quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Então, amigos, Cuba é uma ditadura

O bom dos debates, das divergências, das discordâncias – quando em tons civilizados, que não rejeitam a contundência, é claro – é percebermos que nossas certezas não precisam ser expostas com rodeios e com retoques, tão convictos estamos dela.
Stefani tem essa grandeza: o de expor argumentos e convicções abertamente, sem quaisquer temores de rótulos ou coisas que tais.
Assim é que deve ser.
É preciso, todavia, contrapor alguns pontos.
De novo, vamos por partes.
De acordo com cada parte das argumentações de Stefani:

Na abertura de sua postagem, diz Stefani:

“[...] o fato de não morar em Cuba não me desqualifica a dar uma opinião sobre o País”

Claro que não.
Isso não o desqualifica. E nem desqualifica qualquer um.
Até porque um simpatizante do regime cubano, como Stefani, além de ter visitado Cuba, como ele diz, também leu e lê muito sobre Cuba, o que lhe permite, sim, ter elementos bastantes para emitir opiniões.
Mas o blog mantém o que disse: visitar Cuba esporadicamente e acumular informações sobre Cuba para poder opinar é uma coisa; morar em Cuba, viver em Cuba, sofrer em Cuba, ter vontade de sair de Cuba e não poder é outra, absolutamente diferente.
Na segunda situação está Yoani, a “moça do blog”.

PARTE 1
Diz Stefani:
Pois é, meu caro PB e demais, este cenário, que no meu caso é fictício, no de Cuba é real e cotidiano, é presente há mais de 40 anos, é um boicote assassino, internacionalmente condenado (só pela ONU já foram mais de 100 vezes) e uma medida do ponto de vista inócuo, pois até hoje não conseguiu vergar a coluna do povo cubano, que mesmo diante de dificuldades, prefere o socialismo cubano do que o “paraíso americano”.

Tem razão, o Stefani.
O boicote é condenável economicamente e burro politicamente.
Economicamente, porque expõe ainda mais as fragilidades da economia cubana e se reflete sobre a qualidade de vida dos cidadãos cubanos. É indubitável, sim.
E politicamente é burro porque oferece ao regime cubano a grande deixa, o grande argumento que serve de panacéia para tudo: se Cuba está como está, é por causa do “boicote assassino”. Até se chover forte em Cuba ou se ventar demais por lá, em parte é culpa do "boicote assassino".
Convém lembrar a Stefani o seguinte.
Por décadas, Cuba teve a seu lado um outro império, o soviético.
Estima-se que, entre 1989 e 1993, a então União Soviética injetou de 4 a 6 bilhões de dólares anuais em Cuba. A retirada desse benefício representou uma perda de, pelo menos, 35% relação ao pico do PIB de Cuba.
A partir daí é que apareceram os transtornos, deflagrando sérios problemas de abastecimento e rígidos racionamentos.

Stefani diz ainda:

Mas alguns vão dizer, e os milhares de cubanos que fogem da ilha? E eu respondo, e os milhares de mexicanos, indianos, haitianos e de outras nacionalidades que diariamente fogem de seus países e tentam entrar ilegalmente nos EUA, será que eles querem o fim do capitalismo no seu país e a introdução do socialismo?
Stefani, acredito ter sido força de expressão sua dizer que milhares de mexicanos, indianos, haitianos e gente de outra nacional fogem de seus países.
Eles não fogem, Stefani.
Eles saem livremente de seus países.
Livremente.
Não precisam esgueirar-se.
Não precisam pedir licença ao governo de seus países.
Eles simplesmente saem.
Vão embora.
Vão procurar suas melhoras.
Vão tentar a vida e a sorte em outras paragens.
Os cubanos, não.
Não têm liberdade nem para sair de Cuba.
Yoani, por exemplo, quer sair de lá para receber prêmios.
Mas o governo cubano não a deixar sair.
Se ela quiser sair – como tantos -, só mesmo fugindo.
Uma fuga no sentido literal do termo.
Como os cubanos que aparecem aí na foto, tentando escapar de seu país. Pelo mar.

PARTE 2
Stefani, há guerras e guerras.
Há a guerra em que países se confrontam com armas.
Há a guerra do boicote econômico.
Há a guerra de propaganda.
Qual delas é a de Cuba?
Todas?
Diz Stefani.
Bem, qual é o país que, estando em estado de guerra, recebendo ameaças e atos terroristas permanentemente, mantém todas as instituições funcionando perfeitamente?
Gostaria que me citassem algum.

Todas as instituições funcionando perfeitamente?
Quais instituições?
O Judiciário cubano?
O Legislativo cubano?
As expressões sociais legítimas cubanas?
Estão funcionando perfeitamente?
Mas como assim?
O Judiciário cubano funciona dentro do modelo de Estado cubano - uma ditadura.
Se as instituições estivessem funcionando plenamente, os que quisessem sair de Cuba livremente teriam saído.
Se as instituições estivessem funcionando plenamente, dona Yoani colocaria um banquinho em frente à sede do governo cubano e faria uma greve de fome, enquanto vociferava por um megafone contra Fidel.
Por que isso não acontece?
Talvez, ora, porque Cuba está em guerra, não é?
Talvez, ora, porque Cuba, se está em guerra, encontra em estado de excessão. E se Yoani subir num banquinho, cadeia nela, que não encontrará tempo nem de lançar mão ao megafone.
Mas, perfeito, está explicado. É que Cuba está em guerra!

PARTE 3
Stefani, você tem razão: Cuba não é a melhor democracia do mundo, tem erros, tem burocracia, precisa avançar em vários aspectos e é isso que agora o povo discute.
Assim como Cuba, Stefani, o Brasil não é a melhor democracia do mundo, tem erros, tem burocracia, precisa avançar em vários aspectos e é isso que agora o povo discute.
Assim como Cuba e o Brasil, Stefani, os Estados Unidos não são a melhor democracia do mundo, têm erros, têm burocracia, precisam avançar em vários aspectos e é isso que agora o povo discute.
Assim como Cuba, o Brasil e o Estados Unidos, Stefani, a França não é a melhor democracia do mundo, tem erros, tem burocracia, precisa avançar em vários aspectos e é isso que agora o povo discute.
Stefani, não existe regime perfeito.
Mas olhe, dentre todos os péssimos regimes em funcionamento no mundo, a democracia é o menos pior.
Pode até ser um pouquinho menos pior, mas é menor pior que os demais, de qualquer forma.
Quanto a dizer que a Venezuela já “é mais democrática do que os EUA”, não é não, Stefani.
Não é.
E Cuba, Stefani, é uma ditadura.
É sim.
Os cubanos – todos não, mas uma boa parte, senão a maior parte, e aí concordamos com você – amam Fidel.
Mas Cuba é uma ditadura.
Os nazistas amavam Hitler. Desvairadamente, aos milhões. Mas a Alemanha era nazista.
Os fascistas amavam Mussolini. Desvairadamente. Aos milhões. Mas a Itália era fascista.
Você se lembra daquela musiquinha:
Este é um país que vai pra frente/ Ô ô ô ô ô / De uma gente amiga e tão contente...
O País em referência era o Brasil, Stefani.
A musiquinha tinha a ditadura como autora.
Mas o Brasil era uma ditadura.
Cuba é um ditadura, sim, caro Stefani.
Porque lá não tem liberdade, as pessoas são executadas – ou foram, aos milhares, num passado não tão remoto -, inexiste alternância no poder, as instituições não funcionam plenamente e nem perfeitamente.
Vai ver, é que porque Cuba está em guerra, não é?

PARTE FINAL
Diz Stefani, na parte final dele:

Comparar o regime cubano com a ditadura de 64 é uma falta de conhecimento histórico, é uma má vontade intelectual e uma reação igual à de torcedor, seja do Remo ou do Paysandu, que não aceita as coisas boas do outro, só vê as más, ou aquelas que ele julga serem más. Por isso, me recuso a debater sobre isso.

Desculpa aí, companheiro, mas nós não nos recusamos a debater sobre isso, não.
Vamos debater este ponto.
Veja.
O regime cubano tem natureza histórica e ideológica diversa, evidentemente, da ditadura de 64 no Brasil.
Historicamente, ideologicamente, um não tem nada a ver com o outro.
Mas ambos, Stefani, tornaram-se uma ditadura.
Aqui torturava-se.
Lá, executava-se.
Aqui, ninguém podia ir para o meio da praça berrar contra os gorilas de plantão.
Lá, igualmente.
Stefani, não meta Remo e Paysandu nessa história.
Remo e Paysandu têm coisas boas (atualmente, há dúvidas sobre isso, convém reconhecer).
E um apaixonado remista ou um apaixonado bicolor, quando se confrontam, não podem negar fatos.
Fatos - simplesmente fatos.
Se um bicolor fala mal do Remo, o remista pode dizer que o Leão ficou 33 jogos invictos contra o adversário.
Se um remista fala mal do Paysandu, o bicolor pode dizer que nunca, jamais em tempo algum uma equipe nortista chegou à Libertadores e derrotou o Boca em plena La Bombonera.
Você tem plena razão, Stefani: Remo e Paysandu têm coisas boas.
Mas, caro Stefani, fica o desafio: aponte uma, só uma, apenas uma e somente uma coisa boa em qualquer ditadura.
Aponte.
Porque ditaduras, Stefani, são horrorosas.
E Cuba é, sim, uma ditadura.
Como o Brasil foi uma ditadura.
Ambas as ditaduras, horrorosas.

Diz Stefani, bem no finzinho, sobre a “moça do blog”:

“E mais, não se preocupe, pode ficar tranqüila que os seus filhos e netos terão um futuro feliz em Cuba, provavelmente serão professores, médicos, estudarão numa escola boa, terão saúde de primeira (não é plano de saúde não, é o SUS de lá, que é exemplo para o mundo todo), mas é claro enquanto houver socialismo, porque se for a “democracia americana” que a sra. quer pra Cuba, aí complica.”

Tomara que Yoani, seus filhos e seus netos tenham um futuro feliz em Cuba.
É o que todos queremos.
Por isso torcemos todos.
Porque os cubanos merecem não sofrer mais.
Apesar dos horrores da ditadura que lhes impuseram e impõem.
Apesar dos horrores que representa a falta de liberdade.
Mas, compreendemos: é que Cuba está em guerra, não é?
Tomara que essa guerra – ô guerra – acabe logo.
Para o bem dos cubanos.
Porque devemos ter horror às ditaduras.
Mas devemos prezar e querer bem aos cubanos.
Sobretudo aos cubanos, que enfrentam, há décadas, os horrores da horrorosa ditadura.
Sorte, amigo Stefani!

5 comentários:

Anônimo disse...

Prezado PB,

Parabéns por mais esta refutação coerente às supostas maravilhas do regime totalitário cubano, que nega o mais básico de todos os direitos - o de ir e vir.

Quanto aos chamados avanços sociais em Cuba, coloco-os igualmente em questão, pois Fidel Castro, quando caiu gravemente enfermo, foi socorrer-se com médicos espanhóis.

Para finalizar, imaginemos que cem latino-americanos são reunidos em uma sala e lhes é perguntado então em que país gostariam de viver - nos EUA ou em Cuba?

Quantos o Sr. Stefani acha que levantariam o braço para escolher Cuba?

Penso que nem os cubanos presentes na fictícia sala, a não ser, é claro, que fossem membros do Partido Comunista Cubano para quem nada falta na ilha, como Yoani Sánchez revelou em sua entrevista publicada neste blog.

Ah, existe ainda um outro tipo de PIG, que é o Partido da Imprensa Governista!!! Nela se incluem Carta Capital, ISTOÉ, IG, etc.

Abraços democráticos.

Anônimo disse...

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5º LUGAR: EXÍLIO EM CUBA.

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Anônimo disse...

Um motor de 40 nesse barco vinha a calhar. Não para seguir para Miami, mas, para tomar umas lá no furo do paciência. è ou não é??

Anônimo disse...

Essa "paixão" à distância por Cuba é realmente muito cômoda.
Queria ver esse "tesão" todo lá, enfrentando as filas de racionamento, as cadernetas de controle de comida e sofrendo caladinho.
Broxava rapidinho...

Poster disse...

Hahahahahaha,
Você tem razão, Anônimo das 10:21.
Se eles soubessem o que tem de bom lá no Furo da Paciênica, iriam a nado...
Abs.