Antes das 9h em  Tailândia, às margens da Rodovia PA-150, milhares de homens, mulheres e crianças  formam filas imensas em frente da casa do prefeito Paulo Jasper, 56 anos,  popularmente conhecido como "Macarrão". Alguns enfrentaram mais de  
"Os pais de família  que trabalham com madeira e crianças estão morrendo de fome. A gente sempre vem  na casa do prefeito, e quando ele pode, ajuda a gente", disse a doméstica Josefa  Cunha, 58 anos. 
Quando a distribuição  de comida efetivamente começa, começam a sair do estacionamento da casa um  microônibus e várias caminhonetes. Na comitiva, o prefeito segue com deputados  estaduais e federais que representam a região e foram ao município debater com  lideranças locais as ações da operação que combate o desmatamento. Macarrão,  após 15 dias longe do município, desce de seu veículo, ergue os braços, acena  para os que aguardam a comida, é aplaudido e sai sem falar com a  imprensa.
Alguns funcionários  de madeireiras permanecem pacientemente na fila. É o caso de Zulmiro Soares, 60  anos, três filhos. O salário médio da categoria é de R$ 600, segundo o sindicato  dos trabalhadores . "O serviço aqui está todo parado não tem como sustentar os  filhos. Vou arrumar renda da onde?", questiona Soares. "A empresa pára e nós  também. O homem sempre dava comida, até antes de ser prefeito."  
Com uma filha de 6  meses no colo, 
Silas de Almeida, 43  anos, trabalhava fazia cinco meses no setor madeireiro de Tailândia. Ele disse  saber da existência ilegalidade, mas avaliou que o combate à situação exige um  período de transição: "A coisa tem quer modificada devagar para ninguém passar  necessidade".
Na coordenação da  distribuição, ao lado do caminhão, quem manda é a esposa do prefeito, Hígia  Frota, titular da Secretaria de Ação Social de Tailândia e dona da residência  onde os populares se concentram. Ela confirmou que os alimentos foram adquiridos  com recursos da prefeitura e contou que pessoas estão há mais de uma semana  batendo na sua porta em função do desemprego. Mas disse ainda confiar que as  autoridades estaduais e federais apontem uma solução para a crise instalada no  setor madeireiro local: "Temos que ter emprego para esse povo. É injusto é um  pai de família ficar desempregado. O município não pode ficar a vida toda desse  jeito".
Algumas horas depois,  já no início da tarde, o prefeito Macarrão aceitou conceder entrevista.  Questionado sobre o porquê da distribuição de alimentos comprados com dinheiro  público na porta de sua casa, alegou ser uma tradição local: "É quase um  folclore, toda a população me procura todo dia. Eles não têm a quem recorrer, e  por isso pedem ao prefeito". O prefeito ainda comentou o risco de pessoas se  juntarem à beira de uma rodovia movimentada em busca de comida: "Acho tudo  perigoso, precisamos é resolver o problema da  comunidade".
Antes da entrevista,  em pronunciamento a lideranças locais, o prefeito disse estar ciente de que não  basta distribuir comida ao povo. "A cesta básica no Nordeste é um bote  salva-vida, mas na nossa região é uma âncora no pescoço de um funcionário. É a  retirada da dignidade, pois ele tem compromisso no comércio e em todos os  lugares", comparou. 
Nem toda população  avalia positivamente o gesto e as intenções do prefeito. A agricultora Antônia  Pereira, 46 anos, comentou que, como os alimentos foram comprados pela ação  social do município, a entrega tinha de ser na prefeitura. "Isso é movimento  político e quem faz tem que ser punido", defendeu. "Nossa sociedade não pode  viver do assistencialismo. Temos que viver produzindo e trabalhando", reforçou  outro agricultor, Valdinei Palhares. 
Na secretaria do  Fórum do município, a informação é de que representantes do Ministério Público  vão averiguar possíveis irregularidades na ação da manhã de  hoje.
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