segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O melancólico ocaso de 2014


As investigações da Operação Lava Jato e os acordos de delação premiada firmados são um exemplo para a justiça brasileira. Além de esclarecer o petrolão, a Lava Jato pode inibir desvios futuros e contribuir para a moralização da relação do poder público com a iniciativa privada. Mas é incompreensível a manutenção, por tanto tempo, da atual direção na maior empresa brasileira – mesmo após um turbilhão de denúncias mais que comprovadas de má gestão, corrupção dos processos licitatórios, cartel, entre outros crimes. É preciso nomear profissionais competentes, acima de quaisquer suspeitas, para tentar recuperar a imagem e o valor de nossa mais importante estatal.
Sem dúvida nenhuma, o Petrolão é o maior escândalo de desvio de recursos públicos da história desse país. Será que os altos executivos das empreiteiras envolvidas vão contar tudo? Não porque estão presos, e sim, porque finalmente começam a mudar os costumes relacionados ao uso criminoso do dinheiro público por políticos e empresários no País. Graças aos fatos atuais no ano que já estamos poderá se tornar mais digno para os brasileiros e sem muitos salamaleques, devemos muito ao juiz Sérgio Moro, esse grande magistrado que representa o novo Brasil que queremos.
A corrupção praticada por alguns ocupantes de cargos de direção da Petrobras exige atitudes firmes que os punam adequadamente. Os empresários que se locupletaram com a manipulação de verbas públicas também devem pagar pelos erros que cometeram. Tomado por empréstimo da escatologia cristã, recebeu o designativo de “Juízo Final” a fase aguda da Operação Lava Jato da Polícia Federal. Com o auxílio de delações e a luz de vultosos prejuízos financeiros enfrentados pela estatal, foram investigados crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de organização criminosa.
Diante de denúncias do Ministério Público recebidas pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, iniciaram-se dois novos processos criminais decorrentes da Operação Juízo Final. Num deles temos 25 réus acusados por atuações como representantes das nove maiores empreiteiras do País, organizadas em cartel para fraudar licitações, obter superfaturamentos e aditivos contratuais lesivos à Petrobras. O outro processo envolve recebimento de propina nas negociações de dois navios com sondas para perfurações profundas em águas africanas e do Golfo do México. E a mais aguardada das denúncias deverá ser apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e, ao que circula, deverão ser acusados deputados federais e senadores, esses detentores de foro por prerrogativa de função do Supremo Tribunal Federal (STF). Fala-se também em até dois governadores e, por força de conexão probatória, o foro privilegiado de deslocaria do Superior Tribunal de Justiça para o STF.
Nem a sensação flogística das condenações que se fazem presentes, nem no vendaval de irregularidades em que esses indivíduos se enquadram nos desdobramentos da Lava Jato, acenem com algum sinal de mea culpa. Pelo contrário, se dizem inocentes na maior das caras de pau. E mais escândalos que estavam submersos, começam a emergir: vêm aí os da Abreu e Lima, a de Belo Monte e outros também de grandes impactos, como em alguns governos estaduais e em milhares de prefeituras espalhadas pela Terra Brasilis.
O que mais nos assusta é o péssimo horizonte econômico que ameaça fazer de 2015 um período amedrontador. Há que se ter lideranças políticas capazes de serem regidas pelas boas normas republicanas. As manifestações populares – fortes em 2013 – e o apertado resultado eleitoral de 2014 indicam que o PT perdeu a primazia das ruas e a inserção no movimento social agora também faz efetivamente parte da agenda oposicionista. Nuvens pesadas se formam nos horizontes econômico, político – e até climático. Agora, vamos aguardar a fase judicial-processual, com contraditório e ampla defesa.

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SERGIO BARRA é médico e professor

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