No AMAZÔNIA:
Inquéritos policiais e depoimentos dos próprios adolescentes indicam que as quadrilhas agem de modo tão organizado quanto cruel. Sempre há um contato local ligado a um intermediário - freqüentador da 'ponte aérea' Belém-São Paulo-Rio - que trabalha para um chefe, este sim, baseado nas grandes capitais. Nas ruas de Belém, os meninos citam os prenomes 'Adrielle', 'Fabiane' e 'Karla Ellen', supostamente três travestis paraenses radicados em São Paulo e que hoje estariam no topo do esquema - na última quinta-feira, a reportagem de O LIBERAL e do Amazônia tentou contato com parentes de um suposto aliciador, mas no endereço indicado não houve confirmação. João, adolescente traficado aos 16 anos, contou que os meninos 'trabalham' sem descanso, entregam pedágios diários a 'funcionários' de aliciadores e são obrigados a pagar aluguéis altíssimos para morar amontoados em apartamentos sujos e insalubres.
O depoimento escancarou uma estrutura de vigilância diária e um esquema de escravidão por dívida e muita humilhação. 'A gente chegava de manhã da rua e não podia descansar. Quem dormia, apanhava de cabo de vassoura', contou o adolescente.
Em 2006, durante uma das investidas da polícia paraense contra o crime, a diretora da Divisão de Atendimento à Criança e ao Adolescente (Data), Socorro Maciel, indiciou sete pessoas em Belém e São Paulo por tráfico, a maioria deles paraenses ou com contatos com paraenses. Entre os acusados, o travesti Paulo Sérgio de Melo Guerreiro foi preso e passou sete meses no Presídio Estadual Metropolitano, na Grande Belém. Apontado como um dos grandes aliciadores paraenses, 'Paulete', como é citada por vários adolescentes, mora hoje na Cidade Nova, em Belém, e nega o envolvimento com os crimes. 'Nunca fiz isso. Fui para São Paulo a passeio e nunca levei ninguém, as pessoas vão porque querem'.
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