Democracia sem crítica é tacacá sem tucupi

Do senador Papaleo Paes (PSDB-AP), em discurso nesta terça-feira da tribuna do Senado:
“Tornou-se costume de determinados parlamentares vir ocupar a tribuna para falar mal da Casa e isso eu, democrata que sou, não aceito.”

Ainda ele, em complemento:

“Que falem contra as pessoas da Casa, mas não falem contra a instituição, sagrada para o nosso país - indignou-se, sem citar nomes.”

Se o senador Papaleo Paes, como democrata que diz que é, não aceita as críticas, os brasileiros, democratas que também são, não aceitam que o senador Papaleo Paes rejeite as críticas senadores fazem ao próprio Senado.
Primeiro, porque democracia sem crítica é como tacacá sem tucupi – ou sem jambu e sem goma, se quiserem. Não é ingrediente complementar, é ingrediente essencial. Sem tucupi, tacacá não é tacacá; sem crítica, democracia não é democracia.
Segundo, porque nenhuma Casa parlamentar – nenhuma, no mundo inteiro – pode ficará sem a vigilância cerrada da sociedade. Como os senadores agem por delegação de quem os elegeu – ainda que, no Senado, em tese representem os Estados aos quais cada um pertence -, então devem expressar, freqüentemente, a indignação popular contra certas decisões do Senado.
E terceiro, porque instituições que o senador considera sagradas, como o próprio Senado, não têm vida própria, não são etéreas. São imanentes a outras vidas. Dependem de pessoas de carne-e-osso para se corporificarem.
O Senado nada é sem os senadores que o integram. Se senador como Renan Calheiros (PMDB-AL) fez o que fez e o Senado o mantém até agora, depois de tê-lo absolvido por duas vezes, como deixar de reprovar o Senado e os senadores?
O senador Papaleo Paes, ao que parece, não tinha assunto para abordar na sessão de hoje.