O bispo da prelazia de Marajó (PA), dom José Luiz Azcona, em depoimento prestado ontem à CPI da Pedofilia, na Assembléia Legislativa do Estado, reafirmou as denúncias feitas ainda em 2008, em entrevista coletiva na sede do Regional Norte 2 da CNBB, quanto a casos de violação de direitos humanos que envolvem mulheres, adolescentes e crianças, no arquipélago que fica ao norte do Estado. O religioso foi o primeiro a ser ouvido pela Comissão, em audiência aberta à sociedade. Depois de um longo relato sobre os casos por ele documentados, dom Azcona pediu para falar isoladamente com os membros da CPI.
Dom Azcona voltou a criticar duramente o Poder Público que, segundo ele, mesmo ciente da problemática na região, não toma as providências necessárias. Também fez duras críticas às autoridades policiais, coniventes com a situação. “No Marajó, foi descoberto um policial que fazia parte de uma quadrilha de tráfico humano, em que 178 mulheres, dentre elas menores, sendo 52 de Breves, foram enviadas para prostituição na Guiana Francesa”, disse o bispo.
Além deste, outros tantos casos foram relatados pelo religioso ao longo da manhã. “O Marajó é extremamente pobre e esquecido. Lá, não tem nenhum barco da Marinha, não tem controle policial. Os rios são rotas para o tráfico de madeiras, drogas e pessoas. A região precisa de algum controle, é um território de ninguém. Eu denuncio o descaso dos políticos com essa realidade, a conivência deles e também a corrupção”, reiterou o bispo. Segundo ele, o abandono da região é secular, mas o que se vê agora é o esfacelamento dos costumes e da ética na realidade contemporânea. “Isso contribui para que a exploração sexual aumente na área. As famílias estão se desintegrando. A necessidade de dinheiro da nossa sociedade faz as pessoas encararem qualquer coisa.
O corpo por um pouco de óleo diesel
Algumas meninas vendem o corpo por um pouco de óleo diesel com o consentimento da família. Outras, que estão em lares problemáticos, não aceitam a autoridade dos pais e fazem o mesmo”, explicou.
De acordo com dom Azcona, os clientes são as pessoas que costumam passar de barco ou nas balsas. Na região, o tráfego é muito intenso, tanto de pessoas como de mercadorias. Pelos rios, passam 75% dos produtos comercializados entre Belém e Macapá. “Os tripulantes, especialmente os que vão nas balsas, são homens. E eles encontram uma facilidade enorme de meninas e mulheres à disposição”, disse.
Além da exploração sexual e do tráfico de seres humanos, o bispo de Marajó lembrou que ele e outras pessoas, entre elas o bispo do Xingu (PA), dom Erwin Kräutler e o bispo de Abaetetuba, dom Flávio Giovenale, são ameaçados de morte. Dom Erwin sofre ameaças por causa da sua atuação junto aos povos indígenas, bem como pelo caso da irmã Dorothy Stang, assassinada em 2005. Já dom Flávio é perseguido por acompanhar o caso da menor que foi mantida presa com homens numa delegacia, em Abaetetuba.
Dom Azcona declarou que espera que esses e tantos outros casos que segundo ele vêm se agravando no interior do Estado, especificamente na ilha do Marajó, possam ser acompanhados com maior atenção e responsabilidades pelas autoridades.
Fonte: Assessoria Parlamentar
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