A morte, por elotrocutamento, do estudante da Universidade do Estado do Pará Márcio Vinícius Sousa Nascimento, forçou à Uepa divulgar uma nota pública, disponível inclusive no site da Agência Pará, omitindo um dado relevante e pouco usual: o de que a Rede Celpa descobriu um gato – um gato institucional, digamos assim – nas instalações do campus III (Escola Superior de Educação Física), justamente onde o universitário morreu no dia 18 passado, uma segunda-feira.
Leiam aqui um trecho da matéria que está na Agência Pará:
Segundo a coordenadora do curso de Educação Física, Lana Peres, em setembro de 2009 a Uepa contratou uma empresa para fazer a adequação da rede elétrica. Após o serviço, a empresa Rede Celpa esteve no local vistoriando as instalações e emitiu laudo liberando a área para as atividades.
É verdade.
Mas não toda a verdade.
Faltou um detalhe para que a verdade fosse completa.
Faltou a dra. Lana Peres dizer que um mês antes, em agosto, a Rede Celpa foi à Uepa para fazer uma vistoria externa e detectou o gato – ou ligação clandestina, ou desvio de energia elétrica ou furto de energia, como queiram.
A descoberta do desvio, que ensejaria a abertura de inquérito policial, uma vez que configura o crime de furto, foi contornada de uma forma, digamos, menos estrepitosa. A instituição admitiu o fato, chamou uma empresa e mandou que reparasse o desvio de energia elétrica imediatamente, readequando as instalações elétricas do campus III.
O curioso ficaria para depois.
Durante os serviços de readequação da rede de energia elétrica no campus III da Uepa, empregados da empresa contratada pela Uepa teriam utilizado material desviado do depósito da Rede Celpa.
Aí, foi diferente.
A Rede Celpa, que preferiu não instaurar o inquérito policial para esclarecer o gato descoberto em agosto, correu à polícia para lavrar um BO (boletim de ocorrência). As suspeitas da Rede Celpa, ressalte-se envolvem não a Uepa, mas a empresa que fez o trabalho para a instituição.
O delegado Rogério da Luz, diretor da Divisão e Investigações Especial, informou ao blog, por telefone, que a Delegacia de Combate aos Crimes Contra as Concessionárias realmente apura a suposta ocorrência do desvio de material do depósito da Celpa.
“O que nós estamos investigando é justamente se o material empregado na restauração da rede de energia elétrica da Uepa é o material que foi desviado do depósito da Celpa”, explicou o diretor. Rogério da Luz acrescentou que as informações de que a polícia já dispõe sobre o desvio de material já foram remetidas à Seccional de São Brás, onde foi instaurado o inquérito que apura a morte do universitário por eletrocutamento.
Uepa confirma o desvio de energia
O Espaço Aberto entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Uepa, questionando a instituição sobre a descoberta do gato, e recebeu por escrito os seguintes esclarecimentos:
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A Universidade do Estado do Pará (UEPA) vem a público para esclarecer os seguintes questionamentos sobre os laudos referentes ao sistema elétrico do Campus III (Escola Superior de Educação Física).
* Em agosto de 2009, a Rede Celpa realizou uma vistoria no Campus III da UEPA e constatou um desvio de energia elétrica, o que foi comunicado à coordenação do campus por meio de laudo emitido pela companhia.
* A coordenação, então, para cumprir o prazo estabelecido no laudo da Rede Celpa e REPARAR IMEDIATAMENTE O DESVIO, contratou uma empresa para executar o serviço.
* Concluído o reparo, a coordenação do Campus III solicitou nova vistoria à Rede Celpa, feita em setembro de 2009, na qual FICOU CONSTATADA A RESOLUÇÃO DO PROBLEMA. A companhia, então, emitiu um laudo com o resultado da referida vistoria, citando o reparo.
* A coordenação entregará cópias de todos os laudos à Polícia Civil, que conduz investigação para apurar a morte do aluno Márcio Vinícius Sousa Nascimento, e à Comissão de Sindicância aberta por determinação da Gestão Superior para apurar os fatos.
* A UEPA, contudo, alerta para que o tema seja tratado com o devido cuidado, uma vez que os laudos técnicos sobre o sistema elétrico do Campus III ainda serão elaborados e emitidos pelo Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, que realizou vistoria no local da fatalidade na última quarta-feira, 20.
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