Na FOLHA DE S.PAULO:
O Brasil espera que o novo presidente dos EUA respeite o princípio de não-intervenção e aceite a independência do processo de integração dos países da América Latina.
A expectativa sobre a sucessão americana foi manifestada ontem pelo chanceler Celso Amorim, que fez um balanço positivo das relações entre Brasil e EUA durante o governo de George W. Bush, apesar de algumas divergências.
Mas deixou claro que elas podem melhorar. "Uma política de não-intervenção, de aceitação de que a América Latina tenha seus próprios processos de integração será positiva e dará margem a um relacionamento mais adulto, não só com o Brasil, mas com outros países da região", disse o ministro, acrescentando que também torce para uma posição "mais flexível" em relação a Cuba.
Para Amorim, o vencedor da eleição de hoje terá de reconhecer que o mundo vive "um momento de transição muito importante", o qual exige novas estruturas de poder. "Não ouso dizer fim de uma era", disse o ministro. "Mas é preciso haver mudanças, não só na arquitetura financeira mas também na governança global."
Pensando nisso, o Brasil proporá na reunião de Washington, que tratará da crise financeira, a reforma das instituições financeiras, como FMI e Banco Mundial, para que os países em desenvolvimento ganhem mais representatividade.
Nos seis anos em que está à frente da diplomacia brasileira, Amorim disse que não houve nenhum mal-estar com o governo Bush. "Foram relações pragmáticas, mutuamente respeitosas, em que houve divergências sobre questões importantes, algumas de natureza global, como o Iraque, mas aí não havia o que fazer", diz.
Ele admite, contudo, que houve alguns "irritantes" nas relações entre os dois países. Um deles foi o protecionismo comercial dos EUA. Outro foi a decisão da Casa Branca de reativar a Quarta Frota para o Caribe e a América do Sul. "Politicamente, não é um bom sinal passar a tratar a região como uma região de risco, quando é uma região de paz."
No lado positivo, Amorim cita o esforço conjunto para a retomada da Rodada Doha de abertura comercial, após o colapso da crise surgida na reunião de Cancún, em 2003. Além disso, diz o ministro, a diplomacia americana sempre respeitou a opinião do Brasil em episódios de crise local, como no conflito entre Equador e Colômbia, e isso deverá continuar.
"O Brasil é o maior país da América Latina, tem presença e influência em vários foros internacionais e os americanos reconhecem isso e vêem essa liderança, de forma geral, positivamente", afirmou. "Eles terão de lidar conosco de forma positiva, quem quer que ganhe."
Amorim disse que o Brasil não pode preferir nenhum dos candidatos, mas deixou escapar que admira a trajetória de Barack Obama. "Cada um pode ter suas simpatias. Eu já disse que um presidente americano com uma avó africana é uma imagem forte para o mundo."
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