Em O ESTADO DE S.PAULO:
Camilla Rigi, Diego Zanchetta, Rodrigo Pereira e Vitor Brandalise
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Embora clamassem por Justiça pela morte da menina Isabella Nardoni e por vezes ameaçassem linchar o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, a multidão de curiosos que ficou de prontidão em frente à casa do pai de Alexandre, no Tucuruvi, e no 9º Distrito Policial, no Carandiru, tinha como principal motivação o desejo de aparecer diante das câmeras de TV. Eram os movimentos dos cinegrafistas e produtores que ditavam os gritos e acenos dos curiosos, que permaneciam calados quando câmeras não estavam voltadas para eles.
Eram 7h40 quando o casal, que passou a noite em Guarulhos na casa dos pais de Anna Jatobá, chegou ao Tucuruvi. Durante a madrugada, dois homens foram detidos ao tentar pichar um muro próximo à casa dos Nardonis. Os rapazes foram levados para o DP e liberados.
Conforme se aproximava da hora marcada para o depoimento, o número de pessoas aumentava. O advogado Ricardo Martins chegou para acompanhar o casal às 9 horas e pediu respeito. "A família está sendo julgada com uma crueldade", afirmou. "É humilhante, desesperador, ter de contratar pessoas para ficar na entrada, para que se tenha condições de dormir", acrescentou. Desde a noite de anteontem três homens da empresa JM-Seg fazem a segurança da casa.
Por volta de 10 horas começaram preparativos para a saída de Alexandre e Anna Carolina. Uma viatura da PM chegou para dar apoio, mas a primeira tentativa do casal de deixar a casa foi tumultuada. Às 10h30, assim que o portão começou a subir, parte da imprensa entrou na garagem. Os poucos policias e os seguranças tiveram dificuldades para colocá-los para fora e o Vectra recuou.
No intervalo de 25 minutos, chegaram ao local 25 homens da Força Tática e do Grupo de Operações Especiais (GOE). As pessoas na porta pediam Justiça e acusavam o casal, aos gritos de "assassinos".
Anna Carolina foi a primeira a descer as escadas do sobrado, sob os escudos do GOE. Ela chorava muito. Alexandre veio logo em seguida, também protegido. Uma garrafa pet foi jogada e uma pedra atingiu o rosto do chefe do GOE, o delegado Luiz Antônio Pinheiro. Às 10h50, os carros saíram em disparada para a delegacia. A multidão que, segundo um policial, chegou a 300 pessoas incluindo os jornalistas, dispersou-se.
No 9 º DP, a multidão estimada em 150 pessoas pela PM recebeu o comboio com gritos "Justiça" e "assassinos". A vizinhança aproveitou para lucrar. A cabeleireira Jerry Magalhães, de 50 anos, alugou vagas na varanda e na laje do sobrado para equipes de TV e fotógrafos. Em apenas um dia, lucrou R$ 1,5 mil. "Serve para amenizar os prejuízos que tive desde que a investigação começou. O movimento aqui diminuiu 80%."
Poucos metros da cabeleireira, outra moradora aproveitou para fazer dinheiro. A aposentada Lina Martins, de 73 anos, alugou a cobertura do sobrado para duas emissoras de TV - R$ 500 cada um. "Para quem vive da aposentadoria (ela ganha R$ 415 mensais), é um bom dinheiro. Mas o que eu queria era dormir em paz. Aquilo só pára de madrugada", disse, apontando para gerador de energia de TV.
A maior parte dos curiosos de plantão era movida pelo desejo de aparecer. "Tudo que é evento eu compareço", afirmou o maratonista Hélio Dias, de 39 anos, que foi ao DP fantasiado de "anjo da paz" - uma bata branca de cetim e penas de galinha penduradas na manga. Ele chegou às 11 horas e passou o dia em pé, em cima de uma mureta - só saiu para comer uma marmita, às 15 horas. Era só um cinegrafista apontar a câmara para ele abrir "as asas".
"Eles têm de vir aqui e falar pra todo mundo se são inocentes ou não. É por isso que tá todo mundo aqui revoltado", bradou o barbudo Flávio Leandro da Rocha, de 50 anos, autodenominado "Bin Laden brasileiro da paz". "Quem não deve não teme", disparou, para na seqüência se virar de braços abertos para a multidão: "Falei bonito ou não? Cadê a salva de palmas para o que estou falando..."
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