quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O hífen é grande vilão do (Des)Acordo Ortográfico

Por Pasquale Cipro Neto, na “Folha”

Feitas para descomplicar, as novas regras do uso do hífen acabaram criando labirintos até agora indecifráveis.
Em tese, o critério adotado é simplificador. Com boa parte dos prefixos ("auto", "semi", "anti" etc.) e com elementos de composição ("mega", "multi", "micro" etc.), emprega-se hífen basicamente em duas situações: quando o segundo elemento começa por "h" ou por letra igual à que encerra o prefixo ou elemento de composição.
Tradução: em "anti-inflamatório" e "mega-hotel", há hífen; em "antiaéreo" e "megaempresa", não. Nesses casos, se o segundo elemento começa por "r" ou "s", dobram-se essas letras: "antissocial", "megarraio".
É claro que a questão não se limita ao visto no parágrafo anterior. A "Base XVI" ("Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação") do texto oficial do Acordo não é precisa o bastante para deixar claro o que ocorre, por exemplo, com o prefixo "re-": aplica-se ao pé da letra a orientação vista acima e coloca-se hífen em "re-educar" e "re-eleger" ou se dá um "jeitinho" e se encaixa esse caso (e outros) numa interpretação particular e se preserva a grafia atual ("reeducar", "reeleger"), mais palatáveis?
O "Vocabulário Ortográfico" (prometido para o mês que vem) deve desfazer (espera-se) esse e muitos outros nós, que não cabem neste espaço. É isso.

4 comentários:

Anônimo disse...

Não consta que o se use hífen entre os franceses, alemães, dinamarqueses, americanos, inglêses e japoneses e todos são superpotencias, certamente pelo investimento que fizeram na educação.
Por aqui se preocupam onde colocar o hífen. É uma piada. Os países desenvolvidos conseguiram há mais de 60 anos lançar foguetes rumo ao espaço, desenvolvendo tecnologia em todas as áreas do conhecimento, e isso tudo sem o hífen.
É uma pena a perda de tempo. Aliás, o tempo desses estudiosos deveria ser dedicado a descomplicar. Se não tem competência para isso imagine para o resto.
Recomendo a eles: vão-pra-casa-do-barbalho ou pra-luta-que-faliu.

Anônimo disse...

Do jornalista Guilherme Fiuza:

Reforma de português

Quantos portugueses são necessários para trocar uma lâmpada? E para trocar a língua? Resposta: meia-dúzia de patrícios para bagunçar o idioma e quase 200 milhões de brasileiros para se adaptar à bagunça.

Mas meia-dúzia agora é com hífen ou sem hífen? E o hífen continua sendo com h? Dizem que passará a se escrever yfen. Menos uma letra e um acento, faz sentido – dois toques a menos no teclado.

E já que pára e para serão escritos da mesma forma – o bom entendedor que se vire –, sem acento e sem assento também poderiam ser unificados. Pelo sentido da frase você deduziria se a supressão é para palavras ou para nádegas.

Mas chega de reclamar de barriga cheia. O brasileiro vai ter que rebolar, o estudante vai ter um stress a mais nas provas, empresas e instituições em geral terão um custo monumental para atualizar documentos e publicações, serão três anos de caos gramatical em que cada um escreverá como quiser – e cada leitor reclamará do que quiser, com razão –, mas você poderá bater no peito e dizer, orgulhoso, que a sua língua é idêntica à de São Tomé e Príncipe.

É muito importante a unificação desse bloco cultural. E essa unificação não podia deixar de ser feita de forma lusitana: a população de Guiné Bissau, que cabe numa Kombi, segura a lâmpada, enquanto a população brasileira, que ocupa um continente, gira a escada.

Nada contra o jeito português de ser. É só uma piada. Os donos de gráfica e de editoras de livro didático estão morrendo de rir.

Mas isso não vai ficar assim. Há notícias de que está em gestação no PT uma nova reforma, instituindo a língua presa como nosso idioma oficial. É a língua falada por nove entre dez representantes da nova elite brasileira. Este, sim, seria um grrrande avansso fofial.

Poster disse...

Caro Guilherme, caro Anônimo.
Os comentários de vocês, além de bem-humorados (tem hífen mesmo?), contêm muitas colocações pertinentes.
Mas acho, amigos, que a reforma é boa. As línguas são vivas, são dinâmicas, devem acompanhar a evolução dos tempos.
Mas é evidente que toda mudança gera resistências.
Mas vamos em frente.
Em pouco tempo, já estaremos acostumados.
Se é que já não estamos.
Abraços a vocês.

Anônimo disse...

Ao contrário do que escreveu o anônimo das 10:33, em inglês existem várias palavras com hífen, ex.: e-mail, empty-handed, etc. Em francês: moissonneuse-batteuse. Alemão: x-beinig. E por aí vai.
Na realidade esse Acordo Ortográfico tem mais o cunho comercial do que prático.
Com um presidente que tem "azia" quando lê, não poderia ser diferente.