Jatene responde em carta aos “covardes e sem escrúpulos”

O ex-governador Simão Jatene, presidente de honra do PSDB, divulgou uma carta em que responde a ofensas escritas em outdoors afixados em vários pontos de Belém e nominalmente dirigidas a ele.
A seguir, a íntegra da carta do ex-governador.

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Carta aos que não se curvam aos covardes e sem escrúpulos

Recentemente, ao sair para resolver questões cotidianas, fiquei surpreso ao ver afixado sobre um "outdoor", que registrava discordância quanto à propaganda do governo: " Pará, terra de direitos", uma faixa impressa que agredia a minha honra de forma graciosa e despropositada, como que tentando esconder a crítica feita ao "slogan" governamental.
Passada a indignação natural e a sensação de impotência diante da covardia que quase sempre se esconde no anonimato, procurei refletir sobre o episódio, tentando identificar a autoria bem como a razão de tal atitude.
Antes de tudo, pela consciência tranquila e o respeito que sempre tive para com a população, que nunca me faltou com reciprocidade e carinho, percebi que aquilo, longe de ser uma manifestação popular e espontânea, era algo premeditado e orquestrado, o que foi reforçado pela informação de que sordidez semelhante havia sido reproduzida em várias outras placas que criticavam a propaganda governamental.
Assim, após ter sido aconselhado a procurar a empresa que veiculou a peça original para solicitar que a mesma mandasse retirar a adulteração ofensiva, já que ela também não poderia identificar os autores da canalhice, preferi escrever esta carta, para que as pessoas de bem e do bem, que sei são a esmagadora maioria na nossa cidade e no nosso Estado, possam refletir melhor sobre os tempos que vivemos.
Primeiramente, é bom ressaltar que desconheço os autores do "outdoor" original, mas, pelo que percebi, o mesmo fazia uma crítica ao governo e sua propaganda, sem atingir a honra de quem quer que fosse.
Segundo, como a peça original era assinada, acredito que o comportamento correto de quem se sentiu ofendido ou injustiçado por ela seria procurar a empresa responsável pela sua veiculação e buscar as explicações que julgasse merecedor. Assim, tenho certeza, agiria qualquer pessoa ou grupo político sério, que respeita para ser respeitado.
Desse modo, a forma de reação escolhida pelos que adulteraram o "outdoor", até pelo anonimato, já revela muito bem o caráter dos seus responsáveis e mandantes. É a acusação leviana e irresponsável de quem não aceita a crítica, e só defende a liberdade que lhe favorece. De quem, por não ter honra, não lhe sabe o valor.
Aprendi muito jovem que a solução da grande maioria dos problemas contemporâneos e até a liberdade individual só pode ser garantida pelo esforço coletivo. E essa foi a razão maior que me fez assumir o exercício da política, mesmo ainda adolescente e sem pretender disputar qualquer cargo eletivo.

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“A forma de reação escolhida pelos que adulteraram o ‘outdoor’, até pelo anonimato, já revela muito bem o caráter dos seus responsáveis e mandantes. É a acusação leviana e irresponsável de quem não aceita a crítica, e só defende a liberdade que lhe favorece. De quem, por não ter honra, não lhe sabe o valor.
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Como muitos, diante dos riscos naturais, inclusive da exposição pública, de toda ação coletiva, vivi o drama da incerteza e insegurança, que é uma das grandes travas a que as pessoas corretas se engajem mais. Mas a crença de que só o esforço comum pode nos livrar da "ditadura do mercado" ou "do estado" superou todos os medos. E não me arrependo.
Foi no exercício responsável da militância que fui formando minhas convicções a respeito do poder e percebendo que, embora muitos o busquem como instrumento "pra ter" e "pra ser", isso não lhe retira o condão de ser ferramenta decisiva "pra fazer", e fazer coisas boas e necessárias para a sociedade.
Embora reconheça as razões dos desencantos que, sobretudo nos nossos dias, se abatem sobre tantos, quando penso nos desafios que temos e na solidariedade da maioria da nossa gente, me convenço de que mesmo correndo o risco de enfrentar a covardia, a falta de escrúpulos e até a incompreensão legitima de alguns, é preciso não desistir de tentar colocar a política a serviço do bem.
Política que só é democrática e transformadora se, ao tempo em que rompe com os limites à liberdade do cidadão, também o capacita para que possa, individual e coletivamente, traçar seus próprios limites individuais e coletivos. Sem isso é a má política. É o vale tudo.
Já disse em outras oportunidades que, ainda que seja forçado a reconhecer que, lamentavelmente, ética e política nunca foram tão próximas como deviam, também é difícil negar que tenham estado tão longe quanto nos dias atuais. Tentar se aproveitar dessa triste realidade para a agressão leviana como forma de confundir, é apostar na esperteza em lugar da sabedoria, é desqualificar a política e os políticos afastando as pessoas de bem do seu exercício.
Fazer da ação política uma ação cínica e não cívica pode confundir alguns, pode até ser eleitoralmente eficiente, mas é retirar da sociedade o único instrumento pacífico de resolução de conflitos.
Por isso é que, verdadeiramente, já não mais me interessa saber exatamente quem foram os autores, deles já sei o suficiente. São pequenos. De alma pequena, pequenos de caráter. Pequenos de coragem. Pequenos de sabedoria. Pequenos para o Pará. Simplesmente pequenos.

Simão Jatene
Ex-governador do Pará