segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Desta vez, Israel terá sucesso

Por LAWRENCE FREEDMAN

A operação em Gaza é consequência direta da guerra de 2006 no sul do Líbano. As semelhanças entre ambas estão levando muitos a prever resultado semelhante, com Israel condenado por provocar sofrimento humano e, ao mesmo tempo, sofrer uma humilhação militar.
Como em 2006, Israel reage a provocações lançadas do outro lado de sua fronteira e combate em territórios que ocupou no passado, mas dos quais se retirou na esperança de viver com mais calma. Como em 2006, a operação começou com ataques aéreos criticados como desproporcionais, seguidos, com receios, por uma ofensiva terrestre.
Em 2006, os israelenses feriram o Hizbollah, mas não conseguiram alcançar seus objetivos políticos excessivamente ambiciosos. Eles pareceram não ter resposta a dar aos foguetes disparados contra Israel por milícias móveis e se saíram mal no enfrentamento com essas milícias em combates terrestres. O Hamas achou que também poderia lançar ataques de foguetes contra Israel com impunidade.
Israel sabe que, se fracassar de novo, terá reduzido qualquer dissuasão contra ataques futuros. Mas a lições aprendidas em 2006 podem ser vistas em todos os aspectos da campanha atual. Em lugar de resposta militar improvisada, o governo israelense avisou o Hamas dos riscos que uma nova ofensiva com foguetes incorreria. Israel não se fixou objetivos pouco realistas: fala mais em reduzir que em eliminar a infraestrutura militar do Hamas.
Gaza é um ambiente operacional menos temível que o Líbano. Dividir o território em dois, reduzindo a capacidade de combatentes do norte obterem abastecimento do sul, dá a Israel uma posição que poderá manter se ficar atolado em Gaza por muito tempo.
Desta vez foi o Hamas que cometeu os erros maiores. O grupo não levou em conta como poderia reagir um governo israelense a poucas semanas de uma eleição geral. Politicamente, se colocou em uma posição em que um cessar-fogo será visto como derrota, porque vai exigir aceitar o fim dos disparos de foguetes. Os apelos por um cessar-fogo vão aumentar. Se for oferecido monitoramento apropriado, Israel deve aceitar. Sem um cessar-fogo, os riscos para Israel aumentarão. Se os foguetes continuarem a chegar, perguntas serão feitas sobre o que foi conquistado de fato.
O valor de qualquer vitória que Israel declarar após um cessar-fogo será contestado se as divergências que tornam esses choques tão regulares continuarem. A premissa de que esta rodada mais recente vai endurecer as atitudes palestinas pode ser acertada. Mas é igualmente provável que uma combinação de cansaço de guerra e um Hamas enfraquecido abra novas oportunidades. Para que estas possam ser aproveitadas, Israel terá que afrouxar seu controle sobre a vida e o território palestino, a fim de que suas declarações sobre seu desejo de paz ganhem mais credibilidade.

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LAWRENCE FREEDMAN é professor de estudos da guerra no King's College de Londres. Este artigo foi publicado no "Financial Times"
Artigo disponível na “Folha de S.Paulo”

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