Kit escolar: entre a propaganda e a realidade

Com essa embrulhada toda de kits escolares, o governo Ana Júlia tem sido pródigo em oferecer evidências da distância que separa o discurso da prática e da distância – maior ainda – que separa a propaganda da realidade.
O governo Ana Júlia, por exemplo, prega a geração de emprego e renda, mas mandou confeccionar agendas – cerca de 1,2 milhão, ao que se diz – na Gráfica Santa Marta, situada em João Pessoa, a capital da Paraíba.
Esse é um exemplo - apenas e tão somente um exemplo - da distância entre o discurso e a prática.
Vamos agora medir o abismo entre a propaganda e realidade.
Propagandas institucionais são necessárias.
Claro que são.
São formas legítimas de comunicação entre o Poder Público e a sociedade.
O Poder Público precisa prestar contas do que faz. Claro.
Mas todas as vezes em que presta contas, expõe-se à auditoria popular. Claro.
Estamos, ao que parece, entendidos quanto a isso.
Agora, deem uma olhada na peça acima, assinada pela Vanguarda, agência que sem dúvida é uma das melhores do Estado.
A peça está publicada na primeira página do caderno Poder, de O LIBERAL, e na página 11 do primeiro caderno do Diário, ambas as edições deste domingo.
O título do anúncio diz tudo:

Kit Escolar.
Dignidade para quem estuda.
Economia para quem trabalha.

Essa é a propaganda.
Vamos à realidade.
O mesmo O LIBERAL deste domingo, na página 13 do primeiro caderno, traz duas reportagens.
Manchete da página: “Mochilas do kit já começam a rasgar”.
Subtítulo de outra matéria na mesma página: “Estudantes cobram entrega dos uniformes prometidos pelo Estado”.
O jornal apresenta a foto de um garoto, identificado como Jorge Henrique – que estuda na Escola Gregório de Almeida Brito - e sua mãe, Neila Oliveira.
Em quatro colunas, a foto mostra a mãe indicando a área da mochila que já está rasgada.
“Ele ficou muito feliz por ter recebido a mochila com a agenda e foi logo com ela para a escola. Dentro dela ia, além da agenda, apenas um caderno e as canetas. Mas com mais ou menos duas semanas de uso, meu filho chegou com ela rasgada em casa”, diz a mãe do garoto, segundo a reportagem.
Continua a matéria: “Neila conta que, a pedido do filho, já tentou várias vezes consertar a mochila. A dona de casa acredita que a bolsa na suportaria o peso do livro e do caderno, pois, segundo ela, o material com o qual a mochila foi confeccionada é de má qualidade. ‘O meu filho gostou muito da mochila e me pediu para consertá-la. Eu já a costurei pelo menos uma duas vezes, mas ela não aguenta e volta a rasgar’”, informa Neila.
Aí está.
Aí está o governo Ana Júlia em várias faces, em várias rostos.
Um governo Ana Júlia com vários rostos.
O governo Ana Júlia do discurso é um.
O governo Ana Júlia da prática é outro.
O governo Ana Júlia da propaganda é mais outro.
O governo Ana Júlia da realidade é outro mais.
Escolham.
Há governo Ana Júlia para todos os gostos.
Todinhos.
Obrigado, Excelência, por nos oferecer, democraticamente, um governo com várias caras, com frentes e versos, com versos e reversos.
Um governo, repita-se, para todos os gostos.
Quem quiser que os deguste.

Com ou sem farinha d'água.

Com ou sem açaí na sobremesa.
Tintim!