quinta-feira, 14 de abril de 2011

Holocausto de crianças

O massacre de menores no Rio de Janeiro nos faz refletir sobre a situação de crianças e adolescentes ao redor do mundo. Nos faz acreditar que algo conspira contra esse importante seguimento da humanidade. Seria demais crermos em coincidências e má sorte. Seria mesmo um esforço quase irracional. Por que meninos e meninas são alvos de tantas mazelas? O que há de especial nessa faixa etária, capaz de suscitar tantas barbáries planeta afora?
Desde que o mundo existe, menores são vítimas de toda sorte de desgraça. Talvez um dos relatos mais antigos tenhamos na Bíblia. Herodes, querendo eliminar o menino Jesus, ordenou a matança de todas as crianças abaixo de dois anos em Belém e arredores. Imaginemos a cena. O sangue tingindo o colo de mães traspassadas de dor. As expressões inocentes de pequeninos, arrancados à força para a morte, e talvez interpretando o gesto apenas pela estranheza do semblante carrasco.
Na Nigéria, África, não bastasse a fome, crianças hoje são acusadas de serem bruxas por falsos pastores. Estigmatizadas como responsáveis por todas as mazelas daquele continente sofrido, foram convertidas em moeda religiosa. A nefasta Teologia da Prosperidade, exportada do Brasil, é a pior praga do mundo. Para um suposto exorcismo, cobra-se o equivalente a quatro meses de trabalho. Famílias extremamente carentes, não tendo essa condição, resolvem praticar a pseudolibertação em casa mesmo. Então, mutilam seus menores. Cortam. Queimam. Outros pais preferem o caminho mais fácil: simplesmente abandonam seus pequeninos nas matas. Calcula-se que haja cinco mil meninos nessa penosa situação. Por que isto acontece com as crianças?
Aqui mesmo em nossa terra, temos alguns dos casos mais graves de violência contra menores. Emasculação. Morte. Oferenda em supostos rituais de magia negra. Há uma luta espiritual contra as crianças? Parece-me que sim.
Por que meninos e meninas foram escolhidos alvos daquele louco no Rio de Janeiro? Por que inocentes tiveram de pagar dívidas sociais que não geraram? Não sabemos. Porém, examinando o massacre, a preparação do crime e a forma de execução, somos forçados a buscar uma explicação além das ciências naturais. O que os menores têm? Por que se tornam alvos?
Quem poderia ajudar a responder está bastante comprometido. Em quase todo o mundo cristão, são justamente algumas pessoas que falam em nome de Deus que mais cometem abuso contra esse grupo. O maior segmento do cristianismo está amordaçado. A pedofilia religiosa é um escândalo. Rasga a Bíblia. Queima a fé. Confunde. Por que, até no seio de igrejas, menores não estão seguros? Existe uma conspiração? Algo além de nosso mundo sensorial? Começo a me convencer.
Segundo o ensino de Jesus, crianças pertencem ao Reino de Deus. Em palavras simples, se há alguém em condição de adentrar o Paraíso, são justamente elas. Precedem clérigos emplumados. Teólogos. Bispos. Tronos e poderes. Não precisam de sermões, liturgias ou quaisquer penitências. Têm, por natureza, os elementos básicos da salvação eterna.
Vou deixar esta introdução aberta, para que você reflita e tire suas próprias conclusões. Examine se não parece haver uma investida do mundo espiritual maligno contra esses inocentes.
Crianças representam a reserva da humanidade. Não apenas em número e potencial. Reserva de pureza. Humildade. Perdão. Reserva de santidade, em meio assaz impregnado de tanto desvalor moral e espiritual. Matá-las parece-me uma conspiração do Mal, com o fito de exterminar esse fio de esperança.
Independente desta análise, ao Estado, cuja atuação acontece no mundo natural, cabe o dever de proteger. Para isso, já temos lei de sobra.

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RUI RAIOL é escritor (www.ruiraiol.com.br)

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