domingo, 2 de novembro de 2008

Vulneráveis e alvos fáceis de exploradores

No AMAZÔNIA:

O 'vão porque querem' dito pela suposta aliciadora tem muitas explicações e passa longe do que poderia ser considerado uma escolha. As quadrilhas de aliciadores sabem o quanto frágeis podem ser os meninos que percebem ainda criança uma orientação homossexual.
As ruas estão cheias de histórias como a do adolescente Antônio*, traficado para São Paulo com 17 anos. Aos 12, Antônio foi expulso de casa quando o pai desconfiou de uma amizade diferente com um vizinho. Na primeira noite fora de casa, o menino dormiu na rua, sozinho, sobre um pedaço de papelão. Cinco anos depois, se viu também sozinho, num ponto da rua Aurora, na chamada 'Cracolândia', em São Paulo.
Sem condições de avaliar o que lhe aconteceu, considera 'legal' uma das piores cafetinas de São Paulo. 'Ela dá uma semana pra gente trabalhar sem cobrar nada e também financia silicone e prótese em várias parcelas'.
Fábio*, 14 anos, ainda na travessa Antônio Baena, em Belém, deve seguir em breve o mesmo caminho. Franzino, menos de 1,60 m e ainda com corpo de menino, começou a fazer programas sexuais depois que ganhou uma bolsa para um curso de informática. 'A bolsa só paga metade da mensalidade e meu avô não pode me dar o resto e nem o dinheiro da condução, então estou trabalhando à noite', disse. 'Minha mãe não sabe de nada, mas quando eu for ‘de maior’, vou para São Paulo. Lá vou ganhar mais', completou.
Para a psicóloga Sarah Baía, com experiência no acompanhamento de crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual e tráfico, o preconceito empurra esses meninos para as redes de exploração.
Durante anos de trabalho, ouviu relatos de adolescentes desrespeitados pelos colegas e professores na escola e histórias de rejeição por pais e irmãos, que sentem vergonha.
'Esses adolescentes não conseguem participar de nenhum grupo social que lhes forneça modelos positivos e respeite sua orientação', explica.
'No final, é o aliciador quem aceita esse menino como ele é, que preenche o espaço que deveria ser da família, da escola ou até da igreja, outro grupo onde ele poderia ser aceito, mas não é. Vulnerável, ele não consegue perceber que há um interesse ruim nessa relação. O tráfico é potencializado pelo preconceito'.

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