sexta-feira, 11 de abril de 2008

Ninguém mais agüentava Charles Alcântara. Nem ele mesmo.

Ninguém mais agüentava Charles Johnson da Silva Alcântara no governo Ana Júlia Carepa. Ninguém. Nem o próprio Charles suportava ver a si mesmo ainda fazendo parte do governo estadual. Por isso é que ele deixou o governo. Por isso é que ele caiu. E não se sabe ao certo se “caiu de pé” – como diriam os nossos coleguinhas da crônica esportiva – ou não. O certo é que caiu.
Quem são os grandes ganhadores com essa queda?
Ganham a Democracia Socialista, a tendência a que pertence a própria governadora Ana Júlia; o agora titular da Casa Civil do Governo do Estado, Cláudio Castelo Branco Puty; e todos os “acadêmicos”, auxiliares de Ana Júlia egresso das academias e com pouco ou nenhum molejo político. Ganha, mas um pouquinho – um pouquinho só, quase nada -, a tendência Campo Majoritário, que tem como entre suas principais lideranças o deputado federal Paulo Rocha, o secretário de Transportes, Waldir Ganzer, e o ex-deputado e ex-secretário de Educação, Mário Cardoso, aspirante a candidato do PT à Prefeitura de Belém nas eleições municipais de outubro deste ano.
Quem são os perdedores com a queda de Charles?
O deputado federal e presidente regional do PMDB, Jader Barbalho; segmentos da base de sustentação ao governo que estavam se impondo a Carlos Alcântara e criando complicações ao governo Ana Júlia; deputados deste G, que era 8, passou a 9, agora é G10, almeja chegar a G11 e já sonha até em influenciar na Mesa da Assembléia Legislativa do Estado.

A fritura progressiva
A fritura de Charles Alcântara não começou anteontem, nem há duas ou três semanas. Começou há mais tempo. Mas evoluiu bastante nos últimos meses, a ponto de ter-lhe causado problemas de saúde, tantas foram as pressões acumuladas.
As tensões chegaram a um ponto que o então secretário da Casa Civil teve um pique de pressão na quinta-feira e há mais de uma semana apresentava um quadro de hipertensão aguda, coisa que nunca havia sofrido antes.
Charles ocupava uma secretaria estratégica no governo Ana Júlia. Ele é que era responsável pela articulação política. Era a ele quem se cometia a ingrata missão de aplacar o furor fisiológico de aliados. Era ele o anteparo das bordoadas que o governo Ana Júlia tem recebido nos bastidores. Era ele quem tinha a missão de manter o governo Ana Júlia permanentemente sintonizado com deputados governistas cujos humores sempre andam de acordo com interesses e conveniências que vão sendo contemplados – dependendo da forma como são contemplados.
Charles Alcântara experimentava, enfim, a sina dos articuladores políticos. “O Manuel Ribeiro, no governo Jader, saiu odiado. Da mesma forma o [atual deputado federal], o Wandenkolk Gonçalves. Ocupar esse cargo não é brincadeira”, lembravam ontem ao blog.
Ao mesmo tempo em que exercia tal missão, Alcântara teve que assistir a uma progressiva corrosão de sua influência no governo. De coordenador da campanha política de Ana Júlia ao governo do Estado, na campanha de 2006, ele foi alçado à condição de uma das principais vozes no período de transição, quando o então governador Simão Jatene, em fim de mandato, permitiu que o governo eleito começasse a tomar pé da situação da máquina pública que lhe seria entregue logo a seguir.
Pois esse mesmo Charles Alcântara assistiu ao vivo e em cores – ainda que as cores fossem as da insatisfação - à progressiva preponderância dos “acadêmicos”, entre os quais Cláudio Puty e o secretário de Comunicação, Fábio Castro, além dos irmãos Monteiro, Maurílio e Marcílio. Em contrapartida, os tarefeiros, aqueles que meteram o pé na lama das baixadas, os que se expuseram aos confrontos nada amistosos exigidos de quem se entrega aos embates de uma campanha eleitoral, como é o caso de Charles Alcântara, viam-se destinatários apenas do ônus, e nunca do bônus de ser governo.

A insatisfação do Campo Majoritário
Ao mesmo tempo, prosseguiam as pressões internas, operadas no âmbito do próprio PT, partido em que a coesão interna é feita, por incrível que possa parecer, por várias correntes que se tratam com hostilidade tamanha que, em intensidade, às vezes chega a ficar muito aquém da aversão que os petistas alimentam em relação a algumas siglas adversárias. Como protagonista dessas pressões tem-se destacado o Campo Majoritário, que não se conforma de ver-se praticamente alijado do governo Ana Júlia ou de não merecer um tratamento condizente com a sua importância e representatividade dentro do partido.
Em meio a tantas pressões e a tanto desgaste, Charles Alcântara passou a ser alvo de antipatias que em muito extravasaram o campo político e chegaram ao nível pessoal.
“Ele trombou com todo mundo”, disse ontem uma noite um fonte governista que o blog ouviu. “O Charles não tinha o perfil adequado para ser o titular da Casa Civil”. Outra fonte, esta ligada ao PMDB, lembrou até que a aversão a Charles Alcântara era disseminada entre lideranças de todos os partidos. “Até o Ademir Andrade [do PSB, e já rompido com o governo estadual] queriam ver todo mundo na frente dele, mesmo o Charles Alcântara”, destacou o peemedebista.

Jader perde “a voz do PMDB” junto ao governo
Mesmo assim, Charles conquistou apoios e simpatias. Sempre teve, por exemplo, um excelente relacionamento com o deputado Jader Barbalho. Por conta disso, sempre foi tido como “a voz do PMDB” junto a Ana Júlia. Outros se referiam a ele como o “homem do Jader” junto ao governo. “Voz” ou “homem”, “homem ou “voz”, o certo é que o nível de interlocução do presidente regional do PMDB deve mudar - e mudar bastante - daqui por diante, com a chegada de Cláudio Puty, a estrela que sobe na constelação do governo Ana Júlia.
Por que vai mudar? Porque Cláudio Puty vai adotar um estilo – e naturalmente terá que ser assim – que demarque bem a diferença entre ele e Charles Alcântara, entre a gestão do novo secretário e a do antigo. Deve mudar o tratamento em relação aos dez deputados que integram o G10 e têm sido acusados de fisiologistas, eis que negociam demandas pontuais, acima e além – ou aquém – das orientações dos partidos a que pertencem seus integrantes, ao mesmo tempo em que, para consumo externo, dizem adotar uma postura de independência.
O fisiologismo, em se tratando do G10, tem sido acusação recorrente. E tanto é assim que, como notou o blog, um de seus principais articuladores, o deputado marabaense João Salame (PPS), ao conceder uma entrevista à repórter Esperança Bessa que foi publicada em O LIBERAL no último domingo, disse o seguinte: “Não dá para dizer que somos só fisiológicos. Estamos valorizando nosso mandato. Não queremos ser satélites do PSDB e do PMDB. Não somos arrogantes, mas queremos influenciar de maneira decisiva as coisas também.” O “só”, no contexto da resposta, sobressaiu como indicador de que os deputados do G10 são fisiológicos, mas, além disso, são outras coisas. Convém que digam ao certo o que são. E deverão dizer mais claramente a Cláudio Puty.
E mais: as coisas na era pós-Charles Alcântara vão mudar porque está chegando por aí Joaquim Calheiros Soriano, integrante Diretório Nacional do PT e um dos expoentes da Democracia Socialista.
Soriano, que as primeiras informações – posteriormente reveladas improcedentes – indicavam como o substituto de Charles Alcântara na Casa Civil do governo Ana Júlia, foi descrito ao blog como “de linha dura”. Opõe-se firmemente, por exemplo, a qualquer aliança do PT com o PSDB, inclusive e sobretudo em Minas, onde Aécio Neves faz a corte aos petistas e tem sido correspondido plenamente.

Os novos sinais para o pré-candidato Priante
Nesse aspecto, se Joaquim Soriano exercer a influência que dele se espera no governo Ana Júlia, convém ao PMDB ficar com os corações e mentes antenados com os novos movimentos que vão se processar nos bastidores petistas. Mas logo, logo, pelo andar carruagem, o PMDB de Jader Barbalho haverá de captar os sinais favoráveis ou não à pretensão peemedebista de lançar o ex-deputado federal José Priante candidato a prefeito de Belém com apoio do PT, em obediência a acordo formalizado em 2006, quando o peemedebista, que era candidato a governador, aderiu no segundo turno à candidatura Ana Júlia e teve influência decisiva para a vitória petista, que destronou os tucanos do poder no qual estavam confortavelmente instalados há nada menos de 12 anos.
Quanto ao Campo Majoritário, é possível que até nada mude. Mas, se mudar para melhor, mudará tão pouco que a mudança parece imperceptível. Permanecem vivos, porém, os anseios da tendência, que tem o seguinte sentimento e aspirações que podem ser assim resumidas: o grupo não quer apenas cargos, mas pretende efetivamente participar do governo Ana Júlia, “um governo que ajudamos a construir”, conforme ouvido ontem pelo blog. Resta saber se Cláudio Puty e Joaquim Soriano também vão deixar.
A era Puty-Soriano ainda nem começou efetivamente. Mesmo assim, todos já estão com os radares ligados para captar seus sinais. Que logo, logo vão começar a aparecer.

2 comentários:

Unknown disse...

Caro PB,

Dá prá perceber quando o cansaço chega...

Olha êle aí - no sétimo parágrafo "Charles experimentava, enfim , A SINAL DOS ARTICULARES POLÍTICOS '.

Claro que deve ser "Charles experimentava, enfim , a SINA DOS ARTICULADORES POLÍTICOS '.

Mais adiante vc , inclusive , usa o termo "articuladores "corretamente.

Mas o cansaço reaparece logo após na grafia do novo poderoso Claudio Poty , e não Puty...

Isso, porém, meu caro PB, é apenas forma. No máximo , fadiga de material...rsrsrsrs

Importa, antes , o conteúdo ( sempre muito informativo e analíticamente equilibrado ) ; o esmero em manter o blog , como diria o saudoso RM , "up to date "; a preocupação constante com o contraditório e o apelo à interatividade.

Esses predicados, verdadeiramente valiosos , são a jóia maior dessa coroa que é o Espaço Aberto.

Parabéns!

Abs

Poster disse...

Grande Francisco,
Muito obrigado, amigo.
Os erros já estão corrigidos.
Realmente, o cansaço. E, por cima, esta virose braba.
Mas no final, graças a Deus, tudo dá certo com a ajuda de leitores como você, com a lupa sempre em cima do verbo.
Observe sempre e me aponte os erros.
Grande abraço.