sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O devedor de promessas


As eleições municipais/2008 deixaram um rastro de alegria e contentamento para alguns felizardos eleitos, mas também muitas frustrações e um montão de dívidas para outros menos favorecidos, os cabisbaixos derrotados, alguns abatidos pela própria soberba e presunção.
No interior do Estado, algumas poderosas oligarquias sofreram duro revés, como os Hage, em Almeirim, os Gomes, em Salinópolis e os Bandeira, em Breves, entre outras. Novas oligarquias surgiram, como os Martins, em Capanema. Outras ressurgiram das cinzas, como a dos Palheta, na Vigia. A novidade, no interior, foi a derrota de algumas dinastias pelos "doutores", uma nova classe emergente na política paraense. Tivemos doutores médicos eleitos em Salinópolis (Dr. Wagner), Tucumã (Dr. Celso) e em Bom Jesus do Tocantins (Dr. Sidney). As urnas, mesmo com resultados "contaminados" pela influência nefasta do poder econômico, ainda deixam lições exemplares. Em Belém, por exemplo, candidatos "exóticos" como Kaveira, Abdon, Gegê, Meio-Pão, Meio-Quilo e similares amargaram votações inexpressivas. Como alvíssaras, tivemos a eleição limpa e cristalina do bravo Cobrador Pregador. Sem grana, mas com muita gana, ele foi à luta e saiu vitorioso, pregando a Palavra de Deus nos ônibus, nas ruas e vielas do Guamá, de casa em casa, num corpo-a-corpo eleitoral diuturno e comovente, que marcou sua trajetória vitoriosa e abençoada.
Outros candidatos evangélicos "bem situados" economicamente e até apoiados pela hierarquia das igrejas naufragaram em um oceano de contradições, como a de misturar os "canais" da política com religião, "coisa feia" que, além de não ser do agrado do Senhor, o eleitorado repudiou claramente. O Cobrador Pregador, com sua vitória memorável, desmoralizou não só as pesquisas, para as quais era apenas um traço invisível, como também os "esquemas" dos caciques partidários e os efeitos especiais das milionárias campanhas de candidatos mais abonados, com o dinheiro público, quase sempre. Na verdade, a vitória brilhante do Cobrador Pregador, que abordamos em artigo da semana passada aqui neste blog, sinaliza que nem tudo está perdido, por representar (salvo melhor juízo do competente cientista político e distinto colega jornalista José Carneiro) um alento, um sopro de esperança de que a mudança desse processo eleitoral "carcomido" e "viciado" não só é preciso, como ainda é possível. Pelo voto de qualidade, não mais de cabresto ou de curral. Parodiando o grande bardo português, diria que se viver é preciso, sonhar também é preciso...
Falando em voto de qualidade, a disputa no segundo turno, em Belém, não é das mais estimulantes. De um lado, a mesmice enganadora de algumas obras inacabadas e outras tantas de R$ 1,99, como o asfalto eleitoreiro, além de novas promessas que repetem antigas promessas já feitas na campanha passada, mas não cumpridas, como as soluções para o transporte coletivo e para o trânsito neurótico/caótico da cidade, a abertura de novas vias, construção de novos hospitais, de novas escolas etc. e tal... De outro lado, o candidato do PMDB ("cacifado" pelo apoio de raposas felpudas de seu partido, de alguns "passistas" das diferentes alas do PT e de outros "socialistas" menos votados) se esforça para "passar" a imagem da renovação, de "incorporar" o verdadeiro espírito da mudança que a população da cidade tanto anseia. Pobre Belém! Pela indigência das opções "oferecidas" ao distinto público eleitor-contribuinte, em contraste com a abundância de promessas de palanque, o belenense corre sério risco de eleger, dia 26 de outubro, não um prefeito-estadista ou mesmo um gestor competente (que a cidade com enormes carências tanto reclama), mas um autêntico "Devedor de Promessas"... Mais um, entre tantos que se sucedem no horto, aliás, na "horta" municipal...

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FRANCISCO SIDOU é jornalista

Um comentário:

Anônimo disse...

É verdade, vero mesmo!
"O DEVEDOR DE PROMESSAS", assinado pelo Sidou (um dos mais brilhandtes cronistas dedicados ao jorjnalismo cidadã, nos nossos dias) é um retrato, "sem retoques" da "sinuca de bico" em que está metido o eleitor desta sofrida Belém. Para exercer o direito do voto, assumindo responsabilidade com o futuro da cidade, corre o risco de eleger um Devedor de Promessas ou um Vendedor de Ilusões (que poderão ou não ser realidades no futuro). Qual a melhor decisão? ... Eu, que entendo o direito do voto como dever de cidadania, e instrumento de comprometimento com o direito de cobrar seriedade dos que se comprometem com os interesses da sociedade, já tenho a minha opção. É esperar para ver, no próximo 26 de outubro.