terça-feira, 16 de novembro de 2010

A transição recomenda cautela

Muitos são os significados da eleição de Dilma Rousseff. O principal deles é que a oposição, com seus aliados na mídia, continuarão com dificuldades para desconstruir a imagem e o grande prestígio nacional e internacional do presidente Luiz Inácio. Acredito que Nosso Guia é uma das pessoas mais bem-sucedidas que já tivemos, não apenas na esfera política. Mas por ter sido capaz de levar a cabo todo um projeto de governo que anteriormente era ridicularizado e ameaçado pelos ditos "poderes mais influentes" e, mesmo não tendo atingido a perfeição, conseguiu posicionar o Brasil de maneira permanente no cenário mundial como um país influente e que deve ser respeitado.
A eleição de Dilma carrega um simbolismo que não se limita à ascensão feminina ao topo da política nacional, o que por si já é um fato extraordinário. Há uma legião de brasileiros, colhidos na juventude pelo golpe de 1964, que defendeu os princípios que abrigaram e construíram trajetórias cidadãs pautadas pela honestidade. A maioria hoje permanece anônima, engrandecendo a nação brasileira.
Como é público e notório, os gastos do Orçamento cresceram muito no governo do Nosso Guia, principalmente as chamadas despesas correntes, que engessam as contas, porque depois de contratados não podem ser cancelados. E vejam-se aí, os gastos com pessoal e com a Previdência estão nessa categoria.
O presidente Luiz Inácio que se despede reúne condição excepcional para alargar os horizontes. Nosso Guia, com 84% de aprovação, tem muita densidade para queimar na gamela política. Intuitivo e perspicaz, acha que ainda não encerrou o seu ciclo e não terminou sua missão. Luiz Inácio é chegado a um palanque, a um convívio com as massas e isso o oxigena a não se ver fora da política.
É inegável que se realiza no Brasil uma transição de governo em clima político de grande civilidade e, simultaneamente, em condição de equilíbrio econômico e social como poucas vezes aconteceu em nossa história contemporânea. Após conviver, nesses últimos dois anos, com uma conjuntura extremamente adversa nos negócios mundiais, o governo de Luiz Inácio se aproxima do final de seu segundo mandato com índices de desenvolvimento material (produção, consumo e emprego em alta) e de progresso social (redução da pobreza e da desigualdade) invejados pela comunidade das nações, a maioria das quais ainda não se livrou dos malefícios trazidos pela crise. Os efeitos ainda não superados da crise financeira dificultam o entendimento para a redução das práticas extremamente agressivas utilizadas nos últimos tempos nas relações de comércio entre as nações. A visibilidade é saber se os subterfúgios protecionistas e os escandalosos recursos aos subsídios piratas vão se intensificar ainda mais e degenerar a guerra comercial entre os países.
Esta é, efetivamente, uma perspectiva nada agradável neste instante de transição de equipes de governo. Sugere-se cautela. Dilma vai se confrontar com situações muito delicadas no mundo. Os Estados Unidos e a China insistem em subvalorizar o dólar e o Yuan para reduzir seu déficit comercial.
A derrota de lavada do Partido Democrata, o fracasso do discurso cauteloso e racional de Barack Obama e a ascensão do Tea Party anunciam anos difíceis para o mundo. Convém à presidenta eleita prestar atenção a uma lição cara demais. O medo venceu. O apelo democrata pela restauração da lucidez não motivou os eleitores.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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