terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O mundo precisa reduzir suas fraturas


Estamos no início de 2015 com uma incômoda quantidade de sinais de uma tempestade perfeita na economia mundial. Poucos países conseguirão algum êxito. Espera-se uma constrangedora e rara combinação de baixo crescimento, desemprego e inflação lá pela estratosfera. O mundo está abalado por tantos escândalos de corrupção. Não é um cenário bonito. Mas existe a possibilidade de superar esse desafio. Tomara ser possível que a queda no preço internacional do petróleo, impulsione uma recuperação dos Estados Unidos e da China, hoje, o bimotor do mundo.
A crise que tem abalado diversos países, pode ser também a oportunidade para as sociedades amadurecerem medidas para reduzir o peso morto das maquinas estatais que consomem o grosso de impostos, limita em muito os investimentos em produtividade e em ações sociais. Vivemos um período de instabilidade sem precedentes. Há enormes faixas de territórios dominados por agitação, principalmente algumas revoluções, muito rancor e perda do controle do Estado. A volatilidade decorre da coincidência de várias mudanças estruturais importantes no sistema internacional. O Ocidente não é mais dominante, os impérios acabaram.
Está havendo um despertar político global: uma tomada de consciência sobre as injustiças, desmandos, desigualdades e explorações. É até comovente ver esse despertar produzir ondas como a Primavera Árabe. Mas não significa que é um grande passo rumo à democracia. Em casos como na Europa Central, onde a democracia tinha raízes mais profundas, há um movimento contrário à democracia. Às vezes, essas revoltas aumentam o extremismo e o fanatismo, como o ataque a liberdade de expressão que acabou em tragédia, um ataque covarde que matou vários jornalistas acontecido a um jornal francês. Esse atentado na França ainda ver ter muito desdobramento. Um ataque bárbaro e injustificável, feito em nome do Islão. Vemos um mundo transtornado em que há um enorme tumulto, fragmentação e incerteza, em que não há uma única ameaça central, mas várias ameaças diversificadas.
O que diferencia o período atual dos períodos dramáticos como os anteriores à Primeira e a Segunda Guerra Mundial? Há, com certeza, muitas similaridades. Em 1914 e em 1939, as grandes potências tinham uma visão estreita do mundo. Seus líderes estavam preocupados com questões imediatas, acreditavam que poderiam resolvê-las com o uso da força. Nenhuma das potências atuais tem essa visão, nem mesmo a Rússia, que ladra, mas não morde. Os EUA perderam poder. A China com o seu jeitão, observa as turbulências geopolíticas a distância. Há, também, os Estados-nação do Oriente Médio, que têm alguma viabilidade geopolítica histórica: Turquia, Irã, Israel e Egito; as potências asiáticas de segundo escalão, como Japão e Índia. É exatamente essa profusão de protagonistas que garante alguma estabilidade residual. Há um despertar político global, sim.
Os EUA se equipara a ascensão da China em termos de economia. Em breve, isso ocorrerá no âmbito militar. A conduta dos russos também contribuiu para maiores incertezas. O fracasso da Europa em desenvolver uma política e um perfil militar coeso reduziu a capacidade americana de agir como um poder decisivo no mundo. A fragilidade americana fica evidente na incapacidade de dar estabilidade à política dinâmica, arrogante e imprevisível do Oriente Médio.
Os esforços americanos para produzir a paz entre Israel e Palestina fracassaram, e a política do Oriente Médio se tornou cada vez mais violenta. Os EUA ainda são preeminentes. Mas não são mais capazes de exercer poder hegemônico. A inepta liderança de George W. Bush contribuiu para esse desenvolvimento negativo. A invasão ao Iraque desmoralizou os EUA. A Rússia ainda pensa em Stalin e cada vez mais tenta controlar seus antigos satélites soviéticos. O expansionismo de Vladimir Putin é preocupante. Estamos num mundo fraturado como não se via há décadas.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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