Na FOLHA DE S.PAULO:
"Ontem, em seu discurso de posse, Raúl Castro disse pretender acabar com algumas gratuidades insustentáveis, referindo-se a itens da libreta de racionamento. A frase me mobiliza a lançar uma proposta. Troco as três libras de açúcar, os 3 kg mensais de arroz e o pacote de café que me dão no mercado racionado por uma dose de liberdade de expressão, alguns gramas de direito de associação, um par de colheres de livre opinião e até por uma porção pequenininha de possibilidade de decidir. Seria o que eu mais teria gostado de ouvir."
Raúl Castro, desde anteontem o novo chefe de Estado cubano, têm uma nova geração de opositores para enfrentar. Eles põem a cara para fora, comunicam-se via internet, constroem blogs bem-humorados e dizem coisas como a que abre esta reportagem.
A provocação está no blog Geração Y, mantido pela filóloga Yoani Sánchez, 32. Ontem, o blog, em cuja página pode-se ler o perfil de Yoani, conseguiu bater seu próprio recorde em dois anos de existência. Foram 900.000 hits no mês em que ela bateu mais forte no governo -o da renúncia de Fidel.
Nomes com ípsilon
Yoani define Geração Y: "É um blog inspirado em gente como eu, com nomes que começam ou contêm ípsilon. Gente nascida na Cuba dos anos 70 e 80, marcados pelas escolas no campo [todos os secundaristas foram mandados para escolas rurais], os bonecos russos, as saídas ilegais e a frustração. Assim é que convido especialmente Yanisleidi, Yoandri, Yusimí, Yuniesky e outros que arrastam seus ípsilons para que me leiam e me escrevam."
Geração Y é o blog das pessoas que nasceram ou foram educadas na Cuba hegemonizada pelos burocratas russos, bem antes da queda do Muro de Berlim (em 1989).
A reportagem da Folha foi encontrar Yoani em um apartamento construído pelo regime castrista para resolver o problema habitacional na ilha nos anos 70 e 80. Reinaldo Escobar, 61, jornalista e marido de Yoani, trabalhou quatro anos na construção do prédio, no bairro de Novo Vedado, concentração de profissionais de nível superior.
Para subir ao 14º andar, onde moram Yoani, o marido e o filho de 12 anos, tem-se de apertar o 11º andar na botoneira do elevador de fabricação russa. Desce-se no piso 13º e sobe-se mais um andar de escada.
Yoani e seu marido não conseguem emprego fixo. "Ele acreditou na glasnost e na perestroika (abertura política e reestruturação econômica) que estavam em vigor na Rússia soviética nos anos 80. Escreveu artigos críticos e perdeu o emprego no "Juventud Rebelde", onde trabalhava. Teve de aceitar um emprego como mecânico de elevadores, onde atuou por três anos." Hoje, os dois dão aulas de espanhol para estrangeiros em Havana.
Mais aqui.
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