quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um olhar pela lente


Nas fotos de David Alves, da Agência Pará de Notícias, imagens do encontro – o primeiro depois das eleições – entre a governadora Ana Júlia Carepa e seu sucessor, o tucano Simão Jatene.
Tudo, como se viu, republicanamente.





Até agora, pelo menos.

7 comentários:

Anônimo disse...

A refundação capitalista do Brasil na era Lula e o malogro da governadora do PT no Pará

A revolução burguesa retardatária que consolidou o capitalismo brasileiro foi de acordo com Florestan Fernandes muito diferente dos processos clássicos ocorridos na Europa. O Brasil na concepção do talentoso sociólogo teria experimentado uma versão peculiar de transformação revolucionária, pois a burguesia nativa não desenvolveu com radicalidade histórica os fundamentos éticos e políticos do liberalismo de matriz iluminista, preferiu orientar-se pela conveniência institucional do patrimonialismo, limitando qualquer ampliação das arenas públicas democráticas.

Subserviência incondicional diante do imperialismo ianque, expansão medíocre do consumo das camadas subalternas da sociedade, miséria de acumulo cientifico - tecnológico e principalmente a consolidação de um Estado (aparelho institucional) de favores e não de direitos, foram apenas algumas das características produzidas pela via brasileira da revolução burguesa.

Ao contrario do mito político corrente, a odisséia populista não representou qualquer esforço autonomista significativo para o desenvolvimento capitalista brasileiro, apenas pactuou sobre os termos da dependência, sem alterar sua configuração histórica.

E o governo Lula? Apenas uma versão enxuta do populismo? A questão não é tão simples, nem esquemática, Lula é uma liderança política sui generis que consolidou sua influência explorando todo potencial do PT, partido que foi consolidado pelo vazio político promovido pela crise das organizações tradicionais da esquerda na década de 80. Lula não foi produto do oportunismo cezarista latino, sua liderança e ascensão no Brasil significam um emblemático protagonismo coletivo que articula os inquestionáveis atributos de seu carisma personalíssimo com os méritos organizacionais do PT.

O governo Lula-PT promoveu um processo de transformação reformista do capitalismo brasileiro, disciplinando o metabolismo desenvolvimental do capital sem limitar o mercado e seus protagonistas hegemônicos, a saber: a burguesia e o latifúndio. Garantiu o que Marx considerava fundamental na lei geral da acumulação capitalista ao influenciar o consumo proletário e a produtividade mercantil.

Do ponto de vista político, aplicou o bom velho antídoto da conciliação passiva entre hegemônicos e subalternos, colocou o boné do MST, porém aceitou com orgulho o titulo de estadista global oferecido pela OMC.

O Brasil foi refundado pela lógica do capitalismo e do mercado, oferecendo como recurso compensatório as massas excluídas um conjunto de políticas sociais totalmente funcionais a própria lógica de acumulação da burguesia. Foi uma habilidosa e original aplicação do receituário social democrata sem qualquer intenção socialista.

No Pará o antinômico governo do PT hegemonizado pela democracia socialista foi facialmente enfeitiçado pelos encantos clientelistas do estado burguês, o núcleo burro era a imagem do improviso político, inviabilizando a gestão diante do oportunismo de alguns oligarcas locais e da oposição fascista liderada pelo PSDB.

A governadora não foi capaz de exercer sua liderança, nem no governo nem na sociedade, foi sabotada por sua assessoria e pelo TEA PARTY paraense (PSDB e PIG) não conseguindo transformar em capital político suas ações de governo.

O resultado foi a eleição do déspota Simão, tradicional representante das oligarquias locais, que apenas exercerá o papel de marionete oficial da burguesia.

Diferente de Lula, a governadora do PT não foi capaz de utilizar atributos políticos próprios ou os méritos e bons quadros do PT local para derrotar o ultraconservadorismo da direita paraense.

Anônimo disse...

Lendo o comentário do Anônimo das 17:58, fiquei a pensar como são escatológicos "nossos marxistas" (ou o que restou deles)... Chamar Simão Jatene de "déspota, representante das oligarquias locais" me remeteu, de imediato, aos manuais de marxismo que lia nos idos dos anos 80.

É simplesmente espantoso que alguns permaneçam presos a essas ilusões ideológicas, mas, como bem disse Jorge Luís Borges, "o marxismo é ópio dos fanáticos."

Aliás, o autor do texto, sem se dar conta disso talvez, não percebeu o quanto seu pensamento político (sic) ficou velho, ultrapassado e, por que não dizê-lo?, ultraconservador ao opor a "democracia burguesa" ao "socialismo"; com as categorias doutrinárias que trabalha, tudo que contrariar a marcha inexorável do socialismo (dele, claro! Mas qual socialismo? Alguém ainda acredita nisso?) rumo à vitória - está escrito, desde o Manifesto Comunista de Karl Marx, que isso acontecerá (como se a História marchasse num único sentido!) com a conseqüente ruína do capitalismo desumano, perverso e explorador - é ultraconservador, serve às elites ou oligarquias locais associadas ao capital internacional, etc.

Puxa vida, como são poderosos o sentimento de autoilusão e a recusa de se livrar dos dogmas do passado!!! Trata-se, por certo, de uma patologia grave e está a exigir tratamento imediato - disso, não tenho dúvida.

Continue, PB, publicando esses textos, pois, como disse,permitem-nos revisitar o passado e rir de quem ainda acredita em ideologias mortas (só faltou ele(a) citar "Esquerdismo, doença infantil do comunismo", de Lênin, mas quem sabe na próxima?).

Anônimo disse...

Resposta ao anônimo

O suposto anacronismo de meus comentários tem haver com a “utilização dogmática do marxismo”, inconciliável com a “boa” leitura da conjuntura política paraense, de acordo com meu crítico, o processo histórico foi definitivamente revogado pela consolidação global do capitalismo, valores tais como: igualdade, justiça social e equidade são figuras do discurso démodé da esquerda, as análises das tendências estruturais, dos processos econômicos globais e das monumentais desigualdades sociais do capitalismo periférico, não teriam qualquer utilidade intelectual para orientar as escolhas públicas e o pensamento político refinado.

No entanto, meu enfático crítico não confere importância aos argumentos específicos que articulam com a realidade os “dogmas marxistas” utilizados no texto. Vejamos os pontos cegos de sua incisiva crítica:

- fanáticos não precisam de qualquer psicotrópico para destilar seus insanos fundamentalismos, pelo contrario, a alienação política, fundamentalista ou não, é propiciada pela ausência de referências intelectuais, o alienado não exercita seu pensamento analisando e criticando a realidade, apenas aceita as versões hegemônicas.

- não utilizei o conceito de democracia burguesa, porém, a referência de meu crítico anônimo foi muito útil, pois o sistema político brasileiro é realmente organizado dentro dos limites institucionais e históricos da democracia burguesa. Quantos representantes das camadas subalternas estão no parlamento? E da máfia do “agronegócio”? E da burguesia? Queres comparar, eu nunca ouvi falar da bancada dos excluídos no congresso.

- quem afirma que no governo Lula o Brasil foi refundado pela lógica do capitalismo não foi a esquerda, nem o MST ou István Mészáros, foi a OMC Organização Mundial do Comércio com todo apoio de lideranças mundiais como: Hu Jintao, Pascal Lamy e Dmitri Medvedev, no Brasil Delfin concorda.

- no que diz respeito a política paraense, quais os principais beneficiados pela eleição do déspota Simão? O MST? Os servidores públicos? A população em situação de pobreza? Ou os grandes grupos econômicos e latifundiários do Pará? Leia o diário oficial do estado no governo fascista de Simão, a resposta é fácil.

Creio que meu ácido crítico seja discípulo do dogmático Francis Fukuyama e concorde com o ceticismo conservador da direita.

Anônimo disse...

É, como disse Jorge Luís Borges, "o marxismo é o ópio dos fanáticos."

De resto, falta conhecimento histórico ao comentarista porque, desde a Idade Média, déspotas nunca foram eleitos pelo voto direto, como o foi Simão Jatene (é infantil essa tentativa de satanizar o adversário que saiu vitorioso das urnas - é infantil e ridículo).

E, depois, chamar Simão Jatene de "fascista" ultrapassa todos os limites do bom senso e da razoabilidade (no fascismo, não havia eleições diretas, por exemplo, dentre outros mecanismos institucionais típicos da poliarquia).

Com gente assim, PB, fica difícil estabelecer qualquer discussão minimamente racional e, portanto, proveitosa. Desisto, pois vivo no século XXI e não na primeira metade do século XIX.

Anônimo disse...

Resposta ao anônimo

O patido fascista venceu as eleições parlamentares italianas de 1924 conquistando maioria absoluta e Mussolini foi nomeado chanceler legalmente, alias, Gramsci foi eleito deputado federal no referido pleito.

Os fascista foram fortemente apoiados, inclusive com recursos financeiros, pela burguesia italiana.

Em relação ao conceito de poliarquia elaborado por Robert Dahl em seu influente "Poliarquia: participação e oposição" não conheço qualquer esforço sistemático e exitoso para adaptá-lo a realidade da periferia capitalista, o própria Dahl não realizou nenhuma reflexão com este objetivo.

Anônimo disse...

Vc não conhece porque não leu o livro A Poliarquia, companheiro. Ele, Robert Dahl, cita, por exemplo, o populismo peronista como causa do atraso institucional da Argentina, que no início do século XX era um país rico e hoje é um país pobre. Leia os clássicos e aprenda com eles.

Se vc quiser, eu cito a página em que ele cita o caso peronista.
Mas quero ver se vc faz isto antes de mim (não fique só debruçado sobre o google, que é uma ferramenta importante, mas fornece, não raro, informações fragmentadas).

Por último, ainda não entendi por que Simão Jatene é fascista - será que é por que ele é "burguês" e, em sendo assim, é potencialmente um aliado do fascismo, como sugeres no último comentário? Esse raciocínio não é - desculpe-me a franqueza - um pouco primitivo?

Até onde vejo, o PSDB não é uma organização paramilitar e não tem, portanto, hordas de camisas negras para defender a instauração de um Estado Integral entre nós.
O PSDB respeita as regras do jogo democrático (na minha opinião, até mais do que o PT).
Portanto, esclareça por que Jatene é um fascista, se puder, é claro.

Anônimo disse...

reposta ao anônimo

Não sou pedante, portanto não responderei suas grosserias, prefiro o debate teórico e político.

Sobre Robert Dahl, estudei alguns de seus textos motivado pela simples obrigação acadêmica, especificamente sobre o "Poliarquia" afirmo que está inscrito na tradição fundada por Weber e Shumpeter, o denominado elitismo democrático, que converteu a democracia em método de seleção institucional intra-elite.

De acordo com Shumpeter, “A democracia é um método político, isto é, um certo tipo de arranjo institucional para chegar a uma decisão política (legislativa ou administrativa) e, por isso mesmo, incapaz de ser um fim em si mesmo, sem relação com as decisões que produzirá em determinadas condições históricas” (capitalismo socialismo e democracia, 1982)

Shumpeter não representa a experiência democrática como um padrão de estruturação da história, com substância para manter ou transformar determinada sociedade.

A intervenção teórica de Dahl é uma versão aprimorada e bem sofisticada do elitismo democrático, para Dahl a democracia é uma necessidade civilizatória com potencial de organização dos processos de legitimação e institucionalização das práticas decisórias.

Esta tese é mantida em seu artigo "Porque mercados livres não bastam" publicado no Brasil em 1993pela revista do CEDEC. Seu argumento nuclear é interessante: para Dahl os políticos eleitos "nunca são" (poliarquia, 1997:43, EDUSP) uma amostra representativa de determinada fração da sociedade, no entanto a participação relevante nos processos eletivos contribui decisivamente para institucionalizar o modus operandi da legitimidade política democrática ou poliárquica.

Dahl faz referência a Argentina no poliarquia, simplesmente para demonstrar que as diferentes formas de confiança e convicção dos ativistas políticos na legitimidade da poliarquia independe das características soció-econômicas de cada sociedade. Não é esboçada qualquer adaptação teórica considerando o capitalismo periférico no seu conjunto.

Uma interessante exploração da categoria poliarquia com informações da realidade politica brasileira em perpectiva comparada foi feita por Wanderley Guilherme dos Santos, em seu artigo "Poliarquia em 3D" (revista DADOS, 1998)

Em relação ao caráter político das organizações neofascistas, o fato, é que a maioria disputa as eleições nos tradicionais centros eleitorais da europa e EUA, é só pesquisar a história da Azione Sociale na Itália, da Front national pour l'unité française na França e do performático Tea party nos EUA.

No caso de Simão "o déspota", sua gestão foi emblamática no apelo fascista, vejamos:

- Tratou os servidores públicos como vassalos, não aceitou qualquer proposta de diálogo.

- como fiel discípulo do tirânico Almir tratou os movimentos sociais (MST, MAB, SINTEP, SEPUB) como hordas bandidescas.

- foi pródigo com a burguesia, seu governo foi uma verdadeira plutocracia, se não acreditar leia o diário oficial do estado na gestão.

- desferiu preconceitos e calúnias contra a oposição.

- interditou qualquer forma de participação popular ou de democracia direta em seu governo.

- foi marionete das oligarquias do campo e da cidade.

Debater é necessário, pero sin perder la ternura jamás.

Estou aberto para discutir Dahl, Shumpeter, Olson ou qualquer outro intelectual que não seja marxista.

Sou convicto e não sectário, gosto do bom debate.


Perdão pela forma das citações!