sábado, 17 de janeiro de 2009

O que o mundo pode esperar de Obama

Na ÉPOCA:

Desde 1789, quando George Washington acrescentou “Que Deus me ajude” ao texto de 35 palavras de seu juramento como primeiro presidente dos Estados Unidos, essas palavras nunca haviam soado tão apropriadas quanto nesta terça-feira, dia 20, quando Barack Hussein Obama tomar posse como o 44º presidente americano. O primeiro negro a liderar a maior potência econômica e militar do mundo assume o cargo com uma festa que deverá levar mais de 2 milhões de pessoas às ruas de Washington, na maior demonstração de júbilo político da história americana. Mas sua Presidência começa sob uma conjunção aziaga de guerra e recessão que nenhum outro presidente enfrentou. Abraham Lincoln assumiu sob ameaça de guerra civil, em 1861, e Franklin Delano Roosevelt chegou ao poder em 1933, no auge da pior depressão da história do capitalismo. Ambos triunfaram. Obama terá de lidar com as guerras intratáveis do Iraque e do Afeganistão (que já mataram 6 mil soldados americanos) enquanto tenta reverter um colapso econômico que reduziu o Produto Interno Bruto (PIB) do país a 5% de crescimento negativo no ano passado. Obama poderá entrar para a história como grande estadista ou ser soterrado pela avalanche de eventos. Apropriadamente, já avisou que vai repetir o apelo religioso de Washington.
Marcada para as 11h30 da manhã (14h30 no horário brasileiro), a cerimônia de posse de Obama será regida pela figura patriarcal de Lincoln, talvez o maior presidente da história americana, certamente aquele a cuja determinação se deve a unidade de país (testada pela Guerra da Secessão, na qual morreram 600 mil pessoas) e o fim da escravidão nos Estados Unidos. Como Obama, ele era representante político do Estado de Illinois, embora nascido no Kentucky. Obama nasceu no Havaí. Como Obama, Lincoln era pobre, tornou-se advogado e fez uma carreira política singular, que o levou à Presidência por meio de atalhos contornando a estrutura de poder tradicional. Foi um dos fundadores do Partido Republicano. Como Obama, Lincoln falava, pensava e escrevia com clareza e tinha capacidade natural de ouvir adversários, compor e conviver com eles – embora fosse um homem de extraordinária coragem e firmeza de convicções, virtudes que Obama ainda não teve a chance de demonstrar.

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