domingo, 25 de janeiro de 2009
O glacial Guia dos Povos
Não tenho a pretensão de assumir que o título desse texto, seja o que vocês estão imaginando. Por fim, ele pode incitar a pressionar suas mentes, levando a acreditar que é realmente o que estão pensando. Há vários anos, pelo menos, bato na mesma tecla sem que tenha havido alguma mudança - e aí, vocês podem ficar instigados a dizer quanta pretensão deste escriba. Seguindo a metáfora, cadeira de primeiro-ministro não é trono de czar. Ainda que haja, como realmente há, muitos chefes de Estado que manipulam pessoas e com isso prejudicam milhões de cidadãos.
Chega de metáfora, e observem o mar de encrencas e hostilidades que o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, sempre tem para os povos que constituíam a extinta URSS. Ruim até debaixo da neve, aparece para provar que, contrariando os otimistas, continua hábil, se sobrepõe e a linguagem da força sempre tem a palavra final. Quem ainda não percebeu que o todo-poderoso Putin, desde que assumiu pela primeira vez o poder, mostrou ao mundo que é o legítimo legatário do Guia dos Povos?
Já virou uma espécie de tradição de Ano-Novo. Ah, será que é uma preparação para a Epifania? Em pleno inverno no Hemisfério Norte, quando a Europa se congela sob temperaturas vários graus abaixo de zero, a Rússia entra em conflito com a Ucrânia em torno de tarifas sobre o fornecimento de gás.
Ademais, a giganta energética russa Gazprom, embora diga que o conflito atual é puramente comercial, os verdadeiros motivos são políticos. O principal objetivo do Kremlin é evitar que a União Européia (UE) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) aceitem como membros a Geórgia e a Ucrânia.
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“Sem gás, europeus voltam à era da lenha para obter algum calor durante as gélidas madrugadas, o que faz recordar o período comunista, 20 anos atrás, após a queda da cortina de ferro.”
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Dia desses, parece que a Guerra Fria - aliás, toda guerra é uma fria - voltou a se instalar no mesmo local onde foi protagonizada a primeira, na Rússia. Esse gigante eslavo comandado pelo czar dos tempos modernos, que tem muita sede de poder e quer chamar a atenção punindo a Ucrânia e por tabela 17 países da Europa, que dependem do gás natural vindo pelo gasoduto russo, através da Ucrânia.
Em meio a uma disputa comercial envolvendo a estatal russa Gazprom e a sua equivalente ucraniana Naftogaz, vários países integrantes da UE tiveram de enfrentar o corte no fornecimento de gás natural utilizado para a calefação e a operação de plantas industriais. Exportado pelos russos, o gás passa pelo território ucraniano antes de chegar aos demais países consumidores, o que tem motivado, nos últimos anos, rusgas recorrentes por causa dos preços e das condições de fornecimento.
A Rússia exporta 25% do gás consumido pelos países da UE, e 80% desse total passa pela Ucrânia. Esse inverno rigoroso que castiga a Europa é considerado um dos mais severos dos últimos dez anos. As temperaturas glaciais já mataram mais de uma centena de pessoas e a crise deve piorar, pois não há gás para calefação.
A chamada região dos eslavos ocidentais (polacos, tchecos, eslovacos, lusácios) e os eslavos meridionais (búlgaros, sérvios, croatas e eslovenos) e o restante da Europa, principalmente Alemanha e Itália que consomem mais de 80% do gás que vem da Rússia. Algumas de suas cidades registram temperaturas que atingem a marca de até 30 graus negativos e levaram ao óbito moradores de rua e os bêbados do centro das cidades (coisas do Chico Buarque) que dormiam ao ar livre.
A falta do fornecimento de gás vem aumentando o temor de que os consumidores sofram as consequências desta crise num momento de temperaturas muito baixas. A Europa, já em recessão, e com as torneiras fechadas pela Rússia as empresas de gás da França e da Itália já reportavam quedas de 70% a 90%, apesar de garantirem o fornecimento aos seus clientes por mais alguns dias.
Estamos iniciando um ano que já está lotado de eventos trágicos. O conflito entre Israel e Palestinos está virando bumerangue político. A situação internacional depende do sucesso do pacote econômico do presidente dos EUA, Barack Obama, e de sua política externa. Sem gás, europeus voltam à era da lenha para obter algum calor durante as gélidas madrugadas, o que faz recordar o período comunista, 20 anos atrás, após a queda da cortina de ferro.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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