quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sai um pão com ovo aí...

Uma broca é uma broca.
Uma fome é uma fome.
Um pão com ovo é um pão com ovo para matar a fome de quem está brocado.
Dia desses, bacharel em Direito foi levar a namorada à casa da costureira, no Jurunas.
Aliás, costureira, não. Estilista.
Costureira que é costureira não gosta mais de ser chamada de costureira, mas de estilista.
Enfim...
O casal, a bordo de um Corola novisco, foi ao Jurunas em pleno horário de almoço.
Ele estava com uma fome daquelas.
Uma fome, digamos, de R$ 30. Ou de R$ 300.
Mas ele não tinha mais do que R$ 3,00. Isso mesmo. Só tinha três reais no bolso.
No bolso, não. No carro.
Precisou revirar até o estepe para descobrir, catadas, várias moedinhas que, juntas, somavam preciosos e providenciais três reais.
A namorada ainda tentou convencer o cara de que seria melhor almoçar direito depois que eles saíssem da costureira (ou estilista, como queiram).
- Estou morto de fome. Mor- to. Preciso comer agora. Agorinha. Qualquer coisa - decretou o cara.
Os dois estacionaram o Corola no pior ponto - misto de boteco, bar, lanchonete e pensão - do Jurunas.
Bem ao lado do pior ponto do Jurunas havia um quase-restaurante que permita gastos com todos os cartões de crédito do mundo.
Mas o cara do Corola preferiu, vejam só, o pior ponto do Jurunas.
Sentaram-se os dois. Ela, tensa.
E ela, quando tensa, começa a lamber, a molhar os próprios lábios repetidamente. Além disso, começa a passar os dedos na ponta do nariz, como se estivesse a coçá-lo.
Pois esses tiques, nervosíssimos, começaram a manifestar-se violentamente.
Ela tensa. Ele, com fome.
Apresentou-se o atendente.
- Me veja o cardápio, por favor - disse o cara, o mesmo que acabara de chegar no carro reluzente, estacionado na porta, mas que tinha apenas três reais - catados - no bolso.
Sorte! O cardápio mostrava lá pelo fim: "Pão com ovo e queijo - R$ 3,00".
Exatamente três reais.
Depois do exame e da descoberta, ele empertigou-se, empostou a voz e anunciou para o atendente.
- Me traga um pão com ovo e queijo.
Vontade satisfeita, chegou à mesa o pão com ovo e queijo.
- Alguma coisa para beber, senhor?
- Não. Nada. Já tomamos refrigerante antes de vir pra cá - mentiu o dono do carro reluzente, que então já coçava os bolsos para procurar os três reais e pagar o sanduíche.
A namorada, meio constrangida e cada vez mais nervosa, cada vez mais molhando os lábios e coçando a ponta do próprio nariz, propôs meio que segredando:
- Tu não achas que vai ficar meio chato a gente ficar aqui, comendo esse pão com ovo, sem nada para beber? Era melhor tu ires comendo isto no carro. E outra coisa. Acho que se nós ficarmos aqui, vamos ter que pagar os 10%. E nós só temos R$ 3,00 - lembrou a namorada - crescentemente tensa - entre uma lambidinha e outra nos próprios lábios, uma coçadinha e outra no próprio nariz.
- Rssss. Mas tu achas que vão nos cobrar 10% neste lugar aqui? - debochou o cara.
Mesmo assim, ele concordou que era melhor irem embora.
- Amigo, nós já vamos. Eu quero lhe pagar - disse o esfomeado, enquanto entregava os R$ 3,00 ao atendente.
- Mas isto não dá...
- Por que não dá?
- Porque são R$ 3,30. Falta os 10%. E se não pagar, não come - avisou o atendente para o esfomeado, que até então ainda não dera a primeira mordida no pão com ovo e queijo.
A alternativa?
Procurar os R$ 0,30 no carrão reluzente, enquanto o pão com ovo e queijo continuava intacto, sem a primeira mordida.
Os dois voltaram ao carro. Levantaram bancos, procuraram embaixo de cadernos e livros, reviravam o porta-luvas e encontraram.
Encontraram exatíssimos R$ 0,30.
E assim é que se consumou a primeira mordida.
E a primeira mordida revelou que o pão com ovo e queijo não era tudo isso. Era apenas e tão somente um pão com ovo. Não tinha queijo.
- Fomos enganados – reclamou o cara.
- Pois é – concordou a namorada, ainda coçando o nariz, mas bem menos tensa. – E nós ainda fomos enganados...
O ainda, vocês sabem, ressoava com aquela pesadíssima carga de quem confessa ter sentido o peso da humilhação.
Mesmo assim, o cara devorava o pão com ovo de R$ 3,30 – sem o queijo.
Devorava-o a bordo do carrão reluzente, com ar-condicionado e trilhando em direção à casa da costureira.
Ou da estilista, se quiserem.

10 comentários:

Anônimo disse...

Poster, desculpe minha indiscrição, mas para saber tanto desses detalhes você por acaso não estaria no banco de trás e tinha também esquecido da carteira?? hauahahuahahua

Caso contrário,para vc saber dos detalhes, seria um amigo seu? tipo, amigo intimo, pão-duro, morto da fome e sem medo de ser assaltado em pleno Jurunas???

Imagina a manchete: DONO DE CARRO IMPORTADO É ASSALTADO COMENDO PÃO COM OVO NO JURUNAS!!!

Para os sensacionalistas (que compram jornal só para ler a desgraça alheia) ia ser um prato cheio (desculpe o trocadilho)

Anônimo disse...

O Espaço (sempre) Aberto bem poderia fazer uma "corrente" cibernética para colaborar com uma melhoria da alimentação desse avarento.
Antes que um ovo vencido lhe estrague o "retentor" e o leve a procurar...o SUS!!!
Se bem que ele, o avarento, faz por merecer, né não seu E.A.? rs

Anônimo disse...

Que bacharel em Direito é esse que não sabe que pagar os 10% não é obrigatório?



Victor Picanço

Unknown disse...

Olá Paulo. Nem carro eu tenho, mas como bem! Rs. E tem muita gente como o amigo do carrão por aí, né?
Grande abraço.

Poster disse...

Newstein, hahahaha.
Não, amigo.
Eu não estava no banco de trás, não.
E se estivesse, teria escondido R$ 1 em moedas apenas para o cara e a namorada - ambos pessoas do coração aqui do blog - não se exporem ao risco.
Mas, graças a Deus, tudo terminou mesmo apenas numa vexame regado a pão com ovo.
Abs.

Poster disse...

Anônimo das 13:56,
Coitado do cara.
Ele não é avarento, não. Isso eu lhe garanto.
Ele apenas é esfomeado.
Deu pra perceber, não? (rssssss).
Abs.

Poster disse...

Victor amigo,
Ele sabe, sim, dos 10%.
Mas não acreditava que na "instalação" onde pararam fossem cobrar os 10%.
E, além disso, estava torcendo para que não cobrassem, porque não tinha os R$ 0,30. Só foi catá-los quando os 10% foram cobrados.
Coisas de esfomeado, como você vê.
Abs.

Poster disse...

Caro Cleiton,
É mesmo?
Você come bem?
Mas olha, o cara também come.
Aliás, devo revelar uma coisa: é um excelente mestre-cuca. Especialista em massas, porque a família descende diretamente de italianos.
No entanto, naquele dia, tudo terminou no Irajá...
Aliás, tudo terminou num pão com ovo (hahahahaha).
Abs.

Unknown disse...

Acho que eu conheço esse casal aí! Sem sombra de dúvidas, um casal mto querido. Tenho certeza que pro poster também. Lendo esse post do amigo catando moedad pra comer um pão com ovo entendo o porque do meu almoço com o casal não ter saido até hoje. E olha que eles gostam de um almoço fora, pelo menos ele... Hahahahaha. Parabéns pelo blog. Grande abraço.


Victor Gurjão.

Poster disse...

É sim, Victor.
É um casal queridíssimo aqui do blog.
E olhe, quando você for almoçar com ele, sugira para que ele prepare um pão com ovo. Igualzinho ao que ele comeu no Jurunas (rsssss)
Abs.