A Polícia Civil realizou nesta terça-feira (16), pela manhã em Belém e à tarde em Óbidos, na região oeste do Pará, uma operação autorizada pelo juiz Heyder Tavares, da 1ª Vara de Inquéritos Policiais.
Em sua conta no Twitter (veja as imagens), a
Polícia Civil informou que as buscas e apreensões foram feitas “em residências
de marqueteiros, radialistas e empresas ligadas a patrocínio de propagação de
fake news no estado.” Acrescentou ainda que na casa de “um dos
investigados foi encontrado o valor de 15 mil”.
O inquérito que apura a propagação de fake news
foi instaurado em meados do ano passado e incluiu outra operação semelhante, no
final de abril deste ano, contra dois blogueiros de Belém, que negaram as acusações de que estariam
difundindo notícias falsas.
Em Óbidos, as buscas e apreensões foram feitas
por quatro policiais na casa do jornalista Ronaldo Brasiliense. Ele informou
que vai se manifestar em sua conta no Facebook.
Agora à noite, o jornalista e publicitário Orly
Bezerra, um dos sócios da empresa Griffo, onde também foram realizadas buscas e
apreensões, divulgou uma nota em que menciona seus 47 atividades e afirma: “Trabalho
com informação de verdade. Não com fake news”.
Leia a seguir, na íntegra, a manifestação de Orly Bezerra:
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Sou jornalista há 47 anos e, nesse tempo, aprendi a valorizar a informação como algo essencial à vida em sociedade. A informação verdadeira, checada, confirmada, ou até mesmo, e principalmente, aquela negada por quem tem interesse em esconder a verdade. Esse é o espírito do jornalismo, que me foi ensinado pelo saudoso Cláudio de Sá Leal e outras feras na antiga redação de O Liberal, onde comecei a carreira. Eram tempos de ditadura militar e censura prévia, contra os quais a minha geração lutou e, percebemos agora, continua lutando.
Tornei-me publicitário depois, por força das circunstâncias, mas nunca abandonei o espírito jornalístico, ou seja, a necessidade de me cercar dos fatos, de me informar, de saber da verdade. E isso, por outro lado, influencia o meu modo de trabalhar a comunicação publicitária.
Criei a Griffo há 39 anos, junto com os também jornalistas Antonio Natsuo e Nélio Palheta, pensando em contribuir para a profissionalização do jornalismo empresarial na já distante década de 1980. Migramos definitivamente para a publicidade, mas o jornalismo nunca me largou, e vice-versa.
Reside aí, provavelmente, o meu pendor pelas campanhas políticas, em que se trabalha com fatos, com levantamento de informações, num embate democrático de ideias e opiniões, que não raro exigem a intervenção da justiça eleitoral. Mesmo nesses casos, a democracia está intacta, a justiça cumpre o seu papel.
Por conta dessa vocação, a Griffo também trabalhou muito com administrações públicas, com diversos governos e prefeituras, incluindo a do hoje governador Helder Barbalho, quando prefeito em Ananindeua. Acredito termos feito um bom trabalho, pois era frequentemente demandado nos serviços e também nos aconselhamentos ao prefeito quanto ao posicionamento da comunicação da Prefeitura.
Em toda essa história, a nossa relação com as administrações públicas – e também com as várias empresas privadas que atendemos e continuamos a atender – foi sempre de seriedade e correção. Tanto que, em quase quatro décadas, jamais houve questionamentos nesse sentido que não tenham tido motivações políticas. Condenação mesmo não houve.
Infelizmente, nem todos os administradores, quando vitoriosos na eleição, consideram avaliar a campanha com o distanciamento que deve existir: há acusações, denúncias e opiniões fortes de cada lado. O rancor pessoal muitas vezes sobrevém. Mas isso não é o pior. O pior é quando a máquina estatal é utilizada para expressá-lo. E tentar destruir o outro.
Nas duas últimas eleições para o governo do Estado, trabalhamos para os candidatos Simão Jatene e Márcio Miranda, tendo em comum como adversário Helder Barbalho. Numa, Jatene venceu. Noutra, Márcio perdeu. Em ambas as campanhas, houve acusações, fatos relembrados, denúncias graves, embates pesados. Quando Jatene venceu, os profissionais que trabalharam contra ele continuaram suas vidas normalmente. Quando Márcio perdeu, muitos outros perderam.
Eu continuo, e continuarei, minha vida profissional como sempre: dedicando-me aos clientes e à minha empresa. Mas parece que a vitória eleitoral não bastou. Agora, com o poder nas mãos, é preciso destruir aqueles considerados inimigos. Não é mais um embate democrático, é o peso da máquina contra cidadãos e empresas não alinhados com o pensamento dominante.
Ao me incluir no inquérito da operação “fake news”, o que se pretende é misturar alhos com bugalhos, transformar informação jornalística e mentiras em farinhas do mesmo saco. É claramente confundir e não apurar a verdade.
Hoje, presto serviço para a Prefeitura de Belém e, nessa condição, dou aconselhamentos ao prefeito Zenaldo Coutinho e à sua área de comunicação, sempre pautados no rigor profissional, como sempre faço com os administradores com quem trabalho, qualquer que seja o partido deles. Se as orientações profissionais que ofereço ao meu cliente acabam afetando, de alguma forma, pretensões de outras pessoas, acredito que o problema não seja meu, mas dessas outras pessoas.
Só que, quando essas outras pessoas detém o poder nas mãos, podem exceder no exercício do poder. Foi o que aconteceu na terça-feira, quando policiais civis entraram na minha casa e na minha empresa, levaram equipamentos e papéis, e exibiram para a imprensa algum dinheiro que encontraram em casa.
Da empresa, além de alguns documentos, foi levado o servidor de rede que reúne todos os arquivos de trabalho, e uma história de décadas de muita luta e correção. Ou seja, o núcleo operacional da empresa, sem o qual hoje em dia, numa agência de publicidade, nenhum setor funciona. Não se sabe por quanto tempo os serviços terão que ficar paralisados, prejudicando o trabalho de 25 pessoas.
Do que foi recolhido em casa, havia, em dinheiro, 15 mil reais destinados a cobrir as despesas domésticas e/ou emergenciais nesses tempos de pandemia, de quase 90 dias de quarentena, que não se sabe quando acaba, principalmente para quem, como eu, passou dos 60. Havia também 8 mil e 500 euros que comprei, e apresentei o comprovante, para a viagem pro exterior que faria com a minha mulher e deveria ter acontecido em abril, quando a pandemia nos obrigou a adiá-la. Tudo normal, bem justificado e condizente com o meu padrão de vida. Mas o importante era exibir uma imagem que normalmente se associa a criminosos.
Dos equipamentos, celular e documentos, o que sobressai é a materialização do que acabei de relatar: uma vivência com a informação, que faz parte do acervo do meu trabalho profissional. Nada disso é crime, porque a informação que reúno é pública. Nada é criado, nada é inventado, nada é fake.
Algo mais que aprendi na escola de jornalismo que frequentei, que foi a prática do jornalismo diário, é que a verdade é por demais poderosa. E, por isso, a informação, a comunicação da verdade, incomoda tanto.
Tenho a certeza de que a verdade prevalecerá e a justiça será feita.
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