sexta-feira, 11 de abril de 2008

Complacência com o G10 entre os motivos da queda

Na coluna “Repórter Diário”, do Diário do Pará desta sexta-feira:

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Fogo brando
A demissão do ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil, Charles Alcantara, ocorreu depois de dois meses de lenta mas persistente fritura comandada pelos secretários Cláudio Puty e Maurílio Monteiro junto à governadora Ana Júlia. Expoentes da corrente petista Democracia Socialista (DS), os quatro foram personagens de enredo ao qual se juntou mais vivamente, nas últimas 48 horas, o secretário nacional de Formação Política do PT e membro da coordenação nacional da DS, Joaquim Soriano, que aconselhou o governo a tirar o emprego de Alcantara. O pecado do articulador político foi ser “light” e negociador demais, a ponto de fazer o governo refém de deputados que na opinião da DS seriam fisiológicos, avulsos ou agrupados, como o chamado G-10.

Estratégia
Linha dura na defesa programática da DS e defensor de candidaturas puras do partido, Soriano advogou mudança de estratégia na relação do governo com sua fugidia base aliada na Assembléia Legislativa. Essa deverá será a missão de Puty, novo chefe da Casa Civil. Paralelamente, alterando a correlação de forças das correntes petistas, vai fortalecer a minoritária DS para, futuramente, brigar pelo comando partidário estadual com o Campo Majoritário, do presidente Lula e do deputado federal Paulo Rocha.

Ponderado
Sem corrente, a deputada petista Regina Barata lamentou a saída de Charles Alcantara. “É uma pena. Ele tem o perfil de pessoa política e ponderada”, observou a deputada, que tentará se viabilizar na convenção do PT como candidata à prefeitura da capital. O bom trânsito no parlamento era uma marca de Alcântara, notou Regina, corroborando, sem querer, a evidência de que o chefe de Casa Civil se fragilizou porque na opinião de algumas figuras na DS cedeu a deputados adesistas que se movem pelo fisiologismo e não por razões programáticas.

Gota d’água
O estopim da crise entre os dois grupos da DS que disputavam poder ocorreu há duas semanas. Foi aceso não exatamente pela estatura política de um demitido, Leopoldo Vieira, da Juventude Petista, mas pelo mal-estar que a demissão ordenada por Puty provocou no padrinho político do garoto, justamente Alcantara. Ontem à tarde, depois de marchas e contramarchas, Ana Júlia chamou Alcantara ao gabinete e o mandou para casa.

Pressão
Oficialmente, o governo atribuiu a exoneração à imposição médica, estancando a profusão de supostos motivos para explicar a queda. Segundo o próprio Puty, Alcantara deixou o governo para se tratar de complicações cardíacas. A versão cardiológica já havia sido oferecida, antes, por auxiliar da governadora que participou de seu derradeiro despacho administrativo com o chefe da Casa Civil. Narrou: “Ele se queixava de picos de pressão, num claro sintoma de crise hipertensiva”. Não era para menos, como se viu.

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