domingo, 24 de janeiro de 2010
A impunidade vai continuar?
O aumento das penas aplicáveis aos delitos de corrupção é há muito tempo discutido e reivindicado. Não é como se o presidente da República tivesse somente agora descoberto um caminho para a salvação do País; parece que o Brasil foi descoberto em 2003, não é, Aécio Neves? Mesmo porque, como ele mesmo admitiu, esse projeto não operará milagre algum ("Antes tarde do que nunca", VEJA de 16.12.09).
O intrigante dessa história toda é que só o mensalão do Democratas foi capaz de estimular o Poder Executivo a elaborar tal proposição. Interessante, porque não faz muito tempo, quando estourou o mensalão dos petistas, da Corte, somente se ouvia o barulho do silêncio.
Era só o que faltava, o sujo falando do mal lavado. A ministra Dilma Rousseff achou chocantes as imagens do "eficiente" governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e seus delinquentes embolsando dinheiro "caído do céu" e pediu imediatas e severas punições para os ladrões envolvidos. E sobre a quadrilha de José Dirceu e seus meliantes, o que ela opinou quando eclodiu a roubalheira? É essa senhora que - mente e falsifica currículo - está querendo se eleger para o Planalto e está sendo empurrada goela abaixo pelo Nosso Guia para ser presidente da República? Ora, vejam!
Numa busca incessante pelo fim descontrolado da corrupção, a patuléia almeja todos os dias que nossos representantes políticos criem vergonha na cara e percebam quanto nos decepcionam. Como nem tudo pode ser feito do jeito que desejamos, tememos pelo nosso País, onde, por mais sejam mostradas as catástrofes políticas, nada acontece.
Quando se nota dentro das cadeias a ausência total de indivíduos experimentados e de classes sociais privilegiadas, relacionados ao elevado índice de crimes do colarinho branco, nos faltam exemplos a não seguir. A certeza da impunidade para os criminosos desacredita as leis. Então, leis? Pra quê?
Acredita-se que a única conclusão que sobra é a enxurrada de leis penais disponíveis, as penas correspondentes não são cumpridas. O que vale afirmar - pelo menos por aqui: vale a pena delinquir. O exemplo vem lá da Corte: o deputado Leonardo Prudente (sem partido) - torpedeado pelas imagens em que aparece enfiando dinheiro nas meias - assumiu na maior cara de pau a presidência da Câmara Legislativa. Felizmente, o juiz Álvaro Ciarlini, da Justiça do DF, acatou o pedido do Ministério Público Federal e o afastou imediatamente da presidência da Câmara Distrital.
As transgressões de Arruda são frutos do mundo político artificial em que vive a Corte. Essa precariedade torna ainda mais assombroso o fenômeno da roubalheira e sua virulência se transmite através dos túneis de lodo, que é uma espécie de atavismo que marca indelevelmente o caráter desses cidadãos, que deveriam ser dispersos. São indivíduos que desenvolveram seus talentos ao máximo em favor da corrupção, aperfeiçoando habilidades em busca de mais transgressões. Não sentem o mínimo pudor e não dão importância alguma ao fato de serem desonestos. O governador do DF acredita que pode fazer o que lhe der na telha, independentemente de ser ético ou não.
A "propinagem" proporcionou a Arruda uma expansão imobiliária que se estende a agregados da família. São imóveis comprados - com valores declarados bem abaixo dos preços de mercado - desde a vitória de Arruda nas eleições de 2006. E pasmem, a atual sogra do governador, a professora aposentada Wilma Vitoriana de Mello Peres (como uma mestra aposentada, tem tanto $$$), comprou dois apartamentos em Águas Claras, o mais novo paraíso dos investimentos no mercado imobiliário de Brasília.
Calma, a bandalheira continua. Dois filhos do governador - um deles, ainda estudante - compraram outros dois apartamentos na região recentemente. E a primeira-dama, Flávia Arruda, registrou em março a propriedade de um imóvel no mesmo prédio em que a mãe fez negócio. Juntos, esses cinco imóveis valem, pelo menos, R$ 1,3 milhão.
Como o povo brasileiro parece ter memória curta, e seus eleitores não se incomodam com o desdém, é bom lembrar que Arruda é apontado pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, como o líder do suposto esquema de rapinagem que ficou conhecido como o mensalão do DEM.
Todo cuidado, é pouco. O juiz Vinícius Santos Silva, da Justiça do DF, afirma que a CPI da corrupção da Câmara Distrital da Corte, não poderia ter sido encerrada. O juiz acusa "manobra" em defesa de Arruda. O governador, este sim, parece uma metamorfose ambulante, com pinta de que se utiliza de ecletismo, mas não deu a mínima bola para o mais importante: quem o sufragou nas urnas. Portanto, eleitores do Brasil: Não se mirem no exemplo dos eleitores do DF.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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