segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Momentos felizes


Você não percebe a beleza da coisa. Vem de dentro. Não está escrito em nenhum livro, em nenhum manual. Existe o momento certo para vivenciar. Tudo começou em fins de 2002, quando percebi que algo incomodava meu filho. E uma vez, ninguém em casa, fui ao seu quarto para confirmar minha suspeita: o que está acontecendo? Estas apático, sem aquele sorriso? E ele, muito honestamente, me confirmou que queria melhor se qualificar. Confidenciou-me que tinha prestado exame para três mestrados. Passou nos três e escolheu o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Em fevereiro de 2003, atendo um telefonema de Florianópolis, comunicando que meu filho se apresentasse dentro de uma semana. Confesso que fiquei muito feliz, mas também tenso e muito preocupado. Não tinha o direito de impedir seu entusiasmo. Mas sabia que naquele momento estava sendo afastado do meu melhor amigo, companheiro e confidente. Nossa amizade é muito forte e de muita afinidade. Tremi nas bases!
Fui deixá-lo no aeroporto e nunca esqueço o que lhe disse na despedida, ao abraçá-lo: que um dia queria vê-lo como um doutor fazendo uma palestra ou uma conferência num congresso internacional na área em que escolheu. Assim, tudo foi se ajeitando dentro das previsões. Primeiro foi sua defesa na dissertação para o mestrado. Foi fascinante, e lá estava eu torcendo por ele no auditório. Em seguida, saímos para festejar. Um momento muito gratificante. Depois se aproximou de mim me deu um abraço e próximo do ouvido me disse: “Meu velho”, agora vou encarar o doutorado."
Após três anos de muito estudo e esforço, doutorado concluído. Uma banca com dois expoentes internacionais e quatro brasileiros de notório saber aprovou sua tese de doutorado. Desta vez, lá estávamos eu e minha mulher na plateia. Novamente, saímos para festejar. Observei que, nos outros dias, ele abria o computador e dizia: “O CNPq já deu todos os resultados de bolsas para o exterior, menos o de engenharia”. Já tinha se inscrito para fazer pós-doutorado no exterior. No último dia para divulgação, ele abre o computador e vê na tela seu nome. Uma bolsa para Nantes, na França, para coroar sua carreira. Após um ano, retorna ao Brasil para cuidar de sua vida. Algumas semanas depois, ele me telefona. "Fale, meu velho: enquanto não abre nenhum concurso, estou fazendo meu segundo pós-doutorado, mais um ano de estudos."
- E então?
- Ora, a vida me aconteceu.
E em lugar nenhum, em lugar nenhum encontrei tanta alegria, parecia que tinha um dique de felicidade dentro de mim prestes a transbordar. Guardava toda essa vaidade e com poucos comemorava. Submeteu-se a concurso público federal, hoje ensina graduação em Joinville e pós-graduação em Floripa, na UFSC. Isso significa que, agora, as jornadas iriam começar. Dois meses atrás, ele me liga: “Meus dois trabalhos que mandei para Bogotá, na Colômbia, foram aprovados, vou ser conferencista na “8ª Jornada Internacional del Asfalto” e “5º Seminario Latinoamericano del Asfalto”. Vamos lá?
Não hesitei um segundo, vamos lá, sim. Foram seis horas de voo entre São Paulo e Bogotá. Já em solo Colombiano, numa quinta-feira, 11.10.2012, meu filho fazia sua conferência para uma plateia cosmopolita. Bogotá, capital da República da Colombia, localizada nos Andes orientais, a 2.600 metros acima do nível do mar, jamais sairá de minha lembrança.
Breno, meu filho e meu amigo, obrigado por tantos momentos felizes.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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