terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Um novo nome no caso das revelações de William Lola

Ex-secretário disse que recebeu ordens do prefeito de Belém para delegar a Carlos Cunha os procedimentos para a utilização de carros que foram comprados com verbas da Saúde e depois destinados, em parte, à Guarda Municipal de Belém

Surge um novo nome no caso das revelações que o ex-secretário municipal de Saúde William Lola fez ao Ministério Público Federal, no final de 2006, quando revelou todo o processo de fraudes na aquisição de carros originalmente adquiridos com recursos da Saúde, mas que foram transferidos para a Guarda Municipal de Belém.
O nome do personagem é Carlos Cunha, ligadíssimo à chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Belém, Sílvia Randel, a mulher forte do governo Duciomar Costa.
O prefeito Duciomar Costa telefonou pessoalmente ao então secretário de Saúde, William Lola, e ordenou-se que os carros adquiridos no segundo semestre de 2005– 65 veículos (60 Siena) e 5 L200) e 50 motocicletas -, e na ocasião estacionados no pátio da concessionária Fiat, não poderiam ser retirados dali por determinação da própria Sesma, como seria natural, mas de Carlos Cunha, que não tinha qualquer relação formal com nenhum escalão, com nenhum nível da administração municipal.
Ao detalhar todo o processo de compra dos veículos, William Lola, que foi secretário municipal de Saúde no período de 23 de agosto a 16 de janeiro de 2006, desceu – ou subiu – aos detalhes durante as informações que prestou ao MPF. Ele não voltou depois para confirmá-las, em depoimento que teria de assinar. Mesmo assim, falou muito. Talvez mais do que o Garganta Profunda que encaminhou os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein rumo às fitas e a tudo o mais que derrubaram Nixo no caso Watergate.
Lola contou que a compra dos carros e das motos começou a ser planejada pela equipe de Cleide Fonseca, sua antecessora no cargo. As aquisições, segundo informou, pretendiam resolver problema essencial da Sesma: a falta de veículos para empreender ações da saúde em Belém.
Lola, segundo disse, foi informado pessoalmente da chegada dos carros a Belém e manteve logo um contato pessoal com um diretor da concessionária Fiat. O diretor pediu-lhe que providenciasse a retirada dos carros, pois estavam todos no pátio da empresa e sem identificação da Sesma.

Duciomar entra em cena
Em atendimento ao pedido do diretor, Lola mandou que os carros fossem transferidos do pátio da Fiat para o estacionamento da própria Sesma e fossem preparados para ser usados. Nesse momento é que o prefeito entrou em cena, pessoalmente e sem intermediários, conforme a versão de William Lola.
No telefonema, Duciomar perguntou-lhe quem havia ordenado a retirada dos veículos do pátio da Fiat. Lola disse que, como secretário, ele mesmo é que ordenara a remoção, uma vez que os carros haviam sido adquiridos com recursos da área de saúde.
A contraordem de Duciomar foi imediata, segundo o então secretário: a pessoa que deveria cuidar dos veículos era Carlos Cunha. Lola afirmou ter alertado o prefeito de que Cunha não tinha qualquer vínculo com a administração municipal e menos ainda com a Sesma. Mesmo assim, foi orientado pelo prefeito a emitir autorização para que os carros fossem entregues a Carlos Cunha.
Depois disso, o então secretário foi chamado para uma reunião na prefeitura. Também participou do encontro o tenente-coronel Machado, então comandante da Guarda Municipal. Duciomar estava ausente. Quem comandou a reunião foi Silvia Randel, segundo o relato de William Lola.
Foi ela, a chefe de Gabinete Sílvia Randel da Prefeitura de Belém, quem comunicou a Lola, segundo sua versão, que parte dos veículos adquiridos seriam destinados à Guarda Municipal. Ele, o então secretário, objetou que isso era afrontosamente ilegal, uma vez que os bens haviam sido adquiridos com verba “carimbada”, ou seja, com aplicação e destinação específicas.

Advertência sobre ilegalidade
Sílvia Randel chegou a argumentar na reunião, conforme William Lola, que não se poderia dizer que os veículos não estavam a serviço da saúde, uma vez que iriam prestar serviço diminuindo a violência na cidade e, com isso, seriam reduzidos os atendimentos nos pronto-socorros de Belém.
Lola fincou pé. Insistiu que o procedimento era ilegal e chegou a pedir para falar pessoalmente com Duciomar. Mas Sílvia Randel barrou-lhe os passos. Respondeu a chefe de Gabinete que a decisão estava tomada e que o próprio Duciomar pediu a ela para que sobre isso informasse o secretário de Saúde.
O então secretário não desistiu e conseguiu, enfim, encontrar-se com o prefeito. Mas ouviu exatamente a mesma coisa que Sílvia Randel dissera: a decisão estava tomada e parte dos carros seria transferida para a Guarda Municipal.
Diante disso, Lola chegou a pedir a um advogado – cujo nome o Espaço Aberto não declina por não ter confirmado ainda o sobrenome – a preparar um ofício ao prefeito, narrando tudo o que acontecera, a fim de que ficasse absolutamente claro de que ele, William Lola, não compactuava com os procedimentos adotados. O ofício chegou a ser preparado, mas não foi encaminhado porque Lola chegou à conclusão de que poderia parecer deslealdade ao gestor municipal.
Descontente com tudo isso, e ainda mais com o que considerava a falta de estrutura da Sesma, Lola esperou que Duciomar voltasse de uma viagem e informou sua decisão de deixar o cargo de secretário de Saúde.
A versão desmente por completo o interrogatório a que Duciomar foi submetido em Brasília. Ouvido pelo desembargador Cândido Ribeiro, na ação criminal em curso no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, o prefeito disse que poderia ter havido equívoco na destinação dos carros, porque teriam sido comprados ao mesmo tempo veículos para Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) e para a Guarda. Assegurou ainda que tanto a licitação da saúde quanto a da segurança foram realizadas antes de 12 de janeiro de 2006, dia do aniversário da cidade, quando houve a cerimônia de apresentação dos veículos da GBel à população. E que algum erro pode ter sido cometido pela empresa que colocou adesivos nos veículos.
A empresa, se vocês não sabem, é a Mídia Mais, que seria, supostamente, de propriedade da chefe de Gabinete Sílvia Randel, com quem Carlos Cunha sempre teve fortes ligações.

4 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pelo trabalho, PB.
Abs de seu fã.

Anônimo disse...

Fortes ligações é pouco. Têm muitas emoções, muito MAIS ligações entre os dois. Silvia Randel manda e desmanda dentro da Prefeitura. Carlos Cunha faz o mesmo papel aqui fora.
Casal perfeito, prefeito!
Ao lado do Dudu, soma-se, o inconfundível, o incomparável Paulo Castelo.
Formado assim o quarteto, ou o que MAIS vocês podem classificar dessa thurma, que manda nos destinos da nossa querida Belém do Grão Pará.
É por isso que estamos nesse atoleiro: quer pela administração pífia e que é uma farsa, quer pelos escândalos e irregularidades que só fazem prejudicar a vida das pessoas que moram em Belém.
Taí o caminho para por ordem nas coisas e acabar com essa farra que está sendo feita com o dinheiro público.

Poster disse...

Juca, queríamos tanto que o cara falasse. Pois ele falou. E ainda vai falar mais... (rsss)
Abs.

Poster disse...

Anônimo das 17h03,
Com essas e tantas outras coisas, amigo, a população vai ficando cada vez mais desiludida com tudo.
Abs.