No AMAZÔNIA:
Garimpeiros e integrantes do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) ocuparam ontem por cinco horas a Estrada de Ferro Carajás (EFC), em Parauapebas. Desde às 7h30 da manhã cerca de 500 pessoas ocuparam a ferrovia impedindo o tráfego do trem de cargas e passageiros da Vale, depois de fazer refém o maquinista Raimundo de Souza Nepomuceno, de 43 anos. Armados de porretes e facões, os invasores ameaçaram incendiar a locomotiva caso o maquinista não abrisse as portas. Ao abrir as portas ele foi retirado à força da locomotiva e, depois da ocupação, libertado. O desbloqueio da ferrovia só ocorreu no início da tarde de ontem, quando os manifestantes entraram em acordo com agentes das polícias Civil, Militar e Federal, que negociaram a desocupação, considerada pacífica pela polícia.
Durante a desocupação a Polícia Federal autuou duas pessoas em flagrante pelo crime de desobediência. Os integrantes do MST voltaram aos acampamentos instalados há mais de uma semana às margens da estrada de ferro. Segundo a Polícia Civil, os manifestantes apresentaram uma pauta de reivindicação ao Comando da Polícia Militar, que será encaminhada ao governo do Estado. Na parte da tarde, em Belém, outro grupo de 100 pessoas do MST invadiram a sede da Vale, no bairro de São Brás. Por 20 minutos empregados da empresa foram impedidos de deixar o local.
Após a desobstrução da ferrovia em Parauapebas, a Vale informou que o trânsito de trens já estava normalizado. Esta foi a 9ª ocupação da Estrada de Ferro, em 13 meses, a média de uma a cada um mês e meio. A interdição de ontem já era anunciada há mais de uma semana, quando cerca de mil garimpeiros, junto com integrantes do MST, estão acampados às margens da rodovia. O acampamento foi montado para as futuras manifestações do chamado 'Abril Vermelho', manifestação do MST em protesto pelo massacre de Eldorado de Carajás, ocorrido há 12 anos.
Cerca de 300 manifestantes continuam a ocupação na sede da fazenda São Marcos, localizada na rodovia PA-275. Garimpeiros e sem-terra bloquearam a entrada da fazenda e não deixam ninguém passar. Segundo a polícia civil, não foi realizada nenhuma ação de retirada na fazenda, pois a situação requer o pedido de reintegração de posse pelo proprietário.
Nota se abstém de comentar as acusações
O governo do Estado não quis comentar as acusações da Vale. Limitou-se a servir a imprensa com uma nota, em que diz que 'vem mobilizando todos os esforços para preservar a paz, a segurança e o direito de trabalhar e de ir e vir de todos os seus habitantes'. Considera 'incabível' a ação judicial feita pela empresa. E garante que não é de sua responsabilidade prestar serviços de segurança pública a uma empresa privada.
Sobre as denúncias feitas pela Vale, a nota apenas diz que 'o governo do Pará reafirma seu compromisso de garantir a ordem e a justiça social', acrescentando que 'o Pará é uma terra de direitos iguais e, como tal, não permitirá atos que promovam a injustiça e a violência contra quem quer que seja'. Para justificar a propaganda dos direitos iguais, a nota lembra que o governo tem atendido reivindicações não só do MST como também, na mesma linha, mantém diálogo com a Vale, o que viabiliza 'um antigo sonho, que é o de termos no Pará uma grande siderúrgica'.
Para evitar danos às partes - MST e Vale - o governo do Pará, continua a nota, deslocou para Parauapebas, desde o dia 8 deste mês, um efetivo de 500 homens, além de autoridades da área de segurança pública. Avisa que os direitos serão garantidos, mas sem tolerância de abusos. 'O direito ao trabalho e à produção será garantido com energia, mas sem violência, à base do cumprimento da lei.”
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