Por Pasquale Cipro Neto, na “Folha”
Feitas para descomplicar, as novas regras do uso do hífen acabaram criando labirintos até agora indecifráveis.
Em tese, o critério adotado é simplificador. Com boa parte dos prefixos ("auto", "semi", "anti" etc.) e com elementos de composição ("mega", "multi", "micro" etc.), emprega-se hífen basicamente em duas situações: quando o segundo elemento começa por "h" ou por letra igual à que encerra o prefixo ou elemento de composição.
Tradução: em "anti-inflamatório" e "mega-hotel", há hífen; em "antiaéreo" e "megaempresa", não. Nesses casos, se o segundo elemento começa por "r" ou "s", dobram-se essas letras: "antissocial", "megarraio".
É claro que a questão não se limita ao visto no parágrafo anterior. A "Base XVI" ("Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação") do texto oficial do Acordo não é precisa o bastante para deixar claro o que ocorre, por exemplo, com o prefixo "re-": aplica-se ao pé da letra a orientação vista acima e coloca-se hífen em "re-educar" e "re-eleger" ou se dá um "jeitinho" e se encaixa esse caso (e outros) numa interpretação particular e se preserva a grafia atual ("reeducar", "reeleger"), mais palatáveis?
O "Vocabulário Ortográfico" (prometido para o mês que vem) deve desfazer (espera-se) esse e muitos outros nós, que não cabem neste espaço. É isso.
4 comentários:
Não consta que o se use hífen entre os franceses, alemães, dinamarqueses, americanos, inglêses e japoneses e todos são superpotencias, certamente pelo investimento que fizeram na educação.
Por aqui se preocupam onde colocar o hífen. É uma piada. Os países desenvolvidos conseguiram há mais de 60 anos lançar foguetes rumo ao espaço, desenvolvendo tecnologia em todas as áreas do conhecimento, e isso tudo sem o hífen.
É uma pena a perda de tempo. Aliás, o tempo desses estudiosos deveria ser dedicado a descomplicar. Se não tem competência para isso imagine para o resto.
Recomendo a eles: vão-pra-casa-do-barbalho ou pra-luta-que-faliu.
Do jornalista Guilherme Fiuza:
Reforma de português
Quantos portugueses são necessários para trocar uma lâmpada? E para trocar a língua? Resposta: meia-dúzia de patrícios para bagunçar o idioma e quase 200 milhões de brasileiros para se adaptar à bagunça.
Mas meia-dúzia agora é com hífen ou sem hífen? E o hífen continua sendo com h? Dizem que passará a se escrever yfen. Menos uma letra e um acento, faz sentido – dois toques a menos no teclado.
E já que pára e para serão escritos da mesma forma – o bom entendedor que se vire –, sem acento e sem assento também poderiam ser unificados. Pelo sentido da frase você deduziria se a supressão é para palavras ou para nádegas.
Mas chega de reclamar de barriga cheia. O brasileiro vai ter que rebolar, o estudante vai ter um stress a mais nas provas, empresas e instituições em geral terão um custo monumental para atualizar documentos e publicações, serão três anos de caos gramatical em que cada um escreverá como quiser – e cada leitor reclamará do que quiser, com razão –, mas você poderá bater no peito e dizer, orgulhoso, que a sua língua é idêntica à de São Tomé e Príncipe.
É muito importante a unificação desse bloco cultural. E essa unificação não podia deixar de ser feita de forma lusitana: a população de Guiné Bissau, que cabe numa Kombi, segura a lâmpada, enquanto a população brasileira, que ocupa um continente, gira a escada.
Nada contra o jeito português de ser. É só uma piada. Os donos de gráfica e de editoras de livro didático estão morrendo de rir.
Mas isso não vai ficar assim. Há notícias de que está em gestação no PT uma nova reforma, instituindo a língua presa como nosso idioma oficial. É a língua falada por nove entre dez representantes da nova elite brasileira. Este, sim, seria um grrrande avansso fofial.
Caro Guilherme, caro Anônimo.
Os comentários de vocês, além de bem-humorados (tem hífen mesmo?), contêm muitas colocações pertinentes.
Mas acho, amigos, que a reforma é boa. As línguas são vivas, são dinâmicas, devem acompanhar a evolução dos tempos.
Mas é evidente que toda mudança gera resistências.
Mas vamos em frente.
Em pouco tempo, já estaremos acostumados.
Se é que já não estamos.
Abraços a vocês.
Ao contrário do que escreveu o anônimo das 10:33, em inglês existem várias palavras com hífen, ex.: e-mail, empty-handed, etc. Em francês: moissonneuse-batteuse. Alemão: x-beinig. E por aí vai.
Na realidade esse Acordo Ortográfico tem mais o cunho comercial do que prático.
Com um presidente que tem "azia" quando lê, não poderia ser diferente.
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