terça-feira, 5 de abril de 2011

A volta do "mensalão"



Época traz de volta o caso «mensalão» (clique aqui).
É matéria jornalisticamente mais sólida que as da "Veja". Peca por generalizações e manipulação de ênfases.
O esquema Marcos Valério surgiu em Minas, serviu inicialmente ao PSDB, depois espraiou-se democraticamente por outros partidos até fechar o acordo com Delúbio Soares. Era um esquema que mesclava trabalho de agência de publicidade e financiamento de campanha.
Faz parte das manchas trazidas pelos esquemas de financiamento de campanha.
A revista pega os pagamentos das agências de Valério e seleciona aqueles para pessoas que ela quer fuzilar. Se procurar a fundo, irá encontrar pagamentos para a Época, Veja, Folha, Estado, simplesmente porque era a agência da Visanet e do Banco do Brasil, além da Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazonia Celular.
Colocar na lista Paulo Betti e Lanzetta faz parte do estilo que o repórter levou de Veja para a Época. Pena que essa irresponsabilidade se faça em uma revista normalmente mais criteriosa.
zetta trabalhou para Valério, fazendo assessoria no episódio do mensalão; e Paulo Betti tem uma ONG conhecida. Daqui a pouco, o repórter será capaz de acusar donos de restaurante que emitiram notas de estarem em conluio com Valério.
Coloca lateralmente na matéria políticos do PSDB apoiados por Valério. O esquema é suprapartidário. Mas a ênfase é no “mensalão”.

O “mensalão”

Há enorme dose de confusão na discussão sobre se existiu ou não o “mensalão”. Não se discute que existiram pagamentos, ressarcimento de campanha ou o que seja a políticos de vários partidos da base do governo – além de partidos da oposição, na sua derivada mineira. É evidente que houve pagamentos. O que caracterizaria o “mensalão” seria a existência ou não de pagamentos continuados. Aparentemente, o inquérito da PF não conseguiu comprovar a existência de pagamentos continuados.Pelo menos não existe a menor indicação na matéria.
O esquema aparentemente foi similar ao de Minas: ressarcimento de gastos de campanha. Não sei se melhora ou piora o quadro, mas este é o fato. E destinava-se obviamente a comprar o apoio dos beneficiados.
Marcos Valério cobria gastos de campanha de Azeredo, Brandt, Pimentel e Lula. Não há nada que desminta Freud Godoy, de que recebeu pagamento por serviços de segurança prestados a Lula na campanha. Era essa a função dele; e a de Valério era ajudar a financiar campanhas de quem quer que fosse.
A matéria não chega a livrar a cara de Daniel Dantas, o principal financiador do “valerioduto”. Mostra que foram assinados contratos fictícios visando repassar recursos para as agências de Marcos Valério. Mas o coloca como “vítima” do novo governo que assumia.
Certamente as revelações sobre Dantas jamais sairiam na Veja, depois de firmado o acordo entre eles.
Lembro que foi o fato de apontar Dantas como financiador do valerioduto que provocou os ataques do colunista da Veja ao Franklin Martins, no Globo, e a mim, na Folha e a reação de ambos os jornais, rifando seus colunistas.
Ainda não tenho uma opinião conclusiva sobre o que levou os jornais a esse mergulho no apoio a Dantas. No caso da Veja, inicialmente páginas de publicidade; depois, talvez o processo de capitalização da Abril. No da Folha – que se meteu até o pescoço no jogo – talvez a parceria com uma grande tele, já sabendo que as teles seriam as futuras grandes adversárias.

Mais aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

É, Nassif, cada um olha pelo lado que lhe é mais (ou menos) conveniente.
Pra vc, tá quase quase não existindo mensalão e mensaleiros.
E, vai ver, o Zé Saidaí Dirceu é vítima (tadinho...).