O termo, que substitui com vantagem a expressão 'sensação de insegurança' - que já foi tão ridicularizada, porque é mesmo grotesca - pelos que hoje estão abrigados no poder, é ainda mais disparatado. Quer dizer, em palavras simples, que os agentes de Segurança Pública são incapazes de brecar certos crimes porque é impossível prever quando e como os autores das tragédias vão agir. Mas é claro: conforme as palavras do secretário de Segurança Pública, Geraldo Araújo, se um bandido está passando em local e decide que vai assaltar, paciência. Ele assalta e pronto. O que a polícia pode fazer? Nada. É a palavra da maior autoridade no setor o Estado.
O cidadão comum, que nada entende de segurança pública, fica a se perguntar: se houvesse policiamento rotineiro e ostensivo nas ruas, sobretudo perto de tradicionais alvos de assalto, como bancos, supermercados, farmácias e escolas, os dois bandidos que decidiram, num 'comportamento repentino', assaltar uma farmácia do Umarizal, ontem, teriam consumado o crime? A polícia chegou, sim, mas depois que foi chamada por testemunhas, e saiu em perseguição à dupla, atirando. O chamado 'tempo-resposta', alardeado pelo secretário, entre o assalto, a morte do procurador que estava perto da farmácia, a morte de um dos ladrões e a prisão de outro, definitivamente não convence ninguém de que a violência está sob controle. Araújo, por exemplo, não expôs os números oficiais da pronta resposta policial que alardeia.
O cidadão de Belém espera medidas de segurança que incluam mais policiais nas ruas, sobretudo em áreas de risco, mas com condições de trabalho e não sem viatura ou telefone, como ocorreu até recentemente no posto de Polícia Comunitária que atende os prioritários bairros do Guamá e da Terra Firme; que previnam, de fato, crimes como as 'saidinhas', que tantas vidas tiraram de 2006 até hoje; e que impeçam, através de blitzen em ônibus e nas ruas visando à identificação de motoristas, motociclistas e até ciclistas armados, que balas disparadas por bandidos em fuga atinjam crianças. Medidas simples, que dispensam a elaboração, pela inteligência policial, de grandes pacotes antiviolência.
Políticas públicas integradas, como escreve a governadora Ana Júlia Carepa no Plano Segurança Cidadã, que nada mais é que o Plano Estadual de Segurança Pública, evidentemente são essenciais a um Estado que quer pavimentar um futuro de paz. 'A segurança deixou de ser considerada um simples caso de polícia para se tornar um sistema articulado com outras secretarias e com a comunidade. Passou a atuar em diversas frentes, prevenindo a criminalidade com ações nas áreas da educação, do esporte, da cultura, da capacitação profissional', diz a governadora, apresentando o plano. Na prática, a capital viu a implantação do Programa Segurança Cidadã nos bairros do Guamá e da Terra Firme, que controlou, nos primeiros dias, a criminalidade, e assistiu à migração de bandidos perigosos da área para locais mais periféricos, como o Aurá, um grande bolsão de miséria que padece da falta de tudo. E mais nada. A falta de polícia, ali, é apenas um detalhe. Onde estão as grandes ações sociais?
Ignorando o clamor coletivo por paz, o secretário de Ana Júlia teima em afirmar que a Segup está respondendo bem ao avanço da criminalidade. E inverte papéis, afirmando que só crimes que envolvem pessoas de classe média ou de renome causam grande repercussão, com se a culpa pela onda de violência fosse de quem a divulga. Essa desculpa só convence os que têm assento no Palácio dos Despachos.

Um comentário:

Anônimo disse...

É, também falta "comportamento-repentino" de:
- vergonha na cara das otoridades;
- governo assumir sua responsabilidade de hoje e deixar de culpar o ontem;
- aplicação dos rigores e não das benesses das leis aos bandidos;
- mais indignação do pacato cidadão; chega de acomodação.