Uma jornalista – também cidadã - em vigília no Senado

Por Rita Soares

São 3h30 da manhã de quarta-feira, 19 de novembro. A sessão do Senado Federal que se iniciou às 14h da terça-feira, 18, só será encerrada daqui a pouco, às 6 da manhã.
Os corredores do Senado estão vazios. No plenário, 12 senadores se revezam na tribuna: Figuras emblemáticas do parlamento (Pedro Simon); membros empedernidos da base aliada do governo, integrantes da oposição. Os três senadores do Pará estão entre os que agüentam firmes e fortes a longa vigília.
Nos gabinetes, assessores abrem freneticamente a caixa de e-mails dos senadores. Pouco depois da meia-noite, já eram quase mil mensagens para o senador José Nery, a quem assessoro. Acredito que o mesmo tenha acontecido com os demais senadores.
As mensagens chegam de todo o Brasil e surpresa: diferente do que é comum acontecer. Desta vez, os eleitores se dizem orgulhosos do Senado, fato raro numa Casa que, diante de tantos escândalos, andava com a bola meio murcha junto aos cidadãos.
O motivo da vigília dos senadores e de tamanho apoio dos eleitores é uma queda-de-braço com o governo federal em defesa dos aposentados. O Senado aprovou, por unanimidade, três projetos de lei de autoria do senador Paulo Paim que ajudavam a repor as perdas acumuladas pelos aposentados em suas remunerações.
À tarde, o ministro da Previdência esteve no Senado. Em reunião com um grupo de parlamentares, afirmou que o governo não se opunha às propostas já aprovadas, mas disse que não havia recursos para pagar os benefícios previstos.
Os senadores afirmaram estar dispostos a negociar alternativas e ficou acertado que, em uma semana, haveria nova reunião. O desafio era buscar formas de conciliar o interesse dos aposentados com a saúde financeira do Estado.
Na saída, contudo, o ministro falou para a imprensa que os senadores haviam concordado com o veto do governo às propostas. A declaração causou indignação, e o resultado foi a vigília.
Concorde-se ou não com o aumento de salário para os aposentados, esta foi uma sessão que não se pode ignorar e algumas lições podem ser tiradas desta longa noite no plenário do Senado.
A primeira é que os parlamentares, independentemente do partido, do Estado ou do espectro ideológico em que se encontram, se importam e muito com o que dizem os eleitores.
Não tenho dúvida de que o combustível para esta vigília foram as mensagens de apoio que chegavam a todo momento de todos os cantos do País. Cada nova mensagem lida no plenário aumentava os ânimos de quem estava prestes a ser vencido pelo sono.
Outra lição é que essa enxurrada de mensagens só foi possível graças à TV Senado. Ou seja, a transparência que um veículo como esse permite cria um círculo virtuoso. As boas ações são mostradas, ganham apoio dos cidadãos (reforço) e tendem a se repetir. Pena que ainda são poucos os privilegiados que podem ver em suas casas a TV Senado.
Alguns podem afirmar que essa noite de “blablablá” não leva a lugar nenhum; outros podem dizer que se trata apenas de demagogia (no mau sentido da palavra) ou mero proselitismo. Há ainda quem afirme que os senadores queriam apenas aparecer. Mas que mal há em querer aparecer defendendo uma boa causa?
Por fim, não há como negar: como servidora do Senado, detestei a virada; mas como cidadã, foi ótimo acompanhar os políticos com a mão na massa, trabalhando duro em defesa de um direito dos aposentados. Quem sabe isso não pode se repetir em prol de outras causas?
Quanto aos efeitos da vigília, é difícil prever, mas sem dúvida, qualquer que seja o resultado, será melhor do que se os senadores tivessem simplesmente ido para suas casas dormir o sono dos justos (alguns nem tão justos).

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RITA SOARES, jornalista paraense, é assessora do senador José Nery (PSOL-PA)