sexta-feira, 11 de abril de 2008

“Não podemos olhar o MST a partir do olhar da grande mídia”

Da advogada Mary Cohen, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA, em comentário sobre o post Nery diz que polêmico seria garantir apoio à Vale:

Não posso deixar de manifestar-me ao pronunciamento do Senador José Nery e fazer uma reflexão acerca da tentativa da Vale e da grande mídia de criminalizar o movimento dos trabalhadores sem terra.
Surgido em 1984, o MST encarnou a luta de muitos que, no passado, também lutaram pela dignidade e por um mundo mais justo e solidário, como uma continuidade da luta de Zumbi dos Palmares, Movimento da Cabanagem, Antônio Conselheiro e tantos outros. Tornou-se o movimento social do campo que assimilou todos os gritos e clamores de um povo que há mais 500 anos vem sendo explorado e oprimido.
Penso que a grande lição do MST não são as ocupações e suas indignações legítimas, mas, a de ensinar para a sociedade brasileira que o campo e o mundo camponês estão vivo, estão em movimento. Não se pode simplesmente ignorar sua existência, como tentaram fazer ao longo dos séculos. Ele nos provoca quando questiona as estruturas sociais e a cultura política que as legitima, totalmente divorciadas da missão de construir um Brasil para todos.
Não podemos olhar o MST a partir do olhar da grande mídia, não raro a serviço das estruturas acima mencionadas. O MST congrega o povo da roça, os trabalhadores rurais, agricultores, camponeses e as familiares pobres e expulsas pelo latifúndio.
Acredito que para, entender isso, temos que nos despir dos preconceitos com relação aos grupos que fogem dos padrões de comportamento estipulados pela sociedade dominante.
A grande mídia e agora a Vale defendem a idéia de que o MST é um movimento de vândalos, baderneiros e de vagabundos que "invadem" a propriedade privada de pessoas boas, sérias e que nunca fizeram mal a ninguém, sem nenhum aceno para a diferenciação, no aspecto sociológico, entre ocupar e invadir.
A quem interessa realmente que o MST se torne um movimento sem credibilidade para a sociedade brasileira? Qual é o conceito de vandalismo utilizado pela mídia, pela Vale para caracterizar as ações do MST nestes últimos tempos?
Interessa àqueles que se utilizam da mídia para inculcar na consciência do povo brasileiro um conceito ou pré-conceito em relação às ações do MST. Esqueceram-se somente de dizer que a grilagem, o trabalho escravo, assassinatos de trabalhadores rurais, religiosos e agentes pastorais, exploração do trabalho infantil, prostituição de crianças e adolescentes, além de crimes hediondos, são atos de vandalismos.
E mais hediondo e vândalo ainda é o próprio latifúndio.

Mary Cohen
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA

6 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, lírico e poético o texto.
Convém ressaltar ( e ressalvar) que o Brasil é um estado democrático com os poderes definidos, ainda que falhos e corruptos.
Assim, qualquer pessoa física e/ou jurídicas tem direitos e deveres na sociedade , mesmo injusta, em que vive.

O MST, mesmo que propositalmente esteja no "limbo", onde não é nem pessoa física nem jurídica , tem sim obrigação de respeitar as instituições.
Quando surgiu realmente era formado por gente paupérrima, extremamente necessitada, esquecida, faminta e sem perspectiva.
Hoje, as "lideranças" desvirtuaram completamente o rumo inicial, se deram muito bem. Tão bem que alguns são prósperos "comerciantes" de terras, tem automovel, casa na cidade e só aparecem nos acampamentos quando tem uma câmera de TV e jornalistas por perto.
Manobram a "massa" faminta sob promessa das benesses das ONG's que financiam comida, escola marxista e terras grátis.
A pergunta é: por que fazer tudo isso sempre ao arrepio da lei e da ordem?
Será que os "latifundios" são todos de proprietários" bandidos, tudo "hediondo e vândalo" como afirma o texto?
Nem assim se justificaria tomar nada na marra.
E os direitos, humanos e todo o resto, são iguais para pobres e ricos, não esqueçamos.
Talvez tomar a força algo dos outros funcione nos regimes totalitários, mas aí é outra história.
Estamos numa democracia, ainda que muitos, usufruindo da liberdade, adorem falar mal dela.
O resto é, digamos, concessão poética.

Anônimo disse...

Algumas perguntas que a imprensa do Pará está devendo aos leitores:
1) Quais as reivindicações do MST e dos garimpeiros que estão acampados em Parauapebas?
2) É a primeira vez que esses grupos apresentam essas reivindicações?
3) Caso tenham sido apresentadas anteriormente, como se deu a negociação? Foi fechado algum acordo? Esse acordo foi cumprido? Como foi a atuação do governo na negociação?
4) A Vale do Rio Doce tem recursos do BNDES?
5) O que significa o S de BNDES?
6) Caso esse S seja de Social, quais as responsabilidades de uma empresa desse porte, caso tenha em seu capital recursos públicos?
7) Quem são os acionistas da Vale?
8) Como eles avaliam a movimentação do MST?
9) Qual o lucro líquido da Vale e qual o percentual desse lucro que a empresa investiu em programas sociais?
10) Quanto a Vale paga de imposto ao Pará?
11) A Vale está pagando corretamente os royalties devidos às prefeituras ou tem alguma pendência.

Se fosse o professor Marcelo Vieira passaria a pauta aos meus alunos, tenho certeza de que as respostas ajudariam muito a qualificar o debate.

Anônimo disse...

Para qualificar o debate é sempre bom ouvir os dois lados, dar espaço para o contráditório, coisa que alguns veículos estão esquecendo. Não gosto muito do Paulo Henrique Amorim, mas nessa história da Vale ele é o único que tem mostrado um contraponto. Vale (desculpe o trodadilho) ver

Na composição acionária da Vale, o Governo Federal tem maioria.

. A Valepar é a acionista majoritária, com 32,5%.

. Dentro da Valepar, a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil e o BNDES, juntos, têm 61%.

. O sr. Roger Agnelli é empregado da Vale.

. Os patrões são esses aí em cima.

. Ele é um funcionário assalariado.

. O PiG trata o sr. Agnelli como se fosse o dono da Vale.

. O PiG trata a Vale como a jóia do empresariado privado nacional, para que sirva de pólo de referencia contra a Petrobras.

. A Petrobras, estatal, não presta.

. AVale, privatizada, é uma maravilha – segue o raciocínio do PiG.

. E o sr. Agnelli, que não resiste a um repórter ou a um “sun-gun” (aquele pau de luz que acompanha os cinegrafistas de uma equipe de televisão), é especialista em PiG.

. A Miriam Leitão, por exemplo, dá furos mirabolantes, desses que não interessam a ninguém, com informações exclusivas sobre a Vale.

. Recentemente, o PiG deu um show no trapézio: anunciou que Agnelli seria coroado Rei da Fortune’s 500, porque ia comprar a Xstrata.

. A Vale não comprou a Xstrata.

. O PiG rapidamente virou o jogo e informou que não comprar a Xstrata foi a melhor coisa que o Agnelli poderia ter feito ...

. No jornal nacional de ontem – quinta feira, dia 11 - o sr. Agnelli disse que o MST realiza um “ato ... feito por bandidos”.

. Bandidos ?

. Isso mesmo: bandidos !

. Essa é uma acusação muito grave.

. Qual prova tem o sr. Agnelli de que os autores daquele ato são criminosos, que infringem a lei e, portanto, merecem o epíteto de “bandidos” ?

. A Policia já pediu o indiciamento ao Ministério Publico ?

. O Ministério Publico já pediu à Justiça o indiciamento dos manifestantes ?

. O Juiz aceitou ?

. O Juiz já julgou ?

. Já condenou ?

. Ou ali no pedaço, Parauapebas, o sr. Agnelli é a Lei ?

. O sr. João Pedro Stédile, por exemplo, líder do MST, é um “bandido”, segundo o sr. Agnelli ?

. O movimento do MST em Parauapebas, em área próxima a uma estrada de ferro da Vale, tem suas razões, sobre as quais se deve refletir: o MST acusa a Vale de submeter empregados a ”condições degradantes de trabalho” - clique aqui para ir ao portal do MST na internet).

. (Sobre isso, o Conversa Afiada submeterá correspondência ao Ministério do Trabalho.)

. Outro motivo invocado pelo MST: a Vale descumpre uma decisão judicial para pagar R$ 109 milhões de indenização.

. (Sobre a matéria, também, o Conversa Afiada encaminhara correspondência ao Ministério do Trabalho.)

. Quem desrespeita a Lei: o MST ou o sr. Agnelli ?

. Isto posto, cabe a singela pergunta: os patrões do funcionário Roger Agnelli concordam com a afirmação de que aquele ato é um ato de “bandidos” ?

. É uma pergunta que o Conversa Afiada também a eles submeterá: quer dizer, então, que os senhores acham o MST um conjunto de bandidos ?

. São degradantes as condições de trabalho na empresa que os senhores controlam ?

. É hábito na sua empresa descumprir decisão da Justiça ?

. E quando o Presidente Lula receber Stédile no Palácio do Planalto; ou Stédile for o convidado de honra e o orador de uma festa para celebrar, em Paris, o aniversário do jornal “Monde Diplomatique” - os senhores vão mandar chamar a Polícia Federal, a Interpol ?

Poster disse...

Anônimo das 15:48,
Sua pauta é uma excelente pauta. E renderia uma boa matária.
Vou postá-lo na ribalta, neste sábado.
Abs.

Poster disse...

Anônimo das 14:23,
Da mesma forma, são bons argumentos para o debate. Vou postá-lo na ribalta, durante este sábado.
Abs.

Anônimo disse...

Ao anônimo das 14:23.
É justamente por acreditar que os direitos humanos são para ricos e pobres que postei minha opinião sobre o MST. Se pensasse diferente me omitiria nessa luta entre Davi e Golias.
Fraternalmente.
Mary Cohen