segunda-feira, 21 de abril de 2008

Que saudade a gente sente, quando está da terra ausente...

Wilson Fonseca - Terra Querida


Que saudade a gente/quando está da terra ausente/dá vontade de chorar... Clique aí em cima, escute e, depois de deleitar-se, continue a ler.
É isso mesmo. Quanto mais distante da terra, mais saudade a gente e mais vontade de chorar às vezes dá.
Os poetas têm os mesmos sentimentos que os demais mortais comuns. Mas os poetas sabem revestir esses sentimentos com verdades que, ditas poeticamente, soam mais verdadeiras. Muito mais. Aliás, soam verdadeiras e imorredouras.
Que o diga um leitor que passou aqui pelo blog no dia 12 de abril passado e chegou até Santarém, terra querida, um post que foi para o ar precisamente no dia 6 de janeiro deste ano, um domingo. O post, como você mesmo pode conferir, mostra uma foto do encontro das águas de Amazonas e Tapajós, acompanhada de “Terra Querida”, a pérola de canção de mastro Isoca que já virou o segundo hino de Santarém, além do oficial.
Todo santareno sabe cantar “Terra Querida” de cor e salteado.
Pois bem. No dia 12 de abril passado chegou o comentário de um leitor Anônimo. Dizia assim: “Pelo amor de Deus, se você tiver uma gravação desta música Terra Querida” de Wilson Fonseca, me envie por e-mail.” E o leitor deixou o e-mail, que está lá na caixinha do post.
Infelizmente, não se sabe quem é. Mas tudo indica, pela veemência, pelo quase desespero com que soou o apelo, que é algum santareno que está da terra ausente, com uma saudade daquelas.
O blog pediu ajuda à jornalista Franssinete Florenzano, que acionou o desembargador federal do Trabalho Vicente Malheiros da Fonseca, filho do maestro Isoca. Gentilmente, Vicente não apenas remeteu ao blog – como também ao leitor que solicitou a música – um arquivo em mp3 com a gravação de “Terra Querida”, como ainda mandou a letra e os comentários que você vai levar a seguir.
"Terra Querida", canção de 1961, tem música e letra de Wilson Fonseca. A interpretação que você escutou é de Francisco Campos - cantor dos melhores -, acompanhado da Orquestra Jovem "Wilson Fonseca", sob a regência do maestro José Agostinho da Fonseca Neto, o Tinho, outro filho do maestro Isoca. A canção em mp3 integra o CD “Sinfonia Amazônica (volume 2) - 2002/2003
Leia a seguir os comentários de Vicente Fonseca sobre a música:

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Uma das mais conhecidas e inspiradas músicas de Wilson Fonseca, com arranjo (2002) para orquestra de sopros do próprio Isoca e de José Agostinho da Fonseca Júnior (neto do compositor), esta canção é - tal como a "Lenda do Boto" e o bolero "Um Poema de Amor" - um dos clássicos do cancioneiro santareno, todos de autoria de Isoca: "Minha terra tão querida,/Meu encanto, minha vida,/Santarém do meu amor...". A execução conta com a participação especial do cantor Francisco Campos, nascido na terra querida.
É uma espécie de continuação de "Canção de Minha Saudade" (1949), cuja letra é de Wilmar Fonseca, irmão do maestro: "Nunca vi praias tão belas/Prateadas como aquelas/Do torrão em que nasci...".
Uma vez mais, o compositor revela o seu amor pela terra querida, o tempero necessário do sabor santareno, tão determinante na música telúrica de Isoca. O compositor explica que "Santarém deve ser uma das raras cidades interioranas do Brasil que se podem orgulhar de possuir música própria, com características peculiares e definidas. Não sabemos com precisão até que ponto o sortilégio da velha 'Aldeia dos Tapajós', as belezas que nos cercam, são responsáveis pela inspiração dos nossos poetas e compositores.
Mas é inegável que o ambiente exuberante, com uma paisagem privilegiada em que se entrechocam, num combate eterno, dois portentosos rios, vem exercendo muita influência sobre o espírito dos musicistas locais; são numerosas as canções que enaltecem a gleba mocoronga, seus atrativos e singularidades" (artigo escrito por Wilson Fonseca, "A Nossa Música", no Programa da Festa da Conceição de 1968, transcrito na Apresentação do livro "Santarém Cantando", publicado pela Imprensa Oficial do Estado do Pará, em 1974, sob os auspícios do Governador Fernando Guilhon).
No artigo "A canção amazônica de Isoca", o jornalista Luís Nassif acentua que Wilson Fonseca "é autor de obra vastíssima, algumas canções clássicas e uma enorme prole de filhos e netos que prosseguem a tradição local. Suas músicas lembram Waldemar Henrique, os botos e as lendas da selva. (...) Morreu há dois meses [na verdade, o compositor faleceu em 24.03.2002, com 89 anos], provavelmente não teve nem um registro sequer nos jornais dos centros maiores. Mas a tradição que deixou em Santarém, as sementes que plantou e frutificou, são um caso único na história musical do país" (Jornal "A Folha de São Paulo", caderno Dinheiro, edição de 28.07.2002).
Waldemar Henrique elogia o compositor santareno, ao reconhecer que Isoca produziu "uma obra perdurável, sempre original e sugestiva, impregnada de sadio regionalismo, onde a inventiva melódica pontifica sem comprometer a nítida tendência instrumental de um compositor autêntico" (Parecer nº 02/77, da Câmara de Letras e Artes, do Conselho Estadual de Cultura, que opinou pela publicação da Obra Musical de WF, em 28.07.1977).
A alma do poeta-cantor nos deixa extasiados, diante da linda canção e do belo encontro das águas que se descortina em frente à cidade: "Vi em sonhos encantados/Teus eternos namorados/Amazonas, Tapajós/Pararelos no caminho,/Disputando o teu carinho/Numa luta tão feroz...".
Não se trata de um simples acidente geográfico. É a declaração de amor pela terra querida, de tanta riqueza que Deus lhe deu, enfeitando a natureza, que inspira o uirapuru-mor, nesse desfile de recordações e saudades.


TERRA QUERIDA
(canção)
Letra e música de Wilson Fonseca (1961)

Minha terra tão querida,
Meu encanto, minha vida,
Santarém do meu amor,
Deus te deu tanto riqueza,
Enfeitando a natureza
Que inspira o teu cantor.
Que saudade a gente sente
Quando está da terra ausente!...
Dá vontade de chorar...
Vê-se o rio cristalino,
"Rocha Negra" e "Diamantino"
Desfilando no pensar!...

Quando à noite a lua cheia
Vem brilhar na branca areia
Da formosa "Salvação",
O cantor faz serenata,
Entre o rio e a verde mata,
Ponteando o violão!...
E se a noite está serena
Vai cantando até a "Lorena",
Que saudade isto me traz!...
Recordando os teus encantos
Dos meus olhos correm prantos.
Recordar é sofrer mais.

Vi em sonhos encantados
Teus eternos namorados:
Amazonas, Tapajós.
Paralelos no caminho
Disputando o teu carinho
Numa luta tão feroz.
"Ponta Negra" entre os dois rios
Tem suaves amavios
Que eu recordo a soluçar...
Santarém fica defronte,
E as catraias formam ponte
Que ao "Trapiche" vai chegar!...

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