terça-feira, 16 de outubro de 2012

O estilo da ridícula seriedade


Os cenários político e social dos Estados Unidos revelam bem o atual panorama que passou a predominar mais intensamente nos últimos decênios, nos dois campos, é que continuam vivendo uma eterna “crise de inteligência” que gera leviandade, hipocrisia, vingança, ódio, despreparo e, obviamente, uma eterna falta de justiça e de amor ao povo americano. Isso nos dá a entender como a consciência sobre o jogo político norte-americano não passa de ilusão.
Os políticos americanos abalaram a sua reputação com as mentiras sobre a Guerra do Vietnã (1955-1975). Os jornalistas, responsáveis por denunciar a falsidade do discurso oficial, ocuparam o seu lugar como representantes da seriedade. Perderam de vez o posto ao assegurarem erroneamente que Saddam Hussein detinha armas de destruição em massa, motivo alegado pelos EUA para invadir o Iraque em 2003. Parecem viver um teatro de comédia. E esse tipo de comédia parece denunciar os desmandos do poder político e do midiático, serve apenas, porém, para distrair a audiência. Seriedade é um jeito de distinguir o original das imitações.
Esse humor, digamos assim, festivo, era desempenhado na Idade Média pelo bobo da corte, ao qual se dava a permissão de falar a verdade para os poderosos sem medo de punição. Figura familiar nos meios aristocráticos medievais e modernos, visto como um mascote, o bobo da corte tinha, na realidade, limites no alcance da performance. Escalado para divertir o rei, era punido a depender da ousadia da franqueza.
O humor americano é mais liberto que o inglês, os jornais pelo lado crítico cultural produzem brincadeiras bem comportadas e liberais, cuja atitude soa séria. No estilo inofensivo, Jon Stewart e seu Daily Show, em que repreende a realidade como se esta fosse um jovem estudante impertinente. É que uma de suas tarefas era examinar a atuação dos meios de comunicação, transformados no equivalente moral de políticos sórdidos. Será que qualquer semelhança não é mera coincidência? Bandalheira e safadeza têm os mesmos temperos, tanto lá como cá.
Será que tentando captar a mensagem, eles querem dizer que cunharam o termo “seriedade oficial”, como se fora um sinônimo de status quo. A ordem estabelecida é sempre uma farsa, pois se manifesta como uma caricatura da seriedade. Para um país ou um indivíduo ser sério, novas ideias precisam circular. Seriedade pode se uma realidade silenciosa e modesta, ocorrida longe da aprovação dos olhos públicos.
O filósofo grego Sócrates (469-339 a.C) foi o protótipo do individuo atento, resoluto e perseverante. “Ele ofereceu sua vida em busca da verdade”. Sócrates entendeu razão como dúvida e não certeza. Sócrates identificou a seriedade ocidental com “poder de raciocínio” e “coragem moral”. Na sua trajetória ações e palavras formaram um conjunto coerente. “Ele associou ambas para fazer um esvaziamento irônico daquilo que se impõe como seriedade pública”.
Os indivíduos costumam desejar o sucesso segundo “a crença equivocada de que, ao conquistá-lo, serão sérios”. Mas transformaram-se em palhaços, a representar o que a moda pede, a seriedade ficou mais escassa. Um cotidiano pautado por publicidade, fofocas, sonhos hollywoodianos reforça dificuldade de entendimento dessa qualidade. Seriedade “é o estado do ser no qual o indivíduo tem plena consciência sobre o que é e qual lugar ocupa em determinado momento”. O cargo de sério na América está vago.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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