domingo, 6 de abril de 2008

Almir Gabriel não chegou a receber Simão Jatene

É verdade que o ex-governador Simão Jatene nunca quis brigar o ex-governador Almir Gabriel.
É verdade que a amigos próximos sempre costuma dizer que “ele [Almir] briga comigo, mas eu não brigo com ele”.
É verdade que jamais perdeu a esperança e a disposição de reconciliar-se com seu antecessor por oito anos no governo do Pará.
É verdade que agora foi a São Paulo para ter um encontro com o governador tucano José Serra.
É verdade que também alimentava a intenção de aproveitar a viagem para se reencontrar com Almir no Hospital do Coração e passar a esponja num rompimento – que Jatene sempre diz ser unilateral, da parte contrária – que remonta ao final da campanha eleitoral de 2006, quando a vitória da governadora Ana Júlia (PT) interrompeu 12 anos de continuados governos tucanos no Pará.
É verdade, aliás, é verdade mais do que verdadeira que Jatene, sempre com o espírito desarmado, chegou a ir pessoalmente ao Hospital do Coração para se encontrar com Almir.
Tudo isso é verdade.
Mas, seguramente, é verdade também que o ex-governador Simão Jatene não conseguiu se encontrar com Almir, ao contrário de outros políticos e amigos do ex-governador que tiveram acesso garantido ao paciente. Os dois não chegaram a trocar uma palavra sequer. Não chegaram a travar qualquer conversa – de curta, média ou longa duração.
E seguramente, em conseq üência, a verdade é que as relações entre as duas maiores liderança tucanas no Estado do Pará ainda estão rompidíssimas, como sempre estiveram ao longo de quase um ano e meio, praticamente. E se o rompimento se mantém, vale sempre repetir, não é porque o queira o ex-governador Simão Jatene.
O blog conversou com quatro pessoas que privam da intimidade de Almir ou são muito chegadas a ele. Todas confirmaram que Jatene chegou a ir ao Hospital do Coração. E todas confirmaram que o encontro não chegou a ocorrer. O que variou, segundo a versão que apresentaram, foi a descrição sobre a forma com que Jatene deixou de ser recebido por Almir.
Uma delas garantiu que o ex-governador foi ao HCor, chegou a subir até as dependências onde normalmente os familiares recebiam os amigos, falou brevemente com alguns e deixou registrada a sua presença no livro de visitas.
As outras garantem que nem isso aconteceu. Por essas versões, Jatene nem sequer teria recebido autorização para ter acesso a familiares de Almir, quanto mais ao quarto onde estava o ex-governador, que então ainda se encontrava na Unidade Coronária do Hospital do Coração.
Uma dessas fontes, indagada pelo blog sobre a versão corrente de que Jatene teria sido recebido rapidamente por Almir e conversado com ele sem a presença de testemunhas, diz que não haveria nem sentido o encontro entre ambos ter ocorrido como se fosse uma conversa reservada, sigilosa, sem ouvidos de terceiros a conferir o que conversavam.

Da decepção à animosidade
A animosidade de Almir Gabriel para com o ex-governador Simão Jatene é uma ferida que começou primeiro com a decepção da derrota em 2006. E derrota, como se sabe, é a mãe de grandes contrariedades, de grandes inimizades; às vezes, é a mãe de definitivos afastamentos e de tratamentos gélidos que o derrotado retribui àquele ou àqueles a quem, justamente ou injustamente, elege como o responsável pela derrota.
E a derrota nas urnas em 2006, no caso de Almir, foi dolorosa em diversos aspectos, porque evocam, para o ex-governador e sua família, situações adversas que todos têm procurado esquecer nos últimos meses, tão dolorosas e recentes elas ainda se mostram.
Primeiro, Almir sofreu o tranco de ver ceifado seu projeto de tornar-se o único governador do Pará eleito por três vezes. Além disso, amargou a decepção de perder justamente para o PT, um partido que sempre lhe foi hostil. Passou pela amargura de ter disputado uma campanha em que sofreu tiroteio pesado dos veículos de comunicação do deputado federal Jader Barbalho, presidente regional do PMDB, com quem se recusou a fazer uma aliança – que na época chamava-se de acórdão – que era plenamente digerível por vários segmentos do próprio PSDB.
Essas amarguras, que têm origem estritamente no campo político, inevitavelmente extravasaram para o campo pessoal. E mais do que isso, para o campo sentimental. E mais, mais do que extravasar para o campo sentimental, extravasaram para o campo familiar.

Angústia e tristeza
O final do ano de 2006 foi terrível para a família de Almir Gabriel. Não bastasse a derrota nas urnas, em outubro, Almir passou pela angústia e pela tristeza de ver, precisamente no dia 14 de novembro daquele ano, seu filho Marcelo Gabriel preso e algemado, juntamente com outras pessoas que a Polícia Federal prendeu durante a Operação Rêmora, deflagrada para desbaratar um grupo que supostamente – conforme acusações da PF e do Ministério Público Federal – fraudava licitações públicas e cometia outros crimes que incluíam falsidade ideológica e sonegação previdenciária.
Em novembro de 2006, Jatene, ainda governador, não teve a rigor qualquer interferência ou participação – por mais remota que fosse – para que a prisão de Marcelo se consumasse. Como governador, também não poderia interferir para que o filho de Almir viesse posteriormente a ser liberado da prisão preventiva que lhe foi imposta pela Justiça Federal.
Mas entre o círculo familiar de Almir pode ter ficado a impressão de que Jatene, como governador que era, poderia ter-se empenhado bem mais para desassociar qualquer relação entre os crimes atribuídos ao grupo que foi preso e o governo do Estado. Ao contrário, a economia de palavras nas manifestações do governo Jatene, logo depois da prisão, deixou entre os Gabriel a sensação de que o então governador se conduziu de forma meramente burocrática, protocolar demais, sem a veemência e os ardores que se esperariam de um amigo saindo em defesa do filho de outro amigo - no caso Almir – que passava por situação flagrantemente desfavorável e tinha o nome exposto quase diariamente, em destaque, no noticiário de grupo de comunicação do deputado Jader Barbalho.

A mudança para longe do Pará
Isso tudo desaguou na decisão de Almir de mudar-se de Belém. Aliás, mudar-se do Pará. Com a mudança, o ex-governador pretendeu encontrar uma forma de apagar o passado recente, que lhe remete a recordações pouco prazerosas, para cultivar melhor o passado remoto, que lhe traz lembranças mais caras, inclusive do tempo em que exerceu os cargos público de maior relevância na política paraense, tanto no Executivo como no Legislativo, que ele integrou na condição de senador na Assembléia Nacional Constituinte.
Longe do Pará, mas sob os afagos da família, à qual se apegou para distingui-la com atenções que não puderam ser demonstradas em plenitude durante várias décadas - em decorrência das naturais exigências das rotinas a que estão obrigados os homens públicos de projeção -, Almir Gabriel persegue o objetivo de repor sua vida numa trilha de maiores amenidades. Mas não tem sido fácil.
Conforme o blog já mencionou, com base no que ouviu de um tucano que integrou a equipe de Almir, não tem sido fácil para o governador ver-se “arrancado de suas raízes” e muito mais da política, que ele sempre viveu com a maior e melhor de suas energias.
Conforme explicou uma fonte que o blog ouviu no início desta semana, as feridas políticas de Almir, que poderiam ser plenamente cicatrizáveis, foram contaminadas por outras, de ordem pessoal, estas bem mais dolorosas, mais difíceis de sarar e que, ao contrário, tendem a aumentar ao longo do tempo, dependendo de fatores que venham a ocorrer.

Despedidas sem Jatene
E o certo é que a animosidade de Almir em relação a Jatene tem sido flagrante. Ficou ampla e publicamente demonstrada, por exemplo, durante as duas despedidas que Almir fez em Belém, logo depois que decidiu mudar-se em definitivo para Bertioga.
Primeiro, chamou alguns auxiliares mais próximos para um jantar reservadíssimo no seu sítio Ipitu, na Rodovia do 40 Horas. Nesse encontro, Jatene esteve ausente. Depois, reuniu num restaurante cerca de 100 amigos no dia 5 de janeiro deste ano, um sábado à noite. Novamente, Jatene foi a ausência mais notada.
A partir de então, Jatene jamais tem deixado de externar - de forma abundante entre os mais chegados, e de forma bem mais comedida durante as esparsas vezes em que tem se pronunciado em público, depois que deixou o governo – que não guarda a menor mágoa, o menor rancor, a menor animosidade ou hostilidade em relação a Almir e muitos menos a seus familiares.
Mas a recíproca não tem sido verdadeira. Pelo menos até agora e apesar de Jatene dizer sempre, como tem dito, que “ele [Almir] briga comigo, mas eu não brigo com ele”.

Leia mais:
Almir já em apartamento no Hospital do Coração
Almir dormiu com o número 13. E só fala de política.
Almir sairá do hospital no máximo em dois dias
Simão Jatene deve visitar Almir. Será a reconciliação?
Almir passa por cateterismo em São Paulo
Almir, ainda na UTI, não pode receber visitas
Médicos esperam que funções renais de Almir se estabilizem
Quadro clínico de Almir é estável
Hospital não confirma cateterismo em Almir Gabriel
Almir ainda na UTI do Hospital do Coração
Almir já está fora da UTI, mas permanecerá hospitalizado
Almir Gabriel está numa UTI em São Paulo
Almir Gabriel está numa UTI em São Paulo
Eleição foi prato ausente do jantar de Almir
O jantar de Almir com os almiristas

5 comentários:

Anônimo disse...

Jatene fez o certo. Fez o que um verdadeiro amigo faria, numa hora como essa.
É uma pena que nem sempre o perdão chega na hora que a gente quer ou espera.
Nada como o tempo. Só ele, o tempo,vai fazer com que os dois, um dia, se reencontrem e recuperem a velha e verdadeira amizade, que os uniu por uma vida, quase que inteira.
Quanto a família, não tem jeito, não é o tempo. Ela vai junto com os sentimentos do Dr. Almir. Sempre.
Quando os dois se reencontrarem, a família vem junto.
Está lá na Bíblia. Há tempo pra tudo. Tempo de guerra, tempo de paz. Tempo de brigar, tempo de fazer as pazes.
Agora, Jatene, é tempo de dar tempo ao tempo.
Vic Pires Franco

Poster disse...

Deputado,
Seu comentário vai para a ribalta.
Abs.

Anônimo disse...

Paulo

penso que a manifestação do Vic, veio fora do tempo. As feridas abertas entre Almir e Simão, ainda estão abertas.
Se o Simão passou pelo HCOR foi para se consultar com seu médico Dr. Daniel Magnone.Mas nada de visitar Almir.
E em que o comentário do Dep. Vic melhora em que as relações Almir e Simão?
Essa manifestação será somente para atrair Jatene para apoiar Valéria?

Poster disse...

Anônimo,
Se o Jatene passou passou pelo HCor não para visitar o Almir, mas para se consultar com seu médico, isso em nada invalida - ao contrário, confirma - a informação de que ele não foi recebido pelo ex-governador.
Quanto ao questionamento relativo ao suposto sentido político-eleitoral do comentário do deputado Vic, apenas o deputado Vic poderá responder.
Abs.

Movimento Esquerda Vive! disse...

Acredito.
Se é que é verdade que o Ex- Governador Jatene, foi fazer uma visita amigável ao Senhor Almir Gabriel também ex-governador. Isso é uma atitude muito gentil de Jatene. Se é que é verdade que Almir não quis receber Jatene é uma atitude bem característica de Almir. Acho que Jatene deve deixar essa história de Almir para o Tempo resolver. E o Senhor Almir Gabriel tem que entender que o Povo Paraense é grato pelas enormes contribuições que ele fez com o Estado, mas que sua época passou, já era. Ele mesmo (Almir) disse que não ia mais se candidatar e ia plantar flores. Acho que o Almir deve para de atrapalhar a vida do Jatene, do PSDB e Pará. O Almir Gabriel Deve Apoiar a candidatura Jatene e se achar oportuno deve se candidatar ao Senado para impedir que tenhamos de novo o Jader Barbalho como representante do estado no senado federal.