domingo, 18 de janeiro de 2009

Plástica nas idéias


Já assisti por diversas vezes na mídia pessoas que vêm a público para denunciar médicos. Por quê? Porque se submeteram a tratamento cirúrgico na expectativa de conseguir determinado resultado, torraram muitas vezes uma fortuna e o resultado não foi o esperado, tendo que retornar para submeter-se a uma série interminável de cirurgias plásticas para - e pasme ou acredite se quiser - ficar mais bonita e assim manter o casamento.
Hoje, tanto a mulher como o homem sonham em fazer aquela lipo, dar aquela esticadinha nas ruguinhas da idade, arrumar as orelhas de abano, dar uma levantada no nariz. Mas, a vaidade ainda fala um pouco mais alta na mulher, que quer aumentar as mamas (seio é o espaço entre as duas mamas) e uma turbinada no bumbum e assim ficar - como se diz cientificamente no baile funk - uma verdadeira tchutchuca.
Vamos parar para pensar bem. Será que a plástica é para você? Seus objetivos com a cirurgia são apenas ficar mais bonita? Rejuvenescer? Manter o casamento? Fazer inveja naquela sua "amiga"? Mostrar que tem grana? Desfilar na Sapucaí ou entrar pro BBB?
Faça antes uma reflexão. Pense bem. Muitas pessoas recorrem à cirurgia plástica pensando que melhorar a cobertura vai fazer o recheio do bolo ficar mais gostoso. Isso é uma tremenda ilusão. Uma triste ilusão. Temos visto nas revistas eletrônicas verdadeiros monstros criados por bisturis assassinos.
Tem gente que dá tanta importância à aparência e se esmera com tamanho cuidado em cultivar o corpo que parece esgotar aí seus esforços e deixar em segundo plano as atenções ao interior, à essência, ao ser.
E tome cirurgia de redução de estômago, de correção facial, de implante de silicone, de anabolizantes, lipoaspiração, botox e uma série interminável de interferências que, realmente, fazem reparos consideráveis nas aparências cada vez mais vaidosas das pessoas. A isso vêm se somar as atividades físicas das academias com suas múltiplas ofertas que prometem corrigir e manter aquilo que a natureza nem sempre favoreceu. Aí, entram o spining, o pilates, as artes marciais e por aí afora.

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“Será que a plástica é para você? Seus objetivos com a cirurgia são apenas ficar mais bonita? Rejuvenescer? Manter o casamento? Fazer inveja naquela sua ‘amiga’? Mostrar que tem grana? Desfilar na Sapucaí ou entrar pro BBB?”
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A indústria da estética, sempre atenta às oportunidades, não perde a chance de oferecer produtos miraculosos de rejuvenescimento corporal, alimentação balanceada, prolongamento de vida das células, correções das mais diversas. Tudo para oferecer ao narcisismo do ser humano a ambicionada juventude permanente.
E tudo isto não é apenas com as pessoas que já alcançaram determinada idade em que os anos de vida deixaram marcas visíveis. Porque estes, pelo menos, querem manter aquilo que um dia tiveram; o problema é que cada vez mais os jovens estão entrando nesse frenesi de correções, cirurgias e interferências físicas, insatisfeitos não com as marcas adquiridas ao longo do tempo, mas com as que caracterizam seus traços genéticos.
É a criatura interferindo na criação estética de si mesma. Quase um quadro que, por sua obra e graça, interfere no traço do autor e altera por sua conta a forma como foi criada. Claro que tem muita gente que, por razões peculiares, tem mais que ter iniciativas corretivas. E outras, por necessidades profissionais ou por natureza íntima, o façam para ficar bem consigo mesmas.
Nada tenho contra a cirurgia plástica - que fique claro e evidente -, mas quando for submeter-se, escolha um bom cirurgião plástico. Não escolha um nome ao acaso. Converse com alguém que já tenha feito cirurgia estética. Pergunte como foi o atendimento. Quanto tempo e quantos pacientes foram indicados a esse cirurgião? Número de cirurgias realizadas. Compare com outros bons médicos do ramo, suas opiniões, condutas e honorários. Pergunte ainda se encaminharia um familiar dele a esse cirurgião. Enfim, o próximo passo é conferir se o médico recomendado tem especialização ou residência em cirurgia plástica e se pertence à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
O problema é que o número de cirurgias cresce cada vez mais, que fazem isso sem nem saber o porquê. Apenas por comparação aos outros, apenas porque está na moda, apenas porque tem muita gente fazendo. Apenas porque não sabem o que fazer para mudar a si mesmas. Pra essas, talvez, a melhor plástica não seja na estética, se bem que esta é mais fácil, porque é de natureza cirúrgica e mexe só com pele, células, tecido adiposo, músculos e ossos.
O que precisam mesmo é de uma plástica no juízo, que sejam capazes de melhorar não a aparência do corpo, mas a essência da percepção, da lucidez, da atitude, da consciência, do comportamento. O problema é que, para fazer plástica nas idéias, o bisturi não basta, é preciso modificar a cabeça, o coração, os sentimentos...

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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