Esse é o título de um artigo da jornalista Milly Lacombe publicado no site Blônicas sobre essa questão dos cartões corporativos. Vale a pena ler. Leia.
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Quem acusa este Governo de se movimentar com a agilidade de um marisco não sabe o que está dizendo. Pois vejamos. Estarrecido pelo debochante uso de cartões corporativos para mimos pessoais de seus escolhidos, o Governo, que, como já é protocolar, nada sabia sobre o assunto, imediatamente decretou: Fica proibida a divulgação de gastos com cartão. Pelo menos daqueles gastos feitos com o cartão da Presidência. É, de fato, uma medida salutar para acabar com o uso indevido do cartão corporativo.
A explicação para essa sábia atitude, que, de tão óbvia, nem carecia de explicação, é que fazer com que a discriminação das despesas executadas em cartões corporativos – esses que você e eu gentilmente pagamos a nossos legisladores – seja jogada ao conhecimento público coloca em risco a segurança do presidente e de sua família. E quem, em sã consciência, poderá aceitar que a segurança de nosso líder seja colocada à prova por causa da divulgação da compra de uma caixa de vinhos franceses via cartão que doamos a ele e fazemos questão de bancar?
A justificativa sobre a proibição trata do risco iminente que corre a vida do presidente a partir do momento em que esses dados sejam jogados à luz, risco endossado pela Abin, que confirma ser uma enorme imprudência a publicação dos gastos da patota de nosso comandante. Não somos da Abin, mas é mesmo bastante provável que células terroristas internacionais possam rastrear os gastos feitos com o cartão da presidência em, por exemplo, peças de maminha e picanha e tirar daí um plano para eliminar o líder. Sabendo o que entrou na cozinha e na adega de Dona Marisa Letícia fica muito fácil bolar um atentado contra sua família, via carnes, hortifrutis ou bebidas alcoólicas.
E a preocupação não deve apenas ser com o mundo terrorista, que naturalmente tem o nome de Luis Inácio Lula da Silva como um dos primeiros a ser aniquilado em âmbito mundial, mas também com o brasileiro de uma forma geral, um povo históricamente dado a violência contra seus governantes. Por isso, pela integridade física do presidente, é prudente que Dona Marisa ou quem quer que seja que leva no bolso esse tal cartão corporativo da Presidência, gaste como bem entender, sem a necessidade de prestar contas a mim ou a você, que, a bem da verdade, temos mais o que fazer de nossas vidas, como, por exemplo, trabalhar duro para tentar, no fim do mês, pagar a conta de nossos cartões, que, por uma dessas infelicidades mundanas, não são corporativos.
Divertido notar que, enquanto não havia proibição, era fácil acessar o portal da Controladoria Geral da União e ver relacionado ali, por exemplo, o gasto de 114 mil reais com vinhos e carnes feitos pelo assessor especial do gabinete do presidente, para o homem e sua família. Ou gastos com a montagem de uma academia de ginástica, no ABC ou em Florianópolis, quem consegue registrar tanta informação?, para um dos filhos de nosso líder. Dá para se ter uma idéia de como é necessário jogar essas informações em um quarto escuro. Afinal, a preocupação com a segurança do cara é interesse nacional.
Mas, entendam, a proibição diz respeito apenas ao barraco do ilustríssimo senhor Presidente desta república bananenta. Já os pobres ministros, essa galera que anda em carro importado e blindado, com motorista e custeado por você e por mim, continuarão a ter suas tapiocas escarafunchadas pela curiosidade pública, que, ao que parece, não tem mesmo limites.
Aliás, só muita paixão pela coisa pública para aceitar ser ministro neste Brasil. Coloquem-se no lugar de nossos ilustres governantes e imaginem-se na cruel posição de ter que explicar toda e qualquer tapioca engolida e paga com dinheiro do povo. É para deixar qualquer um maluco. Exatamente por isso, esses esforçados cidadãos optaram por sacar em espécie, com o cartão pago por você e por mim, mais de 50 milhões de reais no ano passado. Ou, para deixar essa conta mais degustável, nossos administradores públicos sacaram, na boca do caixa com seus poderosos cartões corporativos, o equivalente a mil Honda Fit zero quilômetros no espaço de um ano.
Mas dá para entender. Com grana viva na mão, não há a necessidade de mostrar onde a bufunfa foi gasta, e comam-se tantas tapiocas quanto quiserem. Tonta é a Sra. Dona Matilde, a tal da Igualdade Racial, que não se deu ao trabalho de andar até um caixa eletrônico e enfiar nosso dinheirinho no bolso para poder torrar como bem entendesse, em free shops ou tapiocarias, sem ter que aguentar essa perseguição da mídia, nem o constrangimento de ter que devolver a grana aos cofres públicos, o que pode acontecer, dizem, a qualquer momento. Tivesse Dona Matilde feito como seus colegas e sacado em espécie, teria mantido o cargo. Porque o importante não é agir com ética e honestidade, o importante neste País abençoado é apenas não ser flagrado.
Agora, Matilde deve estar batendo a cabeça na parede de raiva pelo erro infantil, enquanto, na Capital Federal, seus companheiros continuam a comer tapiocas mil, sempre sacando em espécie, é evidente, porque, nessa nossa Banana também chamada Brasil, uma coisa é a denúncia e as provas atiradas ao povo. Outra, muito diferente, é a mudança de hábitos sórdido e a condenação dos culpados: se o cara da sala ao lado faz, por que não eu? Façamos todos, pois.
E assim, ao ritmo do samba do administador doido porém honesto que vem lá da Capital, continuaremos a sambar o ano inteiro. Acerta o passo aí que a batida vai aumentar. Ziriguidum pra você também.
Milly Lacombe
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