Da jornalista ANA DINIZ, em seu blog Na Rede
Desculpem-me os amigos pela ausência, mas do que pomos às vezes não dispomos, e um turbilhão me afastou do blog.
Nesse intervalo de silêncio, um tsunami arrasou norte do Japão e estremeceu a indústria de energia nuclear; um doente mental promoveu uma chacina em Realengo; as despesas corporativas da Presidência da República bateram recordes inacreditáveis; Obama e o U-2 vieram ao Brasil, e Portugal nos pede ajuda, atestando que há dinheiro para gastar por aqui; e Liz morreu.
Tudo isso me espelha apenas um momento do mundo, igual a tantos outros já passados, diferente, entretanto: é outra escala e os conhecimentos são maiores, são outros ainda os atores. Mas o desafio de tentar entender é o mesmo. E a dificuldade, também.
De todos esses assuntos, o único em que consigo encontrar coerência é Elisabeth. Sua beleza, suas jóias, seu trabalho, suas extravagâncias, suas obras de caridade são um emblema completo de uma grande dama do século XX, nascida num continente e famosa em outro, seduzindo o mundo e usando todas as prerrogativas que a beleza e a inteligência lhe deram.
Do que ocorreu no Japão para mim é incompreensível a equação de risco: um ovo de serpente atômica num local sujeito a cataclismas periódicos. Porque não foi o aquecimento global que explodiu o Krakatoa, no Pacífico, em 1883. E o Japão, na borda da placa, corre riscos semelhantes. Talvez que o povo japonês confie mais do que nós na segurança tecnológica; talvez não veja alternativa. Mesmo assim...
De Realengo reflito sobre a falta completa de alternativas para doentes mentais no país. Também porque a mídia insiste em chamar pré-adolescentes de crianças. Toda jovenzinha na faixa de idade das vítimas jamais admite ser chamada de criança. Garota, garoto, sim, ainda vai. Também reflito no exemplo que os professores daquela escola deram para seus colegas de todo o Brasil: nenhum fugiu, nenhum abandonou os alunos. Responderam à crise com presteza e responsabilidade, e duvido que qualquer deles tivesse sido treinado para isso. Eles evitaram mais mortes que a polícia – no entanto, ninguém lhes deu medalhas ou honrarias.
Das despesas da Presidência, reflito o quanto o país vai fingir não ver o que está acontecendo em Brasília. Esse fato é apenas parte de um conjunto cada vez mais perverso: os órgãos controladores caçando lebres enquanto a manada de javalis passa. Prefeitos de micromunicípios são acusados em rede nacional, enquanto corruptos notórios são empossados em cargos eletivos. Nesta época, quem não deve tem que temer, porque quem deve rola a dívida e se safa, numa boa. Mas quem não deve, dorme tranquilo e por isso corre o risco de acordar devendo sem saber nem por que...
E do pedido português, acho graça. Porque, afinal de contas, eles não deixam nossos profissionais de nível superior trabalharem lá. E ainda discriminam os brasileiros. Ou seja: continuam nos olhando como a metrópole olhava a colônia, boa apenas para entregar o ouro...
Obama veio, espalhou charme e talvez acabe mais popular que John Kennedy no Brasil. Afinal, ele não foi à Argentina; mostrou que tinha se preparado para a viagem, ou seja, mostrou respeito; e, apesar da timidez dos acordos assinados, abriu caminho para coisas bem maiores, pela primeira vez, no caso dos presidentes norte-americanos, com um sorriso aberto da população.
E o U-2 deu uma aula de profissionalismo que bem poderia ser aproveitada pelo show-bus nacional...
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