quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Salve, Vigia!
Vigia completa hoje 394 anos. Fundada em 6 de janeiro de 1616 pela expedição de Francisco Caldeira de Castelo Branco, a cidadezinha mais antiga do Pará nunca dorme. Seu nome mistura verbo, substantivo e adjetivo para dizer quanto eclético é seu povo. Nasceu de um posto de observação montado pelos portugueses para vigiar invasores.
Vigia! Aldeia Uruitá, "cesto de pedra", em tupi. Em seu chão habitavam os primitivos tupinambá, que, em cruzamento com negros e brancos, geraram o homem amazônida. Caboclo, cidadão legítimo desta Hileia esquecida e explorada desde as cobiçadas drogas do sertão: castanha, guaraná, cacau, urucum e canela, especiarias que Castelo Branco tanto queria vigiar para lucrar na Europa.
Vigia! Atenas Paraense, lugar de intelectuais notáveis, berço das letras e das artes, orgulho da estrela setentriã do Pavilhão Nacional. Terra de Domingos Antônio Raiol, o Barão do Guajará. É desse filho, testemunha ocular da Cabanagem, que o fez menino órfão aos cinco anos, que nos vêm as letras mais cultas do Brasil colonial. Em sua monumental obra Motins Políticos, nos descreve com riquezas de detalhes a insurreição popular que assustou o Império em terras equatoriais. Advogado, promotor, deputado, governador do Pará, Alagoas, Ceará e São Paulo, Domingos Raiol é pioneiro da Academia Paraense de Letras e fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, cuja sede, situada na Praça Dom Pedro II, era sua residência em Belém. Chão do poeta Ildone Favacho Soeiro.
Terra de Francisco de Melo Palheta, vigiense nobre que trouxe as primeiras mudas de café para o Brasil. Foi ali que se plantou a riqueza da Nação, ainda hoje referência máxima de nossa cultura. Era dali que se bebia o melhor café do País no ano de 1876, puríssimo, na "sociedade do descanso", um paraíso de confortáveis cadeiras de embalo instaladas no largo de Nazaré durante o Círio em Belém.
Vigia! Lugar de música, da centenária Banda 31 de Agosto, fundada no ano de 1877, e da União Vigiense, que completará um século em 2016. Cidade insone, que acorda o Sol com os acordes do dobrado "Saudades da Minha Terra", obra-prima do vigiense Isidoro Castro de Assumpção, nascido em 1858. Terra de músicos profissionais e amadores, selecionados para abertura de Olimpíadas e ganhadores de troféus nacionais. Terra do festejado saxofonista e clarinetista Marcos Puff Cardoso e da "Tia Pê", lendária compositora de carimbó.
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“Vigia! Atenas Paraense, lugar de intelectuais notáveis, berço das letras e das artes, orgulho da estrela setentriã do Pavilhão Nacional. Terra de Domingos Antônio Raiol, o Barão do Guajará. É desse filho, testemunha ocular da Cabanagem, que o fez menino órfão aos cinco anos, que nos vêm as letras mais cultas do Brasil colonial.”
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Vigia, da igreja Madre de Deus, meu primeiro contato com o Evangelho, templo aonde ia às missas ainda escuro. Terra onde foi edificada uma das congregações mais antigas da Assembleia de Deus, ali na Barão, junto à ponte do Arapiranga, lugar onde entreguei meu coração a Jesus Cristo sem reservas em 1978.
Vigia, terra de Júlio Bulhões, do pastor Orlando Santos e Florival Nogueira da Silva. Casa de Maximino, que armava no arraial seu carrossel movido pela garotada. Terra boa, de ar cheirando a calafate de sua vigilengas alegres.
De registros fotográficos raros, qual não foi minha alegria nestes dias ao descobrir um quadro que retrata a cidade há 90 anos. Exatamente! Uma pintura a óleo que mostra como era a frente de Vigia em 1920. Pelas mãos do artista, podemos passear pela antiga orla do rio Guajará-Miri, ainda sem o atual mercado, visitar a Capela do Senhor dos Passos em construção, no estado deixado pelos jesuítas em 1759, quando foram expulsos da Colônia, cujas paredes foram parcialmente demolidas na década de 30 para construir o cais. Uma riqueza histórica, que dispusemos hoje em nosso endereço eletrônico para celebrar esta magna data.
Salve, Vigia!
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RUI RAIOL é pastor e escritor (www.ruiraiol.com.br)
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