Que coisa, gente!
Há 50 anos, exatamente num dia 21 de junho, como hoje, o Brasil sagrava-se tri no México com uma goleada por 4 a 1 sobre a Itália.
Eu tinha 10 anos de idade. Mas lembro-me como se fosse hoje.
Eu ainda morava em Santarém e assisti à final da Copa de 70 na casa de Geraldo Braga Dias, então gerente do Banco da Amazônia, onde meu pai, Eros Bemerguy, era o subgerente.
A casa ficava na orla da cidade, ao lado do extinto Uirapuru Hotel, de frente para o Tapajós, o rio mais lindo do mundo.
Não havia televisão em Santarém, nessa época.
A nossa televisão era o rádio. E por isso é que até hoje eu adoro rádio, do qual não me desgrudo, sobretudo, quando vou a estádios.
Toda a Copa, portanto, acompanhávamos pelo rádio.
Posso estar enganado, mas a Rádio Rural de Santarém, que na época se chamava ainda de Rádio Educadora, emissora da Diocese local, transmitia o jogo Brasil x Itália em cadeia com a Rádio Globo.
A narração era de Waldir Amaral.
Como é que um moleque de 10 anos vai esquecer um dia como aquele?
Seleção Brasileira, final de Copa, conquista do tri inédito, narrada por Waldir Amaral, goleada na final e festa na cidade.
Como um momento desses não ficará eternizado na memória de qualquer pessoa?
Como?
Ainda hoje me arrepio quando revejo os lances da Copa de 70, que nós, santarenos, naqueles tempos sem televisão, repito, só fomos vários meses depois no Cine Olímpia, do saudoso Raul Loureiro, no jornal que antecedia aos filmes.
Agora, sinceramente, de todos os lances que vi naquele Copa e no futebol nestes 50 anos, nem um, absolutamente nem um, supera o de Pelé dando um drible da vaca no goleiro uruguaio Mazurkiewicz.
A jogada, como se sabe, não resultou em gol.
Mas, pra mim, é o lance mais lindo, mais perfeito, mais mágico, mais imprevisível que um jogador de futebol, ou melhor, que um gênio inigualável como Pelé, fez até hoje.
É que os gênios, em outras múltiplas e infindáveis áreas que compreendem as atividades humanas, muitas vezes têm muito tempo para pensar, testar, experimentar, errar e acertar.
Num esporte como o futebol, não.
No futebol, o gênio pensa antes. E pensa num átimo, num milésimo de segundo. Dependendo da situação, a gente nem sabe se pensou ou se foi impulsionado naturalmente pela sua genialidade a fazer aquilo.
Foi assim com Pelé nesse lance.
Se a Copa de 70 me marcou, há 50 anos, com a conquista inédita - até ali - do tri, esse lance, eu acho, me fez gostar apaixonadamente, e pra sempre, de futebol.
E me fez concluir que Pelé não foi um gênio do futebol.
Ele foi o gênio do futebol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário