O poster pediu a um leitor aqui do blog para que apontasse a razão, pelo menos uma – uma boa – para a derrota do candidato do PMDB à Prefeitura de Belém, José Priante.
A resposta foi tão direta quanto o pedido:
- A falta de votos. O Priante perdeu porque teve menos votos que o Duciomar, ora essa.
É claro, quem pergunta o que quer expõe-se ao risco de ouvir o que não; mas não é raro que ouça o que quer.
A resposta é inquestionável, clara, evidente e inapelável. É tão evidente e real quanto o fato de Duciomar Costa ser o prefeito reeleito de Belém desde o início da noite de domingo último.
Mas a resposta não esgota, em si mesma e por si mesma, as razões que podem explicar a vitória do candidato petebista.
Há razões outras. Há pelo menos oito razões que explicam isso. A elas, pois.
1. A vinculação com o nome de Jader
Priante perdeu porque foi inevitável, forte, intensa e decisiva a associação que se fez entre ele o deputado Jader Barbalho, presidente regional do PMDB. Associação? Mas que associação? A associação óbvia: a de que Priante seria um mero preposto dos interesses políticos da liderança maior de seu partido.
Durante a campanha, em várias ocasiões, em conversas informais com pessoas simples, que não têm a menor pretensão a analista político, o poster sempre ouvia algo assim – senão com estas palavras, mas com este sentido -, quando mencionava o nome de Priante:
- Priante? Priante, não. O Jader. O candidato mesmo é o Jader...
2. Luz própria de Priante foi apagada
A inevitável vinculação entre o candidato do PMDB e Jader, em desfavor das pretensões eleitorais do primeiro, conduziu a outro efeito que se disseminou com erva daninha e minou, em boa parte, a candidatura de Priante: a minimização do fato de que ele tem seu espaço político próprio.
Porque não se pode desconhecer que Priante tem trajetória política própria, tem eleitorado definido. Não começou na política este ano. Já foi vereador, deputado estadual e deputado federal em várias legislaturas. Ocupou funções de destaque numa das principais comissões da Câmara dos Deputados, a do orçamento. Seu eleitorado não se circunscreve a Belém. Estende-se a outras regiões do Estado, como por exemplo, na região do Baixo Amazonas, oeste do Pará.
Mesmo assim, diante de todas essas evidências, o eleitor deu pouca importância à experiência política para vincular-se mais ao fato das ligações partidárias entre Priante e Jader e, além disso, das ligações familiares entre ambos, que são primos.
3. O eleitor descredencia os acordos de cúpula
Priante perdeu porque está provado, comprovado e reafirmado que não apenas os caciques –maiores e menores - não transferem votos e, além disso, acordos de cúpula têm pouca influência na definição das preferências do eleitor.
Priante teve um apoio considerável, maciço, expressivo. Aderiram à sua candidatura, no segundo turno, nada menos de dez partidos. Além do PMDB, legenda com maior cacife eleitoral do Estado, apoiaram o candidato o PT de Mário Cardoso (terceiro colocado no primeiro turno) e o PPS de Arnaldo Jordy (o quinto colocado na primeira rodada eleitoral).
Qual era o raciocínio, feito inclusive pelo próprio candidato do PMDB logo depois no primeiro turno? Que todos aqueles que não votaram em Duciomar no primeiro turno o rejeitaram; e se o rejeitaram, votariam em Priante no segundo turno.
Essa era a lógica. Mas a lógica, para o eleitor que é dono de sua vontade, nem sempre prevalece.
Desta vez, por exemplo, não prevaleceu. Os acordos e as alianças de cúpula foram desautorizados ou descredenciados pelo eleitor.
4. A “neutralidade” do governo Ana Júlia
O governo Ana Júlia Carepa - ou, se quiserem, aqueles que se filiam à Democracia Socialista (DS), que detém o comando dos postos-chave do poder no Estado – apoiou o adversário de Priante, o prefeito Duciomar Costa.
Como aqui já se disse, essa conversa de “neutralidade”, como anunciado pela própria governadora logo depois do primeiro turno, é a coisa mais ridiculamente implausível que já se pôde ouvir nos últimos tempos na política paraense.
Ninguém com um mínimo de inteligência poderia acreditar que a governadora se manteve “neutra” no segundo turno, sob a alegação de que não poderia indispor-se politicamente com nenhum dos dois candidatos, porque ambos pertencem a legendas que compõem a base aliada.
Conversa fiada.
Ana Júlia e seu pessoal da DS queriam a vitória de Duciomar para não turbinar o poder de Jader Barbalho.
Mas, apenas por hipótese, ainda que ela tenha se mantido neutra, ainda que Ana Júlia viajasse para o outro lado do mundo e ficasse lá, juntamente com todos os seus companheiros da DS, entocada num igloo durante todo o segundo turro, ainda assim a neutralidade favoreceria Duciomar, que ficou por aqui, ativíssimo, em campanha eleitoral e usando habilmente a máquina municipal para se reeleger.
5. O encolhimento da militância do PT
O ato público que selou o apoio do PT à candidatura de Priante, logo depois do primeiro turno, foi marcado por uma declaração do ex-candidato a prefeito do partido, Mário Cardoso: “Nós não vamos só apoiar [a candidatura do PMDB], nós vamos pra rua com toda a nossa militância”.
Mas não foi o que aconteceu, não.
A militância até que foi às ruas, mas não com o empenho esperado e no volume pretendido por uma candidatura que precisava lutar, justamente, contra a força da máquina do outro lado.
6. Priante perdeu porque exasperou-se nos debates.
O próprio candidato do PMDB, na entrevista que concedeu ao reconhecer a vitória de Duciomar, reconheceu isso claramente: “'Quando estou indignado, estou indignado”, disse Priante, segundo matéria publicada em O LIBERAL.
Priante, numa avaliação pessoal, pode até considerar que a exasperação, a indignação claramente expressa podem configurar demonstrações de autenticidade, de transparência, de limpidez de sentimentos. Na maioria das vezes, é mesmo. Mas isso se dá muito mais nas relações pessoais.
Mas, para o eleitor, um político exasperado - sobretudo aquele que aspira a um cargo público majoritário, como o de prefeito de uma cidade como Belém – nem sempre é um político transparente. Ao contrário, pode parecer muitas vezes um político desequilibrado, desnorteado, descontrolado, sem condições de sustentar suas propostas diante do adversário.
Foi essa imagem de Priante que ficou para muitos.
7. O apoio da máquina municipal
Priante perdeu porque, é evidente, o prefeito Duciomar Costa soube manejar a seu favor o privilégio de ter a chave do cofre e de conservar a autoridade. Duciomar não será o primeiro e nem será o último a fazer isso.
Belém virou um canteiro de obras a céu aberto. Era asfalto em tudo quanto é lugar. O asfalto não presta? Não importa. O que importa é que o cidadão morador de uma rua esburacada fica feliz da vida quando a vê asfaltada, mesmo que na primeira chuvarada tudo vá para o esgoto – se tiver esgoto, é claro.
Duciomar manejou na medida os cordéis do poder detinha como candidato à reeleição e conseguiu, de toda forma, transmitir a impressão de que dava seguimento às suas tais obras estruturantes. Muita gente acreditou que são mesmo estruturantes. E votou nele, em vez de votar em Priante.
8. O confronto em frente ao PSM
Priante, sem dúvida, fez uma jogada de mestre ao desafiar Duciomar, no debate da Record, a irem juntos até o Pronto-Socorro Municipal da 14 de Março, no Umarizal, para que ambos tirassem uma teima: se as obras de ampliação previam a instalação de 30 leitos, como sustentava o peemedebista, ou 150, como afirmava Duciomar.
O problema aí foram dois: o momento do fato e sua conseqüente exploração no programa do PMDB.
Priante fez o desafio já no finalzinho da campanha, sem condições, portanto, de auferir os efeitos de uma repercussão positiva a seu favor.
E o próprio confronto que travou com o adversário, em frente ao Pronto-Socorro, foi explorado no Horário Eleitoral Gratuito de forma que ficou a dever às pretensões de Priante: mostrar que Duciomar pretendeu esconder o jogo, ou dizer uma mentira, ou escamotear evidências em relação ao assunto que se discutia.
E para muitos eleitores de Duciomar, aquilo tudo ficou parecendo uma armação do candidato peemedebista, muito embora o próprio prefeito, publicamente, tenha aceitado espontaneamente o desafio que lhe fora proposto.
6 comentários:
Excelente. Eu apenas colocaria a utilização da máquina municipal em segundo lugar, posto que determinante, tal como a associação com o Jader.
Os demais foram coadjuvantes que, somados, fizeram a diferença.
Tem razão, Anônimo.
Não me preocupei muito em apontar as razões por ordem de importância. Mas, se o fizesse, o uso da máquina estaria em segundo lugar, sim.
Você tem razão.
Abs.
Prezado Paulo:
Parabéns! Excelente sua análise.
Um abraço
Marcos Klautau
Olá, Marcos.
Grande abraço.
Muito boa a análise. Agora a pergunta que não quer calar: se fosse Mário para o 2º turno turno, teria derrotado Duciomar?!?
Afinal, transferir votos de Priante para Mário é provavelmente "mais fácil" que o contrário, além do petista absorver com bem mais naturalidade os votos do Jordy.
Alan,
Esse é um cenário que sempre imaginei e sobre o qual concordo com você.
Acho que o Mário teria mais condições de ganhar, até porque, é claro, teria apoio da outra máquina, a do governo do Estado.
Abs.
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