Na FOLHA DE S.PAULO:
Numa decisão surpreendente, o Banco Central anunciou ontem uma redução de um ponto percentual nos juros básicos da economia, que, a partir de hoje, passam para 12,75% ao ano, e informou que novos cortes devem ocorrer nos próximos meses. Foi a primeira redução da taxa Selic promovida pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC) desde setembro de 2007 e a maior, de uma única vez, desde novembro de 2003.
Em comunicado, porém, o BC tentou mostrar que, em meio a fortes pressões políticas, a decisão foi técnica e não coloca em risco o controle da inflação. "O Comitê [de Política Monetária] inicia um processo de flexibilização da política monetária, realizando de imediato parte relevante do movimento da taxa básica de juros, sem prejuízo para o cumprimento da meta de inflação."
Segundo a Folha apurou, os membros do Copom levaram em consideração o fato de a alta do dólar não ter sido repassada para os preços e que as expectativas de inflação do mercado convergem para a meta do governo.
Outro motivo foi o fato de a China estar reduzindo seus preços em dólar. Como o custo dos produtos chineses está caindo, os produtos importados da China estão chegando mais baratos ao Brasil, o que elimina o repasse da alta do dólar sobre os preços.
O Copom volta a se reunir nos dias 10 e 11 de março. Segundo o texto, a iniciativa de reduzir a Selic em um ponto percentual não foi unânime, com três de seus oito membros defendendo uma queda de 0,75 ponto. Prevaleceu, porém, a opinião da maioria.
Nas últimas semanas, as notícias de demissões em vários setores aumentaram a pressão do setor privado e do governo para que o BC reduzisse os juros. No mercado financeiro, a maioria das previsões apontava para um corte de 0,75 ponto percentual, embora entre empresários e sindicalistas as pressões fossem fortes para uma queda maior.
A redução anunciada ontem indica que o comportamento da economia de dezembro para cá surpreendeu negativamente o Copom. No mês passado, na última reunião do comitê em 2008, foi considerada a possibilidade de uma redução de 0,25 ponto na Selic. Naquela ocasião, porém, concluiu-se que as dúvidas em relação ao comportamento da inflação ainda recomendavam a manutenção dos juros, já que, embora reconhecesse que uma desaceleração estava em curso, o BC ainda não enxergava uma retração muito brusca do nível de atividade econômica.
De lá para cá, as projeções do mercado financeiro tanto para a inflação como para a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano sofreram reduções. Para o IPCA, a alta estimada para o mercado era de 5,2% no começo de dezembro e caiu, na semana passada, para 4,8% -mais próximo, portanto, dos 4,5% previstos pela meta do governo. A previsão de crescimento, por sua vez, caiu de 2,8% para 2,0%.
O efeito que a decisão de ontem terá sobre o custo do crédito, porém, ainda dependerá da estratégia a ser adotada pelas instituições financeiras, já que não necessariamente os bancos irão repassar toda a queda na Selic para os juros cobrados nos seus financiamentos.
Na hora de captar recursos no mercado, o setor bancário já consegue até pagar taxas mais baixas do que a própria Selic. Para operações com prazo de 360 dias, os juros praticados nos últimos dias têm oscilado entre 11,2% e 11,3% ao ano.
Quando vão repassar o dinheiro captado nessas operações para seus clientes, porém, os bancos cobram taxas mais altas. Essa diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada nos empréstimos concedidos ao setor privado - chamado "spread" bancário- tem sido um dos principais focos da disputa entre o governo e os bancos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário