quarta-feira, 15 de abril de 2015

Biografia retrata Castelinho, o maior colunista político do Brasil

Política, literatura e jornalismo são os três pilares que definem a vida de Carlos Castello Branco, o Castelinho. Por isso, a biografia “Todo aquele imenso mar de liberdade”, do jornalista Carlos Marchi, conta também um pouco da história da imprensa e do cenário político brasileiro da época em que ele viveu, entre as décadas de 40 e 80.
Prestigiado colunista político e membro da Academia Brasileira de Letras, Castelinho conviveu com os maiores personagens da história do país e atravessou períodos turbulentos na política, como a renúncia de Jânio Quadros, de quem foi secretário de Imprensa, e o golpe militar de 1964, quando o país mergulhou novamente numa ditadura que duraria até 1985.
Castelinho começou sua carreira em Minas Gerais, para onde se mudou, vindo do Piauí. Formou-se em Direito mas logo começou a trabalhar nos Diários Associados. Foi em Minas que se aproximou dos quatro mineiros, Otto Lara Resende, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Hélio Pelegrino, e da literatura. O jornalista sempre sonhou em tornar-se romancista, mas a carreira no jornalismo impôs-se. Castelinho morou depois no Rio e em Brasília, cidade onde consolidou sua carreira.
Nas colunas do Jornal do Brasil, pôs em prática seu talento com as letras e jornalístico, driblando a censura e desenhando o panorama político do país num momento de exceção e de poucas notícias acessíveis ao grande público. Era o texto mais lido e influente do país. “Ter sido jornalista político durante duas ditaduras o obrigou a aprofundar as análises, definir as informações essenciais, escrever escondendo as informações proibidas mas de maneira a passar a informação ao leitor. O enfrentamento de duas ditaduras o fez amar, acima de tudo, a liberdade de informação e de expressão”, afirma Carlos Marchi.
O autor ouviu jornalistas, políticos e amigos de Castelinho, além de ter pesquisado a correspondência pessoal do jornalista e as mais de 8 mil colunas que ele escreveu no JB para fazer o livro.

Orelha:
Mestre no bordado dos detalhes, Carlos Castello Branco ensinou o Brasil a desvendar entrelinhas a fim de compreender o jogo do poder numa época em que tudo o que o poder queria era esconder o jogo.
Exímio contador de histórias, Carlos Marchi não esconde nada – nem mesmo o que possa soar constrangedor – sobre a trajetória do homem que virou símbolo insuperável da crônica política exercendo a arte de ouvir, a capacidade de discernir, o poder de armazenamento da memória, a preservação do espírito de independência, a habilidade no manuseio das palavras e o foco na defesa da liberdade, ao longo de cinco décadas completas.
Marchi compõe um panorama fartamente documentado, que se inicia com uma conversa de Castello com João Goulart, no exílio, sobre um tema que seria a maior tristeza da vida do jornalista, peso que levaria na alma até a morte.
Outras angústias, pessoais e profissionais, também estão relatadas, bem como frustrações que não deixam de vir acompanhadas das alegrias, glórias, vitórias, histórias bem-humoradas e tiradas memoráveis. Relacionadas ou não a episódios da política, embora eles, quando vistos pelo olhar de Castelinho, estejam todos devidamente rememorados: das duas ditaduras que testemunhou, passando pelos bastidores do desmonte de ambas, à retomada da democracia, quando, enfim, o mestre pôde abandonar as entrelinhas e falar claro.
O Brasil teve a dignidade de lhe dar a chance de ver o país mergulhado em um imenso mar de liberdade.

Dora Kramer

Trecho:

“Castelinho [então secretário de Imprensa da Presidência] acordou tarde no dia 25 de agosto de 1961 e foi convocado ao palácio com urgência. Por volta das 10h30, desceu do carro na garagem do Palácio do Planalto e encontrou Roberto Marinho, então dono do jornal O Globo e da Rádio Globo, que teria uma audiência com Jânio Quadros às 15 horas, mas chegara bem antes para ter outras conversas com assessores palacianos. Castelinho o cumprimentou e advertiu: ‘Dr. Roberto, o senhor não precisa subir. Eu vou lhe contar aqui confidencialmente: o presidente renunciou. E estou chegando para anunciar a renúncia dele.’ Faro natural de jornalista, Marinho só pensou em dar o furo: ‘Então preciso passar isso para o jornal agora.’ Castelinho objetou: ‘Eu lhe contei confidencialmente.’ Marinho não se deu por vencido: ‘Faltam só dez minutos!’ Castelinho resistiu: ‘Só pode ser divulgado às 11 horas, o senhor vai esperar.’ Marinho mudou a marcha, intuiu que Castelinho perdera o emprego e lhe perguntou: ‘Você quer trabalhar no Globo?’ Talvez fosse uma boa hora para falar de emprego novo, mas Castelinho, perturbado com os fatos, recusou polidamente.”

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Carlos Marchi é jornalista e conviveu longamente com Carlos Castello Branco. Trabalhou no Rio de Janeiro (Correio da Manhã,Última Hora e O Globo), Brasília (O Globo, TV Globo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil) e São Paulo (O Estado de S. Paulo). Foi secretário do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal na gestão de Castelinho e assessor da campanha civilista de Tancredo Neves, em 1984/85. É autor de Fera de Macabu, pela Editora Record, lançado em 1988 e atualmente em edição da BestBolso. Nasceu em Macaé (RJ) e vive em São Paulo (SP).

Fonte: Editora Record

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