Em 2008 fizeram 60 anos da criação do Estado de Israel, acontecimento impulsionado pelo massacre de milhões de judeus pelo jugo da Alemanha nazista. Apoiado pelas nações vencedoras da II Guerra Mundial, homologado pela ONU, enfim um povo milenar e milenarmente perseguido conquistava um território para afincar sua cultura, sua língua, sua identidade, seus filhos. Foi um acontecimento humanista. Era irrelevante naquela altura se o Estado foi sustentado pelos norte-americanos, tanto pelo fortíssimo lobby de milionários semitas estadunidenses, remanescentes dos primeiros judeus que fugiram da Europa de Felipe II rumo à América, quanto por querer uma representação no meio de uma região dominada pelo nacionalismo árabe de intensas relações com os soviéticos. Quando os precursores da Liga Árabe organizaram a invasão a Israel, produzindo uma autêntica guerra de independência (pela qual aparentemente todo povo tem que passar para assegurar sua soberania), estavam corretos os que se solidarizaram aos judeus e equivocados os que corroboraram com a tese de destruir Israel.
No movimento sionista, haviam duas fortes vertentes. Uma, xenófoba, de matriz religiosa que fazia uma leitura conservadora do Torah, associada aos milionários de origem judia em todos os cantos do planeta, quase pregadores abertos da idéia de superioridade dos ancestrais israelitas sob o "argumento" de "povo de Deus". Outra, socialista, imaginou um Estado onde coubessem judeus e palestinos. Entendia "semita" não como sinônimo de "judeu", mas abarcando também os árabes de modo geral. Lia a Torah pelo que ela tinha de solidário, igualitário. Reivindicava a tradição coletivista da antiga economia judaica. Quando a primeira soterrou a segunda, terminava o sentido humanista que ergueu o fundamento moral que possibilitou o surgimento de Israel, pois desde então predominaram aqueles elementos ditos irrelevantes acima, quando no imediato pós-Holocausto. Israel virou um braço armado dos Estados Unidos na região, expandiu ilegalmente, do ponto de vista do direito internacional, suas fronteiras às custas do genocídio permanente e crescente do povo palestino. Para enfraquecer a atividade do nacionalismo e do socialismo da Palestina, fomentaram o fundamentalismo religioso que deu origem ao Hamas, à Jihad e grupos menores, da mesma forma que os Estados Unidos forjaram Bin Laden e a Al Qaeda na ânsia de derrotar de qualquer forma os russos no Afeganistão, na década de 80. Israel chegou mesmo a tentar desmoralizar Yasser Arafat e seu moderado Al Fatah. Isso já no governo de Ariel Sharon, pouco tempo antes da morte do líder palestino. Israel e Estados Unidos se desmoralizaram e fortaleceram a posição do fundamentalismo quando desrespeitaram os resultados legislativos da ALP que sagraram o Hamas vencedor. Ora, fizeram um povo que mal pode sustentar financeiramente um aparato governamental se auto-gerir com uma democracia liberal baseada nos padrões ocidentais, parlamentarista inclusive, e sequer foram capaz de respeitar as urnas. Se é verdade que ataques à população civil israelense através de homens-bomba é deplorável, é também verdade que eles são a única resistência deste povo e o método que usam é tão disseminado quando impulsionado por Israel na busca de enfraquecer os grupo nacionalistas e socialistas. É também verdade que não se compara o poderio militar israelense com o do fundamentalismo na região.
É também verdade que não se compara as mortes que produz a resistência palestina com as promovidas em escala toyotista pelo Estado Judeu. Mas não custa enfatizar que estamos aqui falando de mortes de mulheres, crianças, pais, avós, jovens que perdem suas vidas numa insanidade inédita que é uma invasão terrestre de Israel na faixa de Gaza. Não são estatísticas, são pessoas como nós, como nossos amigos, parentes, rebentos. Essa iniciativa vai, novamente, fortalecer o fundamentalismo e enfraquecer as soluções políticas, visto que violência em qualquer situação só gera mais violência. Isso pode ser bom para garantir que o partido da direita moderada vença as eleições, causa-mor da guerra. Pode ser bom para a indústria bélica americana. Mas, é péssimo para a humanidade, para os valores que mobilizaram as pessoas de bem, militantes de causas justas ao redor do planeta para apoiarem a criação de Israel há 60 anos. Por isso está correto o governo brasileiro quando deplora oficialmente a ocupação. É preciso dar fim a mais este massacre de palestinos. É preciso dar fim aos homens-bomba. É preciso respeitar as eleições em Israel e na Palestina, sem que as respectivas direitas se fortaleçam mediante o martírio dos civis dos dois povos. É preciso que cesse o culto aos mártires, pois estes são sempre o fruto da carnificina, seja dos tanques do Rei Davi ou dos que se dinamitam para combatê-los, cujo método - se dinamitar - substituiu a ação política quando Israel fez com a esquerda palestina o que fez com a sua. A invasão reflete um mundo sem liderança global. O mundo precisa de uma liderança urgentemente e mais que isso: uma liderança firme, diplomática e pacífica nos moldes do governo brasileiro. Uma Palestina sem mártires é o que o Oriente Médio precisa. É a palavra-de-ordem que deve ser bradada em alto e bom som nas praças do mundo inteiro.
* Carlos Bordalo é Deputado Estadual pelo PT e Membro Titular do Conselho de Segurança Pública do Estado do Pará - CONSEP
Um comentário:
Por uma Palestina sem mártires
Por Carlos Bordalo*
Em 2008 fizeram 60 anos da criação do Estado de Israel, acontecimento impulsionado pelo massacre de milhões de judeus pelo jugo da Alemanha nazista. Apoiado pelas nações vencedoras da II Guerra Mundial, homologado pela ONU, enfim um povo milenar e milenarmente perseguido conquistava um território para afincar sua cultura, sua língua, sua identidade, seus filhos. Foi um acontecimento humanista. Era irrelevante naquela altura se o Estado foi sustentado pelos norte-americanos, tanto pelo fortíssimo lobby de milionários semitas estadunidenses, remanescentes dos primeiros judeus que fugiram da Europa de Felipe II rumo à América, quanto por querer uma representação no meio de uma região dominada pelo nacionalismo árabe de intensas relações com os soviéticos. Quando os precursores da Liga Árabe organizaram a invasão a Israel, produzindo uma autêntica guerra de independência (pela qual aparentemente todo povo tem que passar para assegurar sua soberania), estavam corretos os que se solidarizaram aos judeus e equivocados os que corroboraram com a tese de destruir Israel.
No movimento sionista, haviam duas fortes vertentes. Uma, xenófoba, de matriz religiosa que fazia uma leitura conservadora do Torah, associada aos milionários de origem judia em todos os cantos do planeta, quase pregadores abertos da idéia de superioridade dos ancestrais israelitas sob o "argumento" de "povo de Deus". Outra, socialista, imaginou um Estado onde coubessem judeus e palestinos. Entendia "semita" não como sinônimo de "judeu", mas abarcando também os árabes de modo geral. Lia a Torah pelo que ela tinha de solidário, igualitário. Reivindicava a tradição coletivista da antiga economia judaica. Quando a primeira soterrou a segunda, terminava o sentido humanista que ergueu o fundamento moral que possibilitou o surgimento de Israel, pois desde então predominaram aqueles elementos ditos irrelevantes acima, quando no imediato pós-Holocausto. Israel virou um braço armado dos Estados Unidos na região, expandiu ilegalmente, do ponto de vista do direito internacional, suas fronteiras às custas do genocídio permanente e crescente do povo palestino. Para enfraquecer a atividade do nacionalismo e do socialismo da Palestina, fomentaram o fundamentalismo religioso que deu origem ao Hamas, à Jihad e grupos menores, da mesma forma que os Estados Unidos forjaram Bin Laden e a Al Qaeda na ânsia de derrotar de qualquer forma os russos no Afeganistão, na década de 80. Israel chegou mesmo a tentar desmoralizar Yasser Arafat e seu moderado Al Fatah. Isso já no governo de Ariel Sharon, pouco tempo antes da morte do líder palestino. Israel e Estados Unidos se desmoralizaram e fortaleceram a posição do fundamentalismo quando desrespeitaram os resultados legislativos da ALP que sagraram o Hamas vencedor. Ora, fizeram um povo que mal pode sustentar financeiramente um aparato governamental se auto-gerir com uma democracia liberal baseada nos padrões ocidentais, parlamentarista inclusive, e sequer foram capaz de respeitar as urnas. Se é verdade que ataques à população civil israelense através de homens-bomba é deplorável, é também verdade que eles são a única resistência deste povo e o método que usam é tão disseminado quando impulsionado por Israel na busca de enfraquecer os grupo nacionalistas e socialistas. É também verdade que não se compara o poderio militar israelense com o do fundamentalismo na região.
É também verdade que não se compara as mortes que produz a resistência palestina com as promovidas em escala toyotista pelo Estado Judeu. Mas não custa enfatizar que estamos aqui falando de mortes de mulheres, crianças, pais, avós, jovens que perdem suas vidas numa insanidade inédita que é uma invasão terrestre de Israel na faixa de Gaza. Não são estatísticas, são pessoas como nós, como nossos amigos, parentes, rebentos. Essa iniciativa vai, novamente, fortalecer o fundamentalismo e enfraquecer as soluções políticas, visto que violência em qualquer situação só gera mais violência. Isso pode ser bom para garantir que o partido da direita moderada vença as eleições, causa-mor da guerra. Pode ser bom para a indústria bélica americana. Mas, é péssimo para a humanidade, para os valores que mobilizaram as pessoas de bem, militantes de causas justas ao redor do planeta para apoiarem a criação de Israel há 60 anos. Por isso está correto o governo brasileiro quando deplora oficialmente a ocupação. É preciso dar fim a mais este massacre de palestinos. É preciso dar fim aos homens-bomba. É preciso respeitar as eleições em Israel e na Palestina, sem que as respectivas direitas se fortaleçam mediante o martírio dos civis dos dois povos. É preciso que cesse o culto aos mártires, pois estes são sempre o fruto da carnificina, seja dos tanques do Rei Davi ou dos que se dinamitam para combatê-los, cujo método - se dinamitar - substituiu a ação política quando Israel fez com a esquerda palestina o que fez com a sua. A invasão reflete um mundo sem liderança global. O mundo precisa de uma liderança urgentemente e mais que isso: uma liderança firme, diplomática e pacífica nos moldes do governo brasileiro. Uma Palestina sem mártires é o que o Oriente Médio precisa. É a palavra-de-ordem que deve ser bradada em alto e bom som nas praças do mundo inteiro.
* Carlos Bordalo é Deputado Estadual pelo PT e Membro Titular do Conselho de Segurança Pública do Estado do Pará - CONSEP
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