domingo, 4 de outubro de 2009

A educação não tem prioridades


Existe uma idade ideal para se entrar na escola? Acredito que sim. Acho até que concordo com a nova Lei Estadual que foi sancionada no Rio de Janeiro, que prevê aumentar para nove anos o ensino fundamental, sendo 6 anos a idade mínima para o ingresso. Possivelmente, quem entra aos 6 anos na 1ª série não tem problemas de aprendizado.
Contudo, existem casos em que há a necessidade no adiantamento de crianças no início da vida escolar - são as chamadas crianças especiais. O grande problema é que os pais, querendo fazer seus filhos heróis, deixam em segundo plano aspectos essenciais para o desenvolvimento da criança, como aproveitar cada ciclo da vida em seu tempo.
Do nascimento aos 6 anos, a criança passa por várias fases importantes na infância, e essas fases são de inteira responsabilidade dos pais (a família). É quando começa a se processar o fortalecimento intelectual do infante. A criança, ao contrário do que muitos pensam, tem uma capacidade de absorver tanto conhecimento, que as informações passadas pelos pais, como ensinamentos, exemplos, atitudes, lendo historinhas adequadas, etc. são da mais alta significação.
O raciocínio acima seria o ideal e se poderia propagar aos quatro ventos, mas a realidade é completamente diferente. Revolução por leis e decretos não existem. O próprio entendimento do termo revolução, desgastado pelo tempo, é errônea, pois não se configuram tais mudanças e reformas previstas em termos de educação.
A compreensão do fenômeno da educação brasileira e ocidental nos remete para o início histórico que envolve a estratégia capitalista de dominação revestida de preconceitos, discriminações contra o povo que deveria ser mantido na ignorância e num processo permanente de alienação intelectual, cultural e política.
Há quem ache o Brasil na educação e na saúde, ao ser comparado a ilha caribenha de Cuba e ao Primeiro Mundo, como o Canadá, leva a pior; e sabem por quê? Enfatiza a condição profissional do professor brasileiro. Nossos docentes são menos treinados que muitos países, economicamente inferior a nós. Os melhores professores no Brasil têm em média desempenho abaixo da média dos professores de países desenvolvidos.
Dia desses, o jornal O LIBERAL publicou matéria com a seguinte manchete: "Pará tem 50 mil docentes sem formação". E complementa que, nos próximos dez anos, o Pará terá como desafio formar 41,3 mil professores que hoje atuam na rede pública de ensino básico sem formação adequada. Trata-se de uma situação constrangedora. A corrida aos bancos de universidade aumenta, mas os cursos ainda são poucos e alguns de qualidade duvidosa.
Um dos principais motivos para a estagnação e irrelevância é a dificuldade de se conseguir docentes com formação sólida, e quando existem desistem por falta de condições, estrutura e remuneração aviltante.
O recrutamento esbarra nos diversos estratos de controle criado ao longo dos anos, por causa da exigência crescente de manter bons mestres em suas fileiras. Já que da educação não seria, como não é possível, porque esta se fundamenta na luta pela liberdade do pensamento, pela autonomia cultural e pela independência espiritual de uma metodologia de pensar, do refletir, do argumentar por uma pedagogia da resposta na formação da cidadania democrática.
O ensino hoje na escola pública parece mais como um filho bastardo. Nesse mundo pluralizado, fragmentado e dividido a educação cívica e política praticamente inexiste. O ensino está comercializado sem que a patuléia tenha oportunidade de se emancipar.
Investir na educação pública é qualificar o professor, é estimulá-lo para uma educação continuada que garanta sua atualização numa civilização em constante mudança.
Se assim não for, O País continuará com a propaganda de êxitos estatísticos para o consumo externo, já que, internamente, os alunos continuarão uma trajetória rumo ao analfabetismo funcional sem saber ler e interpretar as linguagens do dia a dia. Assim, reproduz-se a crença de que a escola pública é empobrecida sob todos os aspectos didáticos e pedagógicos. A educação não tem prioridades. O que será da qualificação do ensino?

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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